Colaboradoras contam o drama que eles viveram durante a desocupação
A reintegração de posse do terreno da comunidade do Pinheirinho – em São José dos Campos, interior de São Paulo – aconteceu no fim de janeiro, mas continua gerando polêmica.
A ação policial retirou mais de 5.000 pessoas que moravam no local e deixou vários animais mortos. Mas afinal, onde foram parar os bichos?
Segundo a médica Marília Toledo, na favela foram encontrados porcos, cabras, cavalos, cachorros, gatos e aves, e muitos morreram durante a ação da polícia. “Moradores não tiveram tempo de tirar os animais. Muitos deles, que tentaram se esconder dentro das casas, foram mortos a tiros embaixo dos escombros.”
Marília diz que os animais resgatados – mais de 600 – , foram encontrados em sua grande maioria debilitados, assustados e machuados. “Cheguei a cuidar de um filhote de cerca de 45 dias de vida com traumatismo craniano. Um dos animais que ainda estão comigo chegou para mim com muita miíase e magro”.
A médica ainda conta que os animais dependem de pessoas que se solidarizaram com a causa. “Estamos castrando, vacinando e vermifugando esses animais para ajudar na doação.”
Marília também disse que os animais inicialmente foram abrigados em um haras e de lá foram redistribuídos e para a CG (Casa dos Gatos). “Outros animais estão em casas de voluntárias e alguns foram recolhidos e estão sob a tutela de ONGs”.
De acordo com a colaboradora e estudante de nutrição Joana de Melo Almeida Gil, de 29 anos, até hoje é possível encontrar restos desses animais no local da desapropriação. ” A prefeitura diz que retirou 240 animais e que voltou lá 15 dias depois e não havia mais nenhum bicho. Desses 240, sabemos que pelo menos 100 já morreram, pois não tiveram o cuidado de separar os animais doentes dos sadios”, conta.
A colaboradora e professora de educação física Francini Vollrath, de 29 anos, revela que existem capivaras e lontras no Pinheirinho. “Eu mesma vi e filmei esses animais. Nem a prefeitura tinha conhecimento. Então eu liguei para eles recolherem os bichos, mas até agora nada foi feito”.
Veterinária
A médica veterinária Pollyana Christina M.S Coelho, de 27 anos, diz que se tornou colaboradora no primeiro dia de resgate dos animais da comunidade e que se dispôs a cuidar dos animais e dar os socorros de que eles precisavam. “Entraram em contato comigo e perguntaram se eu poderia avaliar alguns animais, e eu aceitei. E até hoje cuido deles”, revela.
“Sou veterinária, e escolhi essa profissão por amor. Amo os animais, amo ajudá-los e não poupo esforços para isso. Tenho passado meus horários de ‘folga’ dedicados os animais do Pinheirinho que tanto sofreram e hoje precisam de carinho.”
“Não adotei nenhum, pois já tenho muitos animais em casa. Mas atualmente estou com três gatos em casa que estão em recuperação: um que foi encontrado soterrado, outro que estava embaixo dos escombros e um terceiro que veio ainda filhote quase recém nascido, e que hoje inspira cuidados”, completa.
Prefeitura
Segundo a Prefeitura Municipal de São José dos Campos, logo após a desocupação da área foram recolhidos cerca de 200 animais. “Parte deles continua no canil construído recentemente no CCZ (Centro de Controle de Zoonoses). Muitos já foram retirados pelos tutores e outros adotados”, alega a assessoria de imprensa da instituição.
Amor aos animais
Marília conta que os animais possuem uma energia e uma pureza sem a qual ela não conseguiria viver. “Acho que eles ainda possuem muito do que nós seres humanos perdemos com a nossa suposta ‘evolução’. Gostar de animais e respeitá-los é uma questão de caráter. Maltratar ou torturar animais na infância, por exemplo, é um grande indicativo do diagnóstico de sociopatia”.
Fonte: Band