As pessoas estão planejando dirigir mais no futuro do que antes da pandemia do coronavírus, sugere uma pesquisa, embora a esmagadora maioria aceite a responsabilidade humana pela crise climática.
A aparente desconexão entre crenças e ações aumenta o temor de que, sem uma forte intervenção política, essas ações possam minar os esforços para cumprir as metas estabelecidas no acordo de Paris e as esperanças de uma recuperação verde da crise do coronavírus.
Aproximadamente 26.000 pessoas em 25 países foram entrevistadas em julho e agosto pelo YouGov-Cambridge Globalism Project, em uma pesquisa elaborada com The Guardian.
Em uma proporção de mais de três para um, os entrevistados concordaram que a humanidade era principalmente ou parcialmente culpada pela emergência climática.
Este amplo reconhecimento da ciência provavelmente fortalecerá os apelos por esforços internacionais mais ambiciosos para reduzir as emissões industriais e agrícolas de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa que estão intensificando o aquecimento global e eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações e secas.
Entre os países com maior apoio a esta visão cientificamente comprovada estão o Reino Unido (86%), China (87%), Japão (85%), Brasil (88%) e Espanha (87%).
Os mais fracos foram todos os estados petrolíferos, embora mesmo nesses países – que dependem fortemente das vendas de combustíveis fósseis – uma maioria substancial reconheceu o papel da humanidade na perturbação climática. A Arábia Saudita ficou em último lugar com 57%, depois o Egito com 67% e os EUA com 69%.
Refletindo tendências semelhantes, o número de pessoas que acreditavam que o aquecimento global antrópico era uma farsa foi menor no Reino Unido (apenas 9%) e maior em países produtores de petróleo, como os EUA (27%), Nigéria (31%) e Arábia Saudita (27%).
Quando se trata de mudança de comportamento, as variações eram muito maiores de país para país.
Os ativistas do clima pediram uma redução nas viagens aéreas, que é uma grande fonte de emissões. Isso caiu drasticamente durante os bloqueios de coronavírus em vários países, mas houve uma grande discrepância sobre os planos das pessoas de voar após a pandemia em comparação com antes.
Em vários países, o número de pessoas que disse que planejava usar menos aviões foi maior do que o número que disse que iria usá-los mais.
Esta tendência foi mais marcada no Reino Unido (30% voam menos v 15% mais), Itália (34% menos v 18% mais), Alemanha (31% menos v 17% mais) e Índia (42% menos v 21% mais).
No entanto, em muitos outros países, o inverso era verdadeiro, particularmente no Brasil (22% voam menos v 41% mais) e Nigéria (20% menos v 50% mais).
Nos Estados Unidos, China, França e Japão, havia pouca diferença entre os dois.
A tendência foi igualmente desigual quando se tratou de planos para férias no exterior após a pandemia, em comparação com antes.
Na Suécia, Brasil, Egito e Nigéria, um número maior planejou mais férias no exterior do que menos. No Reino Unido, Itália, Alemanha, China e Tailândia, por outro lado, a tendência era mais para feriados domésticos.
Em termos climáticos, a descoberta mais alarmante da pesquisa foi a intenção generalizada de dirigir mais após a pandemia do que antes, apesar dos esforços em muitos países para criar mais espaço nas cidades para meios de transporte seguros e sustentáveis.
Essa tendência foi aparente em todos os 26 países da pesquisa e mais pronunciada no Brasil, onde 62% disseram que usariam o carro mais do que antes da pandemia, enquanto apenas 12% disseram menos, e a África do Sul 60% mais e 12%.
Nos EUA e na Austrália, mais de 40% esperam dirigir mais do que antes, em comparação com 10% a menos.
A tendência também foi aparente, mas menos forte no Reino Unido, Itália, Alemanha, Índia e China. Embora isso possa ser em parte devido às dificuldades de espaçamento social adequado no transporte público, significa mais tráfego, mais congestionamento e mais emissões.