Seis pessoas foram indiciadas pela Polícia Federal (PF) em uma investigação que apurou um suposto esquema de envio ilegal de animais para criadores particulares por meio do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Rio Grande do Sul.
Em troca, eles receberiam até R$ 20 mil por negociação. O inquérito da Operação Celeno, que teve mandados cumpridos em dezembro de 2024, foi entregue nesta sexta-feira (09/05).
A PF não divulgou os nomes dos envolvidos, mas a RBS TV apurou que um responsabilizados é o ex-superintendente substituto do Ibama no RS e ex-chefe do Cetas, Paulo Guilherme Carniel Wagner. Também é apontado como participante do esquema o analista ambiental do Ibama Emerson Strack Skrabe. Eles estão afastados administrativamente das funções e há pedido da PF para um afastamento permanente.
Segundo a investigação da Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente da PF, os suspeitos ofereceriam aves retiradas ilegalmente do Cetas a interessados em obter registro como criadores comerciais.
Uma dessas aves, uma harpia, foi levada por um criador para apresentações, com cobrança de ingressos, em São Francisco de Paula, diz a PF.
O inquérito aponta que o grupo alegava se tratar de um processo de reabilitação dos animais, mas, na prática, utilizava essa justificativa para encobrir uma suposta rede de fraudes, incluindo a emissão irregular de autorizações, manipulação de sistemas de controle e alterações fraudulentas nos registros dos plantéis.
A delegada responsável pelo inquérito, Jeanie Tufureti, revela que, em troca, os envolvidos recebiam pagamentos. Segundo ela, a PF identificou depósitos nas contas do ex-chefe do Cetas através da quebra de sigilo bancário obtida junto à Justiça Federal.
Depoimentos de testemunhas do inquérito reforçam a suspeita.
“Nós vimos alguns ganhos, ainda que não de grande monta, como um depósito de R$ 20 mil para um dos servidores. O objetivo era esse lucro. A gente investiga ainda outras formas que esse dinheiro pode ter sido passado para os servidores, mas a gente tem depoimentos de pessoas que até foram iludidas, achando que realmente seriam legalizadas junto ao Ibama e pagaram R$ 10 mil, R$ 20 mil a um intermediador dos servidores, que faria essa comunicação com o pessoal do Cetas”, conta a delegada Jeanie.
O inquérito foi remetido pela Polícia Civil ao Ministério Público Federal (MPF), que deve avaliar se oferece denúncia à Justiça, pede mais investigações ou arquiva o caso.
Maior ave do Brasil desviada
Um dos animais que teria sido traficado seria uma harpia, a maior ave de rapina das américas, que pode chegar a um 1,2m de altura e 2m de uma ponta de uma asa a outra. Em 2022, o Jornal do Almoço mostrou em reportagem um animal da espécie trazido pelo então diretor do Ibama para o RS.
Na entrevista da época, ele alegou que seria reabilitado e depois reintroduzido na natureza. Conforme a PF, no entanto, o bicho, na verdade, foi mantido em cativeiro e seria usado para espetáculos em Gramado.