Um grupo de pesquisadores deu início ao estudo do fundo do mar de Fernando de Noronha. O objetivo é analisar o chamado bentos, áreas de substrato onde vivem corais, algas e pequenos peixes.
Os primeiros resultados já mostram que há alterações e agora os pesquisadores querem saber qual é a influência do aquecimento global, do turismo e até do peixe-leão, espécie invasora e venenosa identificada na ilha desde dezembro de 2020, neste cenário.
A professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Liana de Figueiredo Mendes, coordena o estudo. Ela pesquisa o mar de Noronha há 25 anos e recebeu uma solicitação do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) para comparar os ambientes aquáticos do passado e atual.
“Sabemos que em algumas áreas onde ocorriam esponjas e corais, não há mais esse registro. O fundo marinho dá sustentação para toda a cadeia produtiva do recife”, informou Liana Mendes.
A pesquisadora tem o levantamento das áreas feito há mais de 20 anos. A pesquisa vai comparar as regiões submersas com o mesmo método feito no passado, que é uma amostragem por quadrante. Na metodologia são utilizadas imagens em vídeo e fotografias.
“Vamos avaliar os mesmos pontos registrados 25 atrás, usaremos o mesmo método. Vamos fazer amostragem por quadrante; nós mergulhamos, registramos a percentagem e a cobertura de espécies existentes”, explicou Liana Mendes.
Ela disse disse que, na análise preliminar, foi possível identificar que algumas áreas estão preservadas e outro lugares não estão com boa cobertura de fundo, como a chamada Laje Dois Irmãos.
“A Laje Dois Irmãos tinha muitos corais e é possível ver que eles estão diminuindo. Ainda não é possível saber o motivo. Vamos avaliar e a expectativa é que em dois anos devemos ter algumas repostas”, afirmou a professora.
Já a área conhecida como Ponta da Sapata, os estudos iniciais apontam que a região está preservada.
Ao final do trabalho os pesquisadores podem propor ao ICMBio um manejo das áreas de mergulho, por exemplo, para ajudar na recuperação da região.
Aquecimento global
O aquecimento global pode ser um dos principais responsáveis pelas mudanças no fundo do mar em Fernando de Noronha.
Há 25 anos a água do mar em Noronha, no período mais frio, contava com temperada de 25 graus; atualmente, chega a 26 graus. Nos períodos mais quentes, era entre 28 e 29 graus; hoje são registrados até 30 graus no verão.
O peixe-leão também pode ameaçar as espécies do fundo do mar. “Vamos coletar o peixe-leão e analisar a genética do estômago. Queremos saber se eles estão se alimentando dos pequenos peixes da ilha”, disse Liana Mendes.
O trabalho também conta com a participação do estudante de mestrado André Reis e com a colaboração do professor Sérgio Queiroz Lima.
A coleta de dados é feita através de mergulho de apneia e de mergulho autônomo, com apoio das empresas que realizam a atividade em Fernando de Noronha.
Fonte: G1