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SIMULAÇÃO

Pesquisadores 'despertam' micróbios do permafrost para estudar como derretimento pode impactar o planeta

Temor é que, à medida que as áreas derretem, os micróbios recém descongelados começarão a decompor matéria orgânica, liberando-a no ar na forma de dióxido de carbono e metano, potentes gases de efeito estufa

7 de outubro de 2025
Renata Turbiani
5 min. de leitura
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Robyn Barbato, do Laboratório de Pesquisa e Engenharia das Regiões Frias, perfura uma amostra das paredes do Túnel do Permafrost. Foto: Tristan Caro

No permafrost do planeta – mistura congelada de solo, gelo e rochas que cobre quase um quarto das terras do hemisfério norte – há um “cemitério” com restos de animais e plantas, além de bactérias e outros microrganismos congelados há milênios.

Recentemente, uma equipe de geólogos e biólogos liderada pela Universidade do Colorado em Boulder, dos Estados Unidos, decidiu ressuscitar alguns micróbios. E o que descobriu foi que eles, ao serem descongelados, demoram um pouco para se tornarem ativos, mas, depois de alguns meses, começam a formar colônias florescentes.

“Estas amostras não estão mortas de forma alguma”, disse Tristan Caro, principal autor do estudo e ex-aluno de pós-graduação em ciências geológicas na CU Boulder, em comunicado. “Elas ainda são muito capazes de abrigar vida robusta capaz de decompor matéria orgânica e liberá-la como dióxido de carbono.”

O coautor Sebastian Kopf, professor de Ciências Geológicas na CU Boulder, acrescentou que o trabalho tem amplas implicações para a saúde do Ártico e de todo o planeta. O ponto é que o permafrost do mundo está derretendo a um ritmo alarmante devido às mudanças climáticas causadas pelo homem, e os cientistas temem que essa tendência possa desencadear um ciclo vicioso: à medida que o permafrost derrete, os micróbios que vivem no solo começarão a decompor a matéria orgânica, liberando-a no ar na forma de dióxido de carbono e metano, potentes gases de efeito estufa.

“É uma das maiores incógnitas nas respostas climáticas. Como o degelo de todo esse solo congelado, onde sabemos que há toneladas de carbono armazenado, afetará a ecologia dessas regiões e a taxa de mudanças climáticas?”, apontou Kopf.

Simulação do verão

Os pesquisadores envolvidos no estudo viajaram para o Túnel de Permafrost do Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos, uma instalação de pesquisa que se estende por mais de 106 metros no solo congelado sob o centro do Alasca.

Lá, eles coletaram amostras da parede do túnel com alguns milhares a dezenas de milhares de anos de idade. E, posteriormente, adicionaram água às amostras e as incubaram a temperaturas de 3°C a 12°C. “Queríamos simular o que acontece no verão do Alasca, sob condições climáticas futuras, onde essas temperaturas atingem áreas mais profundas do permafrost”, contou Caro.

A água utilizada era composta por átomos de hidrogênio excepcionalmente pesados – conhecidos como deutério. Isso permitiu à equipe rastrear como os micróbios absorveram a água e, em seguida, usaram o hidrogênio para construir as membranas feitas de material gorduroso que envolvem todas as células vivas.

Nos primeiros meses após o descongelamento, as colônias cresceram de forma lenta. Em alguns casos, substituíram apenas cerca de uma em cada 100.000 células por dia. Para efeito de comparação, em laboratório, a maioria das colônias bacterianas pode se renovar completamente em poucas horas.

Quando o experimento atingiu seis meses, a coisa se acelerou. Segundo os pesquisadores, algumas das colônias chegaram até a produzir estruturas pegajosas chamadas “biofilmes”, visíveis a olho nu.

Caro observou que os micróbios provavelmente não infectariam pessoas, ainda assim eles foram mantidos em câmaras seladas. Ele acrescentou que as colônias não pareciam acordar muito mais rápido em temperaturas mais altas.

“Você pode ter um único dia quente no verão do Alasca, mas o que importa muito mais é o prolongamento da temporada de verão, a ponto de essas temperaturas quentes se estenderem até o outono e a primavera”, destacou.

Por enquanto, ainda há muitas questões em aberto sobre os impactos destes micróbios. Também não se sabe se organismos antigos se comportam da mesma forma em outros locais do planeta – há permafrosts em outros pontos do mundo além do Alasca, como na Sibéria e em algumas outras regiões frias do norte.

Fonte: Um só Planeta

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