
A Escócia pode estar prestes a aprovar um grande retrocesso: o uso do inseticida imidaclopride, proibido por causar a morte de abelhas, na piscicultura, mais precisamente em fazendas de salmão do país. O produto químico é um dos três inseticidas à base de nicotina, ou neonicotinoides, proibidos pela União Europeia em 2018 para uso agrícola em plantações. Infelizmente, a proibição não se estende ao uso em rios ou no mar.
O inseticida imidaclopride é classificado por cientistas como um “perigo ambiental” que pode ser “muito tóxico para a vida aquática com efeitos duradouros”. Uma investigação jornalística do portal de notícias The Ferret revelou que o governo escocês, apesar de conhecer os riscos, estuda usar o produto químico na piscicultura para matar piolhos do mar que estavam prejudicando a reprodução e produção de salmão criados em cativeiro.
Essa semana, a Comissão Europeia foi a instada a rejeitar um projeto que regulariza o uso de imidaclopride em fazendas de piscicultura sob a falsa alegação de que há limites seguros para a utilização do produto químico. Grupos em defesa do meio ambiente pedem que o inseticida seja rotulado como um contaminante ambiental perigoso, altamente tóxico e responsável pela contaminação de cursos de água e do oceano.
Grace O ‘Sullivan, membro da Comissão de Meio Ambiente do Parlamento Europeu, acredita que o uso do inseticida é contraprodutivo. “Isso é particularmente preocupante na Escócia, que tem uma grande indústria e tradição de aquicultura de salmão, mas também para a UE, onde a comissão propõe estabelecer um nível máximo de resíduos (LMR) para o imidaclopride”, disse em entrevista ao The Guardian.
Ela evidencia ainda que isso trará um perigoso precedente para empresas lucrarem com a poluição ambiental. “Este LMR permitirá que as empresas solicitem autorização de comercialização para o produto e a apliquem na indústria de criação de salmão em particular, onde muito provavelmente se espalhará para o meio marinho em detrimento da saúde e da biodiversidade dos oceanos”, pontua.
E completa: “Há evidências crescentes de que o uso de imidacloprida tem um impacto devastador sobre os rios e cursos d’água, não afetando apenas crustáceos e espécies de insetos, mas também organismos do solo e populações de pássaros. Seu uso no Japão já levou a um colapso dramático dos estoques de peixes que não se recuperaram”, denuncia.
O imidaclopride foi encontrado em dois terços dos rios ingleses e está presente em todo o mundo. Com o objetivo inicial de ter uso exclusivamente agrícola, o inseticida está sendo utilizado até mesmo para o tratamento de pulgas em animais domésticos. O uso do produto químico é incrivelmente nocivo à vida selvagem, poucas gramas são suficientes para criar uma reação tóxica em cadeia em todo o ecossistema. O governo escocês ainda não se pronunciou.