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CARTA DE APELO

Pesquisadores imploram ao Canadá pelo fim da importação de macacos para serem explorados em testes

Eles afirmam que a exploração sofrida pelos macacos é desnecessária, além das interações com humanos serem perigosas para ambos

9 de novembro de 2024
Júlia Zanluchi
4 min. de leitura
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Foto: PETA

Enquanto um avião transportando centenas de macacos de cauda longa vivos voava do Camboja para o Aeroporto de Mirabel, em Montreal, na sexta-feira, milhares de e-mails de canadenses preocupados chegaram à caixa de entrada do Ministro do Meio Ambiente, Steven Guilbeault, pedindo o fim da importação desses primatas ameaçados de extinção para experimentação biomédica.

Na quinta-feira, Guilbeault, o Primeiro-Ministro Justin Trudeau e o Premier François Legault receberam cópias de uma carta assinada por 80 professores universitários, pesquisadores e clínicos canadenses exigindo o fim do que chamaram de “voos fretados ilegais” organizados pela Charles River Laboratories (CRL), que levam macacos do Camboja para Montreal.

A CRL, sediada em Massachusetts, nos Estados Unidos, oferece milhares de macacos para laboratórios ao redor do mundo. A empresa possui pelo menos quatro instalações em Quebec, incluindo um principal centro de pesquisa e testes de remédios.

A PETA afirma que, desde o início de 2023, a CRL trouxe cerca de 8 mil macacos de cauda longa do Camboja para o Canadá. Um voo fretado pela Sky Taxi e organizado pela CRL deixou Phnom Penh ao meio-dia de quinta-feira, transportando centenas de macacos, e chegou a Mirabel por volta das 16h de sexta-feira.

Os Estados Unidos suspenderam essas importações depois que o Departamento de Justiça indiciou vários oficiais cambojanos em 2022 por facilitarem a exportação fraudulenta de macacos para o país. Alegou-se que os oficiais estavam passando macacos capturados na natureza como animais criados em cativeiro, os quais são criados especificamente para experimentação e testados para certas doenças.

Após esses indiciamentos, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA proibiu a CRL de usar ou vender várias remessas de macacos cambojanos. Isso deixou cerca de 1.200 macacos cambojanos retidos nos EUA, pois a empresa não conseguiu provar que os animais não eram ameaçados e capturados na natureza.

A PETA preocupa-se com o tratamento humanitário e a sobrevivência a longo prazo desses macacos ameaçados, mas pesquisadores e alguns políticos canadenses também estão preocupados com os riscos que eles podem representar à saúde pública. “Uma década atrás, os chimpanzés, nossos parentes primatas mais próximos, deixaram de ser usados em experimentos porque tal prática não podia mais ser justificada do ponto de vista científico, ético ou financeiro”, diz a carta dos pesquisadores.

A carta ainda aponta o surgimento de novas metodologias, como órgãos em chips, tecidos bioimpressos em 3D, organoides, avanços em modelagem in silico, modelos derivados de células-tronco, abordagens de biologia de sistemas e multiômicas. Apesar disso, a indústria farmacêutica aumentou significativamente sua dependência dos macacos de cauda longa para experimentação biomédica.

Em 2022, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classificou os macacos de cauda longa como “ameaçados”, citando sua captura na natureza para experimentação como um dos fatores para o declínio drástico da população desde os anos 1990.

Lisa Jones-Engel, conselheira científica sênior da PETA para experimentação com primatas, afirmou que, mesmo após o início das investigações nos EUA, macacos foram importados do Camboja para os EUA infectados com Burkholderia pseudomallei, “uma bactéria tão letal que é classificada como uma potencial arma de bioterrorismo.”

“As chances de essa indústria desencadear a próxima pandemia global, por meio de um vazamento de laboratório ou facilitando o transbordamento de um patógeno mortal devido ao manejo negligente dos macacos em todas as etapas do processo de importação, superam em muito quaisquer benefícios teóricos que eles possam trazer à saúde humana”, disse Jones-Engel.

Jesse Greener, professor de química da Université Laval, afirmou que novas tecnologias que reduzem ou eliminam o uso de modelos animais em experimentos farmacêuticos ou médicos estão se desenvolvendo rapidamente e já existem há 15 anos.

“Ainda é uma tecnologia emergente, mas está explodindo agora”, disse Greener. “Essas tecnologias já estão sendo usadas em experimentos farmacêuticos. Pesquisadores internacionais de alto nível e grandes empresas estão utilizando essa tecnologia… Precisamos de mais conscientização sobre a existência dessas tecnologias. Devemos nos perguntar por que estamos fazendo experimentos com esses animais e se isso é absolutamente necessário quando há alternativas.”

Greener trabalha com uma tecnologia chamada “órgão em chip,” que recria funções de órgãos ou tecidos humanos em um microchip, proporcionando um ambiente que simula condições reais.

“Se você quiser, por exemplo, estudar interações pulmonares com fumaça ou outros perigos ambientais, pode forçar um macaco a respirar isso e medir sua pressão arterial ou dissecá-lo posteriormente para ver até onde as toxinas penetraram nos alvéolos. Ou você pode cultivar o material (tecidual) e aplicar diretamente a toxina para estudá-lo em tempo real. É uma abordagem melhor de várias maneiras, em termos de qualidade da informação, estudos longitudinais, custo mais baixo e, mais importante, a ética é incomparável”, explicou ele.

A secretária de imprensa de Guilbeault, Hermine Landry, afirmou que o Environment and Climate Change Canada (ECCC) está ciente da investigação nos EUA sobre macacos cambojanos importados e está “monitorando de perto a importação de espécies ameaçadas (e) todos as permissões e envios necessários são cuidadosamente verificados, em colaboração com outros departamentos e agências federais envolvidos.”

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