Um estudo publicado na revista Biotropica em janeiro revelou que animais importantes para a dispersão de sementes serão os primeiros a sumir com o desmatamento da Mata Atlântica. O trabalho integra o projeto “O efeito da fragmentação sobre as funções ecológicas dos primatas”, financiado pela Funesp e coordenado por Laurence Culot, professora do IB-Unesp.
Esses organismos – como o bugio (Alouatta guariba) e o muriqui (Brachyletes arachnoides) – espalham sementes de plantas por meio de sua alimentação e, assim, dispersam o material genético vegetal e perpetuam a espécie em uma relação de ganho mútuo. O seu desaparecimento também afetará a sobrevivência dessas plantas de maneira significativa.
“A dispersão de sementes é um processo complexo, que abarca muitos tipos de vertebrados ao mesmo tempo. O reflexo do desmatamento é a extinção tanto de animais, que perdem o alimento, como de vegetais, que não podem mais se dispersar”, conta Lisieux Fuzessy, primeira autora do estudo, ao Folha de São Paulo.
Parte da pesquisa foi realizada durante um estágio realizado por ela na Estación Biológica de Doñana (EBD-CSIC), na Espanha, com colaboração do pesquisador Pedro Jordano. Ela incluiu dados sobre a dispersão de sementes por primatas, aves, morcegos, carnívoros, marsupiais, roedores e ungulados, fazendo um panorama inédito do papel das interações animais-plantas para a manutenção da biodiversidade.
“A princípio, a ideia era verificar apenas o papel dos primatas na dispersão de sementes, mas ficou claro que era preciso analisar a atuação de todos os vertebrados”, comentou a pesquisadora.
Dados do estudo
Os pesquisadores do estudo, com o objetivo de entender os efeitos da perda de animais na floresta, compararam as interações fauna-flora em duas áreas florestais em São Paulo: a serra de Paranapiacaba, uma das áreas mais conservadas da mata atlântica, com 120 mil hectares, e a mata de Santa Genebra, uma área com 250 hectares que foi desmatada até 1984, quando passou a ser protegida.
Na primeira área, foram encontradas espécies ameaçadas de extinção, como a onça-pintada (Panthera onca) e a ave fungívora jacutinga (Pipile jacutinga). Lá foram registradas 1588 interações entre 133 animais e 315 plantas. Já Santa Genebra não apresenta a maior parte dos granes vertebrados e foram registradas 221 interações entre 54 animais e 58 plantas.
“É uma diferença muito importante. Espécies-chaves como o muriqui ou a anta comem uma diversidade muito maior de frutos do que um passarinho, por exemplo. Além da demanda elevada por calorias, a garganta maior permite que engulam frutos grandes e dispersem plantas que, sem esses animais, simplesmente desaparecem, num efeito cascata”, finaliza Fuzessy ao Folha.