Dentro de um oceano de cães e gatos abandonados, existe uma parcela que padece ainda mais quando vai parar nas ruas. São os que tiveram a “infelicidade” de nascer pit bull, os que sofrem de algum problema de saúde, aqueles que entraram na terceira idade, ou, simplesmente, os vira-latas comuns, pretinhos ou beges.
Essas são algumas das vítimas de uma sociedade que não se prepara antes de trazer um mascote pra casa, que não previne as crias ou, simplesmente, enjoa e descarta o pobre bicho sem nenhuma razão ou diante da primeira dificuldade.
Isso sem falar no descaso das autoridades, que poderiam impedir as fábricas de filhotes e o comércio sem escrúpulos que despeja mais e mais animais, alimentando o problema. Na cidade de São Paulo, a lei 14.483/07 exige que todos os animais vendidos ou doados sejam castrados. Mas quem fiscaliza?
Na esfera estadual, a lei 12.916/08, do deputado por São Paulo, Feliciano Filho, veta a eutanásia de animais sadios pelos CCZs. Uma vitória? Seria, se as prefeituras estivessem preparadas para prevenir o problema e abrigar os animais, às vezes por longo tempo, de forma digna.
Sejam eles confinados ou abandonados ao seu próprio destino, esses animais amargam o drama da rejeição.
Raça rotulada
Um triste símbolo do momento caótico que estamos vivendo são os pit bulls. Antes um fenômeno mundial, hoje eles lotam os CCZs do país e, quando têm a chance de cair nas mãos de um bom protetor, amargam longo período antes de serem adotados. Em 2009, o CCZ paulista contabilizava 120 pit bulls, mais de um terço das 350 vagas disponíveis – não precisa ser bom em matemática pra ver que são números assustadores.
A ARCA Brasil destacou o drama que a raça enfrenta há pelo menos 10 anos e criou um cartaz com informações básicas para candidatos e futuros tutores das chamadas raças “potencialmente agressivas”. O material foi distribuído em todo o país como encarte da revista Nosso Clínico, podendo ainda, a qualquer momento, ser solicitado por correio a ARCA Brasil.
De acordo com fonte do CCZ de São Paulo, atualmente o órgão divulga os pits mansos em feiras de adoção.No entanto, a raça ainda sofre nas mãos de pessoas inescrupulosas e nas rinhas – que ainda persistem.
Velhinhos e deficientes
O questionamento da fundadora da ONG Solidariedade A Vida Animal (S.A.V.A.), Arlete D. Martinez, diz tudo. “Se há preconceito com humanos, que dirá com os animais? Se os saudáveis são abandonados, imagine os deficientes ou idosos?”
Realista, Arlete não possui abrigos, os animais recolhidos são colocados em lares transitórios, apesar de, às vezes, precisar dizer não. “As pessoas acreditam que, por sermos uma ONG temos condições de resgatar em qualquer situação, o que não é verdade”, desabafa Arlete. “Muitos tutores querem se desfazer de seu cão ou gato por estarem ‘velhos demais’, isso, infelizmente, é comum”, complementa.
O abandono de idosos na capital paulista é muito grande e eles hoje representam 30 a 40% dos abrigados no CCZ. “Para promover a adoção, nos valemos de um arumento emocional; explicamos que são animais mais calmos, que não vão comer móveis, destruir a casa e, mesmo assim, as pessoas não querem um animal com mais de 7 ou 8 anos”, revela nossa fonte no órgão.
O S.A.V.A atende principalmente animais que foram atropelados, abandonados, que estão doentes ou que sofreram maus- tratos. E isso inclui os deficientes, que necessitam de cuidados especiais, como acupuntura, fisioterapia. “Eles podem levar uma vida normal apesar de suas limitações, muitos deles foram mutilados nas ruas ou pelos próprios tutores”, conta Arlete Martinez.
Boris e Sissi, resgatados e adotados
Segundo Arlete, seu trabalho é mostrar que adotar um animal especial e dar a ele vida digna é perfeitamente possível. Ela não tem um número certo dos peludos que já resgatou, mas muitos hoje atuam em clinicas de reabilitação para idosos e crianças – ou seja, mesmo com um passado sofrido, eles ainda são capazes de retribuir de forma generosa.
Futuro
Informação e ações públicas são fundamentais para diminuir esse drama. Velhinhos, cães com fama de mau, deficientes, pretos, não importa, eles contam com a sociedade. Se você quer ajudar, não compre, adote. E castre seu animal, não abandone, zele por sua saúde e cobre as autoridades, principalmente as recém eleitas que levantam a bandeira da causa animal. Está na hora de agir!
Fonte: ARCA Brasil