Uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (USP) indica que a poluição pode também trazer malefícios para a saúde dos animais domésticos. A doutoranda Kátia Cristina Kimura constatou lesões no DNA de cães que viviam em diferentes regiões da capital paulista e atribuiu os resultados a influências do ambiente externo, como poluição.
Durante dois anos, foram analisados 33 cachorros de quatro regiões da capital paulista: sete da Zona Norte, sete da Sul, três da Leste e 16 da Oeste. A pesquisadora selecionou outros três cães com menos de seis meses para comparação. Os animais utilizados na pesquisa eram atendidos por profissionais do Hospital Veterinário da universidade.
A professora Maria Lúcia Dagli, titular do Departamento de Patologia, orientou o trabalho da veterinária. “Ela constatou que existia uma diferença significante, pois os cães com cinco anos ou mais tinham mais lesão do DNA quando comparado com os recém-nascidos. A gente atribuiu isso ao ambiente externo, uma poluição ambiental que está determinando uma lesão maior do DNA”, explicou a professora.
“Seria uma quebra do cromossomo gerada por fatores externos, como poluição e fumaça. A gente sugere que possa ser”, completa Kátia Kimura. A tese de mestrado da veterinária, que traz os resultados da pesquisa, foi concluída em maio. Para atestar a lesão do DNA, ela avaliou o epitélio olfatório e pulmonar de animais que não apresentavam doenças, mas morreram por causa de atropelamentos, por exemplo.
Maria Lúcia lembra que os testes não mostraram diferenças de lesões de DNA entre os cães das diferentes regiões da capital paulista. Ou seja, a interferência dos fatores externos é linear entre os grupos estudados. Como resultado desta lesão, os cães podem apresentar mais doenças no futuro, como o câncer.
Para a pesquisadora, os animais são um “espelho” do que pode acontecer com o homem. “Os cães podem ser sentinelas da exposição que o humano sofre, um espelho de tudo isso. Porque o cachorro vive grudado com o tutor, não é mais só usado como cão de guarda, mas como companhia”, afirma Kátia. Ela irá aprofundar os resultados do estudo em sua tese de doutorado, já em andamento. “A partir desse trabalho, a gente vai fazer inúmeros outros para poder chegar ao mais específico possível”, conta.
Aumento dos casos
A professora Maria Lúcia Dagli diz que os casos de cães vítimas de câncer vêm crescendo nos últimos anos. “A gente vem constatando que o número de casos de câncer em cães vem aumentando porque os cães vivem mais, as doenças infecciosas estão mais controladas”, diz. O resultado disso é que os profissionais da área procuram novas técnicas de tratamento para a doença nos animais.
Um primeiro passo foi a criação, em 2004, da Associação Brasileira de Oncologia Veterinária. Além disso, Dagli conta que está sendo criado um núcleo de apoio à pesquisa nessa área dentro da faculdade. Entre os projetos, está adquirir equipamentos para diagnóstico e tratamento dos bichos. Um dos necessários é um aparelho de radioterapia.
“É uma coisa que falta e poderia resolver o problema de muitos animais portadores de câncer. Esses aparelhos custam muito caro e uma agência de fomento não fornece um aparelho de custo tão elevado”, afirma. O preço dele, segundo Maria Lúcia, é em torno de R$ 2 milhões. Ela diz que, semanalmente, são realizadas na faculdade de 12 a 15 cirurgias em animais com a doença. Mais informações sobre a associação podem ser obtidas no site www.abrovet.org.br.
Fonte: G1