Pesquisadores americanos descobriram, nas selvas peruanas, o primeiro anfíbio monogâmico, e agora revelam pela primeira vez, em um documentário da BBC, o segredo desse comportamento sexual da espécie. Testes genéticos revelaram que os machos e as fêmeas da espécie Ranitomeya imitator se mantêm fiéis uns aos outros.
Em uma pesquisa publicada na revista científica The American Naturalist, os cientistas afirmam que um único detalhe – o tamanho dos reservatórios de água nos quais as fêmeas depositam seus ovos – é responsável por impedir que as rãs dessa espécie tenham relações sexuais com parceiros diferentes. Segundo os cientistas, esta é a melhor evidência já documentada de que a monogamia teria uma única causa.
Após a cópula, a fêmea da rã coloca seus ovos sobre a superfície de folhas. O macho leva então os girinos que vão nascendo, um a um, carregando-os nas costas, para reservatórios d’água que se acumulam em folhas de bromélias que crescem em galhos no alto de árvores. Cada um dos girinos é colocado em sua própria “piscina”, da qual o macho toma conta.
Quando os girinos ficam com fome, o macho chama a fêmea, que chega para colocar um ovo não fertilizado em cada corpo d’água, que o girino come para se alimentar. Os machos e as fêmeas parecem atuar em conjunto, e as novas pesquisas revelaram a extensão de sua fidelidade.
“Esta é a primeira descoberta de um anfíbio verdadeiramente monogâmico”, afirma o coordenador do estudo, o biólogo Jason Brown, da Universidade East Carolina, em Greenville. Nos últimos anos, Brown e outros pesquisadores da universidade vêm estudando extensivamente a espécie, filmada para o documentário da BBC.
Muitos animais parecem ser monogâmicos, com machos e fêmeas formando pares que muitas vezes parecem durar toda a vida. Mas a recente explosão em análises genéticas revelou que muitas dessas chamadas relações não eram monogâmicas na realidade. Enquanto muitos animais podem permanecer juntos e se reproduzir, eles com frequência escapam para trocar de parceiros quando têm uma chance.
Por meio de exames de DNA, a equipe de Brown analisou 12 famílias de rãs da espécie Ranitomeya imitator, das quais 11 pares se mantiveram fieis uns aos outros, enquanto na 12ª família o macho copulou com duas fêmeas diferentes.
Eles verificaram diferenças em relação a outra espécie semelhante, Ranitomeya variabilis, que se mostrou mais promíscua. As fêmeas desta segunda espécie colocam seus ovos em corpos d’água cerca de cinco vezes maiores do que os da primeira. Além disso, as fêmeas da Ranitomeya variabilis não têm nenhum papel no acompanhamento do desenvolvimento dos girinos, deixado a tarefa a cargo somente dos machos.
Quando os pesquisadores transportaram os girinos de ambas as espécies para reservatórios d’água de diferentes tamanhos, verificaram que os girinos cresciam mais rapidamente nos corpos d’água maiores – que contêm mais nutrientes – e que não podiam sobreviver sozinhos nos menores.
Isso sugere que os machos e as fêmeas das rãs da espécie Ranitomeya variabilis não precisam se manter juntos, já que seus girinos podem sobreviver sem necessitar da ajuda das mães para se alimentar.
Como os girinos da espécie Ranitomeya imitator não conseguem sobreviver sozinhos sem o cuidado tanto dos pais quanto das mães, ambos se mantêm juntos.
Fonte: Estadão