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MUDANÇA IRREVERSÍVEL

Pesca impacta memória coletiva de arenques e desloca rota tradicional de desova em 800 km

Estudo norueguês publicado na revista Nature revelou que pesca de peixes mais velhos rompeu transmissão cultural entre gerações e alterou rota migratória histórica

14 de maio de 2025
2 min. de leitura
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Cardume de arenques. Foto: Getty Images

A pesca seletiva por idade está provocando transformações profundas nos ecossistemas marinhos. Um estudo liderado pelo Instituto de Pesquisa Marinha da Noruega revelou que o arenque norueguês de desova primaveril (NSS) sofreu uma mudança inédita em sua rota migratória por conta disso: as áreas de desova dessa população se deslocaram cerca de 800 quilômetros rumo ao norte, uma consequência da perda da memória coletiva entre os cardumes.

O arrastamento, o processo pelo qual as rotas migratórias são transferidas dos indivíduos mais velhos para os mais novos por meio da aprendizagem social, é parte integrante da cultura migratória de populações de peixes em cardumes. Mas a pesca seletiva por idade, visando peixes mais velhos, pode interromper essa transmissão cultural, fragmentando as rotas estabelecidas.

No estudo “Herring spawned poleward following fishery induced collective memory loss” (Arenque desovou em direção aos polos após perda de memória coletiva induzida pela pesca), publicado na prestigiosa revista Nature, os pesquisadores conduziram uma análise observacional integrativa combinando registros de pesca abrangendo 1995 a 2024, pesquisas científicas de arrasto acústico realizados anualmente entre 2018 e 2024 e experimentos de marcação de arenques entre 2016 e 2023 para avaliar se o aprendizado social interrompido alterava a geografia da desova.

Historicamente, o arenque NSS migrou até 1.300 km ao sul das áreas de inverno nas águas do norte da Noruega para desovar ao longo da costa oeste, em Møre. Os resultados da recente análise indicaram uma migração substancial para o norte, com o centro de atividade de desova se deslocando aproximadamente 800 km, de Møre para Lofoten.

Os dados de arrasto acústico mostraram uma redução acentuada na sobreposição espacial entre recrutas e peixes mais velhos durante os períodos de desova, limitando as oportunidades de transmissão cultural de rotas migratórias. Além disso, dados de recaptura de indivíduos marcados confirmaram que cardumes subsequentes adotaram progressivamente a rota de migração para o norte recém-estabelecida, reforçando a mudança observada na geografia de desova.

Os pesquisadores alertaram que, agora que um novo padrão migratório surgiu, reforçado pela memória coletiva da migração, restaurar padrões históricos pode ser impossível.

Fonte: Um só Planeta

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