Não é de hoje que a pesca traz sérios problemas ao meio ambiente, mas somente há pouco tempo a mídia resolveu dedicar atenção a este assunto. Em poucos dias, li diversas matérias sobre a relação da pesca exacerbada com as mudanças climáticas. Segundo a Folha de S. Paulo, um relatório do Estado da Pesca Mundial e Aquacultura (SOFIA) concluiu que a sobrepesca, diminuição do número de peixes para abaixo do nível aceitável, precisa de atitudes drásticas. Afirmou, também, que “as modificações no clima já estão atingindo as espécies de animais e plantas que vivem no mar. As que vivem em águas mais quentes estão sendo empurradas para os polos e experimentando mudanças no tamanho do seu habitat e em sua produtividade”.
A mesma matéria traz uma citação que merece ser destacada e pensada com cautela. Kevern Cochrane, um dos principais cientistas do estudo, disse: “São necessários esforços com urgência para ajudar comunidades de pesca a fortalecerem sua resistência à mudança climática, especialmente aquelas que são mais vulneráveis”.
Esforços para ajