Gatos que circulam pelas ruas da região do Jardim da Luz, em Embu das Artes, na Grande São Paulo, estão sendo mortos por cachorros da raça pit bull que, segundo denúncia, são negligenciados há meses pelo tutor e soltos propositalmente, especialmente durante a madrugada, para que matem outros animais.
Preocupado com os gatos que são mortos sem chance de defesa e também com a vida dos pit bulls, que por sofrerem preconceito por parte da sociedade podem ser alvo de ações de retaliação, um protetor de animais da região que preferiu não se identificar recorreu à ANDA para denunciar o caso.
Segundo ele, além de serem negligenciados, os pit bulls são explorados para reprodução e venda. “Estão matando vários animais que encontram pela frente. Já mataram vários gatos em situação de rua e domésticos. O tutor não faz absolutamente nada”, desabafou.
“Os vizinhos estão denunciando, mas até o momento nada foi feito”, completou o protetor, que disse ter denunciado o caso ao grupo Pits Ale, que resgata cachorros da raça pit bull, e ao delegado Bruno Lima, deputado estadual de São Paulo filiado ao partido político PSL e fundador do movimento Cadeia Para Maus-tratos.
“Até agora não tivemos resposta de nenhuma autoridade e parece que o Pits Ale está super lotado e não vai vir resgatar. Pensei em fazer uma força tarefa e pedir a ajuda de ONGs para cada uma assumir um animal, mas preciso de ajuda para divulgar o caso”, relatou o protetor.
“São três pit bulls adultos e um filhote. O cara solta os cães de madrugada para matar os gatos. Nessa madrugada, mataram mais três gatos. O pessoal está assustado e ninguém faz nada. Se cada ONG ficar com um, podemos fazer o resgate deles e levar o tutor para a cadeia. Sozinho não tenho como seguir adiante”, acrescentou.
Uma moradora da região que também preferiu não ser identificada relatou ter entrado em contato com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Embu das Artes para pedir que os pit bulls fossem resgatados. “Liguei na Zoonoses de Embu das Artes, fiz uma denúncia. Liguei chorando, desesperada. A menina disse que ia providenciar, que iam até o endereço para ver. Sei que os bichinhos não têm culpa, é o instinto deles, mas a GCM foi lá e não resolveu nada”, afirmou.
Em uma publicação nas redes sociais, internautas alertaram uns aos outros sobre o caso e, inclusive, ameaçaram os cachorros de morte. “Uma vez uma mulher aqui do Santo Eduardo que costuma deixar seu cachorro solto na frente da escola Delphina, [sic] então eu estava levando meus filhos na escola e ele mordeu meu filho de 2 anos na época, abriu a mãozinha dele e ele teve que tomar 4 vacinas antirrábicas, que dói muito. Ela nem quis atender o portão. Eu já disse, na próxima vez que essa merda rosnar eu mato na paulada. Aí a louca sou eu. Tem coisas que a gente tem que resolver mesmo, autoridade nenhuma se mete”, escreveu uma internauta. “E vocês estão esperando o que? Matem essas pestes. Porque se fosse aqui já estava morto”, ameaçou outra.
Preocupados, moradores da região registraram vídeos com imagens fortes (confira ao final da reportagem) nas quais os cães aparecem matando os gatos. Interessados em auxiliar no caso podem entrar em contato com a ANDA pelo e-mail [email protected].
Lei Sansão
Sancionada no final de 2020, uma nova lei de proteção animal aumentou a pena para crimes cometidos contra cachorros e gatos no Brasil. Antes, esses crimes eram punidos com, no máximo, um ano de detenção, pena que era convertida em alternativas como a prestação de serviços à comunidade.
A legislação recebeu o nome de “Lei Sansão” em homenagem ao pit bull Sansão, que foi brutalmente torturado em Minas Gerais, tendo as duas patas traseiras decepadas. Paraplégico, ele não apenas se recuperou e provou o quão forte é capaz de ser, como serviu de incentivo para a aprovação da lei.
Com o aumento da pena, os criminosos que submeterem cachorros e gatos a maus-tratos poderão ser presos por um período de dois a cinco anos. Eles também poderão ser punidos com multa e com a proibição de tutelar outros animais.
A medida, no entanto, não protege os animais de outras espécies, excluindo a fauna silvestre e animais que são explorados pela sociedade, como galos, porcos, bois e galinhas.
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