Dez horas e trinta minutos: esse é o tempo de deslocamento para transportar animais até a uma base de estabilização da Petrobras caso ocorra vazamento de petróleo durante de um poço no bloco FZA-M-59, na bacia da foz do Amazonas, no litoral do Amapá. O tempo, segundo o IBAMA, considera o “melhor cenário”, e só poderia ser cumprido se o derramamento ocorresse durante o dia. E se os animais fossem resgatados nas primeiras horas.
A estimativa é parte do parecer emitido pelo órgão ambiental no fim de outubro do ano passado para rejeitar o pedido de licença feito pela petroleira para perfurar um poço na área, destaca Paula Ferreira no Estadão. O IBAMA informou que o tempo foi estimado com base nas informações contidas no plano elaborado pela própria Petrobras.
Procurada, a petroleira não comentou especificamente o número de horas destacado pelo órgão ambiental. Mas disse que o plano previsto para a foz do Amazonas terá seis embarcações dedicadas à fauna, “equipadas com materiais, recursos e profissionais, incluindo veterinários, preparados para dar todo o atendimento necessário, seguindo integralmente o Manual de Boas Práticas do IBAMA”. Noves fora, nada.
Não é o único dado relacionado à foz do Amazonas que mostra o enorme risco de se explorar combustíveis fósseis na região, de altíssima sensibilidade ambiental. No processo de licenciamento, a própria Petrobras indicou que um vazamento poderia atingir a costa de 8 países e dois territórios franceses, sem falar na costa do Amapá, que abriga imensos manguezais. Situação confirmada por um estudo feito no ano passado pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA), em parceria com o Greenpeace.
Mas nada disso abranda a sanha dos defensores da exploração de petróleo no Brasil “até a última gota”. Não bastasse o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, ter dito no início deste mês que o IBAMA vai liberar a licença para a Petrobras, o que não foi confirmado pelo órgão ambiental, mais um membro desse “time” mostrou as garras: Waldez Góes, ministro da Integração e Desenvolvimento Regional.
Góes se encontrou com a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, na 3ª feira (21/01) para discutir os investimentos da petroleira. Antes da reunião, porém, em entrevista à Rádio Itatiaia, ele defendeu que o IBAMA conceda a licença para a petroleira o mais rápido possível.
“Tecnicamente, politicamente, em termos de cronograma, o ideal era uma liberação dessa sair agora para que a Petrobras, em fevereiro e março, fizesse a limpeza (do navio com a sonda) e em março, abril, já estivesse localizando, fazendo a mobilização dos equipamentos”, disse o ministro da Integração.
E para não fugir do corolário vazio da turma pró-petróleo, Góes afirmou que o petróleo da foz do Amazonas é “fundamental” para a transição energética. E que a Petrobras “cumpriu todas as exigências”. Mas, se tivesse cumprido, já teria a licença, já que a decisão do IBAMA é técnica.
Fonte: ClimaInfo