O vaivém das jubartes nos oceanos é conhecido há muito tempo. No inverno, elas circulam pelas águas frias da costa brasileira para se reproduzir e ter seus filhotes. Quando chega o verão, partem numa viagem que dura mais de dois meses para as ilhas da Antártida, onde se alimentam de um crustáceo chamado krill, um parente pequeno do camarão. Mas, em meio às investigações científicas sobre a espécie, pesquisadores brasileiros se depararam com uma surpresa. Esses mamíferos gigantes não comem só no continente gelado. Eles usam um desvio de mil quilômetros para conseguir comida – um caminho alternativo até o norte da convergência dos oceanos Atlântico e Antártico.
A descoberta está sendo apontada como uma possível salvação das jubartes. Elas estão ameaçadas pelo aquecimento do planeta, que reduz a população de krill em alguns pontos do globo. “Com o comportamento mais flexível, a probabilidade de sobreviverem às vulnerabilidades climáticas é maior”, diz o oceanógrafo Alexandre Zerbini, diretor científico do Aqualie, um instituto criado para estudar o animal. Se a oferta de krill declinar muito na área da Antártida mais frequentada pelas jubartes, elas podem se adaptar a novos locais de alimentação.
Ainda há muitos mistérios em torno da vida das jubartes. Pouco se sabe sobre os pontos escolhidos por elas para se reproduzir, para onde migravam quando as águas da costa brasileira começavam a esquentar ou em que regiões conseguiam comida. Com o objetivo de responder a essas questões, um grupo de cientistas do Aqualie iniciou um trabalho para traçar a rota das baleias. Os estudiosos conseguiram, pela primeira vez, monitorar o comportamento dos animais livres na natureza. Na impossibilidade de capturar o bicho, a estratégia foi implantar transmissores por satélite nas baleias para definir o caminho que elas percorrem. Em 2003, os pesquisadores do Aqualie descobriram o caminho exato de migração das baleias brasileiras até o continente gelado, além dos locais onde se alimentam: Ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul. Agora, encontraram a rota alternativa.
A expedição científica é tensa. Logo nos primeiros raios de sol, a equipe ganha o mar para fazer a marcação. Quando o borrifo da respiração da baleia é avistado – se o tempo ajudar e a visibilidade for boa –, o piloto do barco sai em disparada naquela direção, numa velocidade que chega a 50 quilômetros por hora. Já perto da jubarte, o grupo usa um bote inflável menor e mais veloz para se aproximar o máximo possível. Só depois é feita a aplicação do transmissor no dorso do animal. “A dor é equivalente à de uma agulha de injeção para os humanos”, afirma o médico veterinário Artur Andriolo, coordenador do projeto (o cálculo baseia-se no tamanho do arpão em relação ao animal).
A aventura marítima em busca de respostas sobre o comportamento das baleias vai virar livro: Jubarte, da editora DBA, a ser lançado em março. A publicação é a íntegra do material fotográfico coletado pelo paulistano Luciano Candisani, fotógrafo de natureza há 15 anos.
Fonte: Revista Época