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SOLIDARIEDADE

Pesquisadores flagram ratos explorados em experimentos fazendo primeiros socorros entre si

24 de fevereiro de 2025
3 min. de leitura
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Foto: Wenjian Sun et al 2025

Um estudo recente publicado na revista Science chamou a atenção ao revelar que ratos são capazes de prestar primeiros socorros a outros indivíduos da mesma espécie que estejam inconscientes. A descoberta, embora valiosa para a compreensão da empatia e da inteligência animal, levanta questões éticas profundas sobre os métodos utilizados pela ciência, que continuam a submeter animais a situações de estresse e sofrimento em nome do “avanço do conhecimento”.

No experimento, pesquisadores sedaram um rato e o colocaram em uma gaiola com outro indivíduo consciente. Ao perceber que seu companheiro estava desmaiado, o rato acordado iniciou uma série de ações para reanimá-lo, incluindo patadas leves, mordidas e até a remoção de uma bolha de plástico que obstruía as vias aéreas do animal sedado. O comportamento, descrito como uma forma instintiva de primeiros socorros, foi celebrado como uma demonstração clara de empatia e altruísmo entre os ratos.

No entanto, por trás dessa descoberta aparentemente fascinante, esconde-se uma realidade perturbadora: para observar esse comportamento, os pesquisadores criaram uma situação artificial e cruel, sedando um animal e colocando outro em uma posição de estresse e desconforto. A pergunta que não quer calar é: até que ponto é ético infligir dor e medo em seres sencientes para comprovar algo que já sabemos – que os animais são capazes de sentir, cuidar e se importar uns com os outros?

A ciência da empatia construída sobre o sofrimento

Os cientistas envolvidos no estudo monitoraram a atividade cerebral do rato socorrista e identificaram que o comportamento de cuidado era conduzido por neurônios liberadores de ocitocina, o chamado “hormônio do amor”. Essa descoberta reforça a noção de que a empatia é um traço comum entre diversas espécies, incluindo humanos. Mas, ironicamente, o estudo também expõe a falta de empatia dos próprios pesquisadores, que não hesitaram em colocar vidas em risco para validar suas hipóteses.

Os ratos utilizados no experimento tinham apenas dois a três meses de vida e nunca haviam presenciado ou aprendido tal comportamento antes, o que sugere que a ação de socorro é instintiva. No entanto, essa “instintividade” não justifica a criação de situações artificiais de perigo e sofrimento. Afinal, se os ratos são capazes de demonstrar tamanha compaixão, por que a ciência insiste em tratá-los como meros objetos de estudo, descartáveis e sem direitos?

A hipocrisia da ciência que explora para compreender

A pesquisa reforça o que os defensores dos direitos animais vêm afirmando há décadas: os animais são seres sencientes, capazes de sentir dor, medo, alegria e empatia. No entanto, ao mesmo tempo em que a ciência reconhece essas capacidades, ela continua a justificar práticas cruéis, como a experimentação animal, em nome do “progresso”. Essa contradição é inaceitável.

Se os ratos são capazes de salvar vidas e demonstrar altruísmo, por que nós, humanos, continuamos a tirar a deles? Por que insistimos em tratá-los como recursos descartáveis, submetendo-os a procedimentos invasivos e traumáticos? A empatia não deveria ser uma via de mão dupla, onde o reconhecimento da senciência animal leve a uma mudança radical em como os tratamos?

Um chamado para o fim da exploração animal na ciência
Enquanto a ciência avança na compreensão da complexidade emocional e cognitiva dos animais, é fundamental que a sociedade questione os métodos utilizados para obter esse conhecimento. A descoberta de que ratos são capazes de prestar primeiros socorros é, sem dúvida, fascinante, mas não pode ser celebrada sem uma reflexão crítica sobre o preço pago pelos animais envolvidos.

É hora de repensar nossa relação com os animais e buscar métodos de pesquisa que não dependam da exploração e do sofrimento. Afinal, se os ratos são capazes de demonstrar compaixão, não é justo que continuemos a tratá-los com crueldade. A verdadeira ciência deve ser ética, e a ética exige que respeitemos os direitos de todos os seres sencientes. A compaixão não é um privilégio humano – é um direito de todos os seres vivos.

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