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Pesquisadores estudam anta rara da Malásia

9 de junho de 2009
7 min. de leitura
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Foto da anta

Nas florestas tropicais da Malásia e de Sumatra, as antas são raramente vistas. Pesadas e poderosas herbívoras, com cerca de 295 kg, as antas possuem uma face de tamanduá, com um focinho móvel que funga incessantemente. Em florestas tropicais escuras, o olfato e a audição são sentidos importantes.

Os animais possuem uma camuflagem preta e branca e fazem um barulho de assobio que parece mais com o som de um pássaro do que com o de um mamífero. A anta malaia, a maior espécie de anta do mundo, permaneceu amplamente invisível para a ciência até recentemente. As outras três espécies desse animal estranho e amável vivem na América do Sul.

Houve apenas um estudo científico nos anos 1970 sobre a anta malaia. Posteriormente, em 2002, o Projeto de Conservação da Anta Malaia foi criado, apoiado em grande parte pelo zoológico de Copenhague, e biólogos de campo começaram a preencher outra página em branco da zoologia. Grandes parcelas da floresta tropical na Malásia e em Sumatra foram destruídas por plantações de palmeira para produção de azeite e pela extração de madeira ilegal, e cientistas começaram a temer que a anta poderia silenciosamente entrar em extinção.

Um centro de conservação foi estabelecido dentro da Reserva Florestal Sungai Dusun, a uma hora de carro de Kuala Lumpur, e pesquisadores como Carl Traeholt, um biólogo malaio-dinamarquês, começaram a reunir dados sobre o número de antas e animais do local por conta própria.

Traeholt é o coordenador malaio para as antas do grupo internacional Tapir Specialist Group , que se preocupa com todas as quatro espécies de anta. Nos últimos cinco anos, ele usou câmeras com sensores de movimento para fotografar antas se movendo pela floresta à noite, se alimentando de frutas, folhas e galhos. Um importante avanço inicial foi a descoberta de que os padrões das rugas no pescoço da anta podem identificar indivíduos.

As fotografias mostravam que as antas normalmente circulam por uma área limitada de seu habitat, mas viajam até 4,8 km por noite para alcançar depósitos de minerais salgados, presumidamente com o intuito de consumir minerais como cálcio e ferro. Um dos locais estudados foi a Reserva Florestal Krau, ao norte de Kuala Lumpur. “Em alguns desses depósitos de sal de Krau, as antas são os animais mais comuns a aparecer para as câmeras, mas são sempre os mesmos indivíduos que retornam”, disse Traeholt.

Os resultados mostraram que estimativas de uma população de 800 a mil indivíduos para uma área do tamanho de Krau e de 15 a 20 mil em toda a Malásia eram demasiadamente otimistas. “Isso estava muito longe da realidade. Do contrário, teríamos um congestionamento de antas em Krau”, Traeholt disse.

Na verdade, havia apenas cerca de 40 indivíduos em Krau, o que significaria cerca de 1,5 mil a 2 mil na Malásia, ele disse. Talvez existam 300 antas na Tailândia, uma população desconhecida e não estudada na Birmânia e um número desconhecido e em declínio em Sumatra. Um palpite melhor, disse ele, é que existam 4 mil indivíduos no sudeste da Ásia, um número similar ao de tigres selvagens.

No ano passado, a equipe de pesquisa malaia colocou um novo tipo de rádio-colar em uma anta em Krau. Metade da reserva tem a cobertura de uma torre telefônica local e, dentro de seu alcance, o colar pode transmitir seus dados através de um sinal de telefone para o computador da equipe que estuda as antas. As antas estão irregularmente distribuídas no que parece ser uma floresta homogênea. E os cientistas desejam saber o motivo. A coleta de dados do colar, que ocorre a cada cinco minutos, deverá ajudar a responder às suas perguntas.

Traeholt recentemente se juntou a Boyd Simpson, ecologista comportamental com experiência em projetos de conservação na Austrália e na Ásia, que está conduzindo uma pesquisa sobre a anta malaia para seu doutorado. Os dois biólogos se conheceram enquanto trabalhavam no Camboja. Simpson deverá comandar uma nova fase da pesquisa sobre antas em Taman Negara, o maior parque nacional da Malásia.

Ela é uma extensão da pesquisa em Krau e uma comparação das descobertas nos dois locais deverá ser proveitosa. ¿Se as observações forem as mesmas nas duas áreas, poderemos extrapolá-las para todo o país¿, Traeholt disse. “Mas se elas forem diferentes, teremos que ir de área em área para descobrir a densidade da população”.

