A indústria brasileira de cosméticos está perdendo mercado para empresas dos Estados Unidos, Japão e países da Europa por causa da proibição de venda de produtos que foram testados em animais. A medida começa a vigorar a partir de 2013 e pesquisadores brasileiros recomendam a criação de um centro onde possam ser realizados testes alternativos para esse segmento.
Segundo a professora Silvya Stuchi Maria-Engler, do departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas (FBC) da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, a produção de medicamentos e cosméticos necessita de testes para avaliar a toxicidade e eficácia de novos princípios ativos e formulações. Porém, diferentemente de outros países, o Brasil ainda é incipiente na utilização de métodos in vitro, ainda realiza testes in vivo, empregando animais de laboratório, como ratos, camundongos e coelhos.
“Os países desenvolvidos reduziram o número de animais utilizados em pesquisas. Os avanços da ciência possibilitaram o desenvolvimento de sistemas biológicos complexos, como a criação em laboratório de estrutura semelhante à pele humana, onde é possível testar cosméticos e novos medicamentos. O Laboratório de Patologia e Citologia Clínica da FCF já desenvolve esse tipo de pele artificial, que é a base para testes alternativos de eficácia e segurança”, explica a professora.
Além de reduzir o uso de animais, o modelo de pele desenvolvido na FCF garante maior número de testes de um número maior de substâncias, já que a estrutura recria de forma mais fiel as situações de exposição da pele humana, nem sempre obtidas com o uso de animais.
A professora Silvia Berlanga de Moraes Barros, também do FBC, aponta outras dificuldades na alteração de testes in vivo para in vitro. “No mercado brasileiro não existem empresas de biotecnologia que produzam peles artificiais humanas na forma de kits. Já no mercado mundial, existem possibilidades de aquisição de kits de pele humana”, declara.
Para a professora Silvya Stuchi, essa diferença entre a indústria brasileira e a de outros países se reflete nos altos custos e na limitação de análise de compostos. “O país se vê diante da impossibilidade de aquisição de sistemas de peles artificiais importados do mercado internacional, em grande parte por causa das dificuldades alfandegárias”, esclarece.
“Os testes com peles artificiais são valiosos principalmente para cosméticos, mas poderiam também ser empregados em triagem de novos fármacos de aplicação na pele. O mais importante é que as agências reguladoras de registro reconheçam esses testes para fins de registro de produtos. Produzir esse material na FCF e no Brasil significa independência de metodologia importada, o que poderia alavancar a inovação na área farmacêutica e de cosméticos em nosso país”, explica a professora Silvia Berlanga.
“Temos discutido esse tema em encontros, reforçando a necessidade do desenvolvimento de tecnologia brasileira e na criação de métodos alternativos de testes da indústria de medicamentos e cosméticos”, complementa a professora Silvya Stuchi.
No exterior existe o Centro Europeu para Validação de Métodos Alternativos (ECVAM), órgão que coordena atividades e testes alternativos. “A ideia é termos um centro nos mesmos moldes, que poderia até mesmo se associar ao ECVAM. Porém, é importante frisar que a curto e médio prazo os testes com animais não devem acabar. O que os testes alternativos fazem é reduzir o número de animais para experimentos a partir das respostas com testes alternativos. Mas em muitos casos, como para o registro de praguicidas e de medicamentos, os testes em animais ainda são obrigatórios”, revela Silvia Berlanga.
Fonte: Atibaia News