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CIÊNCIA

Pesquisadora cria pele artificial que substitui testes com animais

O desenvolvimento de modelos de pele humana reconstruída em laboratório tem sido uma alternativa muito eficaz ao uso de animais em experimentação para testar a segurança de novos produtos

10 de novembro de 2021
Amanda Andrade | Redação ANDA
4 min. de leitura
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Pesquisadora cria pele artificial que substitui testes com animais – Foto: Reprodução/UFAM

A pesquisadora Leilane Bentes de Sousa desenvolveu um novo modelo de tecido humano artificial para ser utilizado em testes de substâncias cosméticas e fármacos. O processo utilizou células humanas permanentes, sem o uso de soro fetal bovino e fator de crescimento de queratinócitos, o que a diferenciou de outros modelos desenvolvidos no Brasil e no mundo.

O processo de desenvolvimento de pele artificial em laboratório tem o objetivo de ser utilizado em testes de toxicidade de substâncias cosméticas e fármacos, sem submeter animais a esse tipo de experimento. O teste é utilizado para saber se o produto produzido por uma empresa é tóxico.

Segundo o Portal Amazônia, a pesquisa começou em 2016, no Laboratório Biophar da FCF e desenvolvida pela doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Inovação Farmacêuticas (PPGIF), Leilane Bentes de Sousa, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

A pesquisadora produziu in vitro a pele artificial a partir de células humanas permanentes sem o uso de soro fetal bovino e fator de crescimento de queratinócitos para cultivá-las.

“A partir desta configuração, passamos a fazer uma pesquisa para desenvolver um equivalente dérmico para ser utilizado em testes de toxicidade de cosméticos desenvolvidos no Laboratório (Biophar), na FCF. Elaboramos um modelo tridimensional de cultura celular e cultivamos as células em uma estrutura de colágeno que permitiu o crescimento e desenvolvimento da célula nessa estrutura, durante 10 a 15 dias, em estufa, para crescimento e diferenciação e formação de um tecido. Fizemos o estudo de desenvolvimento e, ao final, os testes que a OECD preconiza para esse tipo de modelo, e verificamos que havia função barreira, ou seja, poderia mimetizar as principais funções da pele humana que são as barreiras física, mecânica, química, que atuam contra agentes biológicos”, afirmou Leilane.

O desenvolvimento de modelos de pele humana reconstruída em laboratório tem sido uma alternativa muito eficaz ao uso de animais em experimentação para testar a segurança de novos produtos.

Além disso, esses modelos possuem diversas aplicações e representam um ganho potencial de autonomia tecnológica para o Brasil, além de contribuir com a redução, refinamento e até mesmo substituição de animais em experimentação reforçado pela legislação do Conselho Nacional de Experimentação Animal e organizações internacionais.

As células são adquiridas no mercado privado e são cultivadas em uma estrutura de colágeno que a partir desse procedimento vão se proliferando até desenvolver o tecido epidérmico (pele superficial humana que protege todo o corpo) e a derme (tecido interno, logo abaixo da pele superficial dos seres humanos).

“O modelo também é a base para o desenvolvimento de outras possibilidades como testes com células neoplásicas visando desenvolver um ambiente biomimético e possibilitando um cenário mais próximo do que os testes realizados em cultura 2D, que é a convencional. Isso possibilitou que outros estudantes de iniciação científica, mestrado e doutorado (a própria Leilane), continuassem com pesquisas na área da oncologia experimental”, destacou a professora Marne Vasconcellos.

Testes em animais

Embora até hoje o Brasil não conte com uma lei federal que proíbe a realização de testes em animais, nem mesmo na indústria cosmética, não há mais desculpas para essa prática em 2021.

Até hoje mais de 100 milhões de animais continuam sendo utilizados por ano em experimentos laboratoriais que incluem testes de produtos, vivissecção e pesquisa no ensino, segundo dados da Humane Society International (HSI) e Cruelty Free International (CFI).

Organizações que fazem oposição ao uso de animais como cobaias apontam que além da geração de sofrimento, os testes consomem muito tempo e recursos, além de restringir o número de substâncias que podem ser testadas. Os experimentos também são criticados por fornecerem uma compreensão muito limitada de como as substâncias químicas se comportam no corpo.

Há apontamentos de que em muitos casos os testes não predizem corretamente “as reações humanas no mundo real”. Por isso cientistas estão questionando cada vez mais a relevância das experiências que visam “modelar” as doenças humanas em laboratório, criando artificialmente sintomas em outras espécies animais.

Atualmente, entre os recursos disponíveis que podem substituir os testes em animais estão as novas tecnologias que envolvem triagem de alta produtividade, modelos computacionais e chips baseados em cultura de células e tecido humano artificial.

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