Simpson disse que a grande diferença da pesquisa do parque “é que estamos planejando a reintrodução de animais de cativeiro de Sungai Dusun”. Antes de qualquer reintrodução, a equipe irá checar se existe algum animal estabelecido no local que poderia “expulsar os recém-chegados”, afirmou ele.

Apesar de não serem agressivas, as antas defendem seu habitat e possuem grandes dentes caninos, algo estranho para animais que se alimentam de plantas. A prova de que as antas usam tais dentes está nos cortes e cicatrizes em suas orelhas. Acredita-se que elas sejam mais combativas durante a época de acasalamento, provavelmente em abril e maio, disse Traeholt, porque existem mais fotos de duas antas adultas juntas durante esses meses.

Simpson está ansioso para descobrir o que faz as antas se irritarem. ¿Elas são criaturas de aparência engraçada, muito intrigantes¿, ele disse.

A necessidade fisiológica de minerais é especialmente interessante. Ele planeja observar a composição química dos depósitos de sal e tentar descobrir o motivo de alguns depósitos serem preferidos a outros. Talvez seja pelo fato das antas consumirem muitas toxinas de plantas e, portanto, precisarem de argila de cor branca para absorver as toxinas. Não se sabe se as antas bebem água, lambem as pedras ou comem o solo ao redor dos depósitos, mas câmeras infravermelhas deverão ser instaladas para gravar seu comportamento.

Simpson havia acabado de trabalhar em Taman Negara quando se juntou à equipe para uma excursão a Keniam, uma estação de campo localizada a 90 minutos de viagem rio acima em uma canoa motorizada, a partir da sede do parque. A estação é controlada em parceria com a Universidade de Tecnologia da Malásia e o Departamento de Fauna e Parques Nacionais.

Taman Negara possui a mais antiga floresta tropical do mundo e se estende por mais de 434.082 hectares; o local faz parte de um complexo florestal ainda maior e contém quase todos os grandes mamíferos da Ásia, inclusive ursos-malaios, gauros, tigres, elefantes e antas.

Com seu oficial de campo local, Mohamed Sanusi bin Mohamed, o grupo de pesquisa caminhou pela floresta para checar armadilhas de câmera e colocar novos aparelhos nas trilhas das antas. Traeholt, perito em localizar pegadas de antas na selva, explicou que as trilhas e rastros eram sinais importantes, mas que fezes de anta quase nunca eram encontradas. Elas defecam na água, possivelmente com o intuito de evitar deixar rastros para os predadores, geralmente vivem perto da água e sabem nadar.

Embora as antas malaias sejam consideradas espécies sob risco de extinção, Traeholt tem confiança de que seu habitat na Malásia e na Tailândia seja estável. Ele reconheceu que populações reduzidas de antas em alguns locais as deixam vulneráveis. Mesmo em Krau, a caça ilegal de animais poderia acabar com a viabilidade de toda a população com a remoção de apenas 20 a 25 animais.

O hábito de lamber sal poderia ser o calcanhar de Aquiles do animal: isso torna as antas previsíveis e vulneráveis à caça ilegal. Apenas um filhote – gracioso, com listras brancas – nasce após uma gestação de 13 meses, por isso, populações reduzidas de antas se recuperariam lentamente.

Não se sabe se esse animal é apenas uma espécie da anta malaia ou uma subespécie diferente, como no caso dos tigres. A análise genética com o uso de amostras de tecido da Tailândia, Malásia e de Sumatra acabou de começar. Traeholt disse acreditar que pequenas populações fragmentadas em partes da Tailândia poderiam ser controladas e envigoradas com a introdução de novos animais, mas que seria importante reconhecer as variações genéticas e identificar quaisquer subespécies antes de misturar animais de diferentes áreas.

O doutor Bengt Holst, diretor científico do Zoológico de Copenhague, que tem uma história de colaboração com autoridades da fauna malaia, disse que os pesquisadores planejavam desenvolver prioridades de conservação para a anta malaia através da descoberta das necessidades de seu habitat, estruturas sociais e comportamento.

Ao transformar o animal em uma importante espécie de pesquisa, ele espera que pesquisadores sejam atraídos para a Malásia e que as espécies sejam descritas sob todos os ângulos – fisiologia, comportamento, genética e ecologia. A preservação da anta também colocaria muitas espécies desconhecidas sob um guarda-chuva de proteção.

Por enquanto, Traeholt espera criar um plano de preservação apoiado pela ecologia. Deste modo, esse animal único irá evitar se tornar esquecido ou extinto.

Fonte: Terra/ The New York Times – Amy Traduções

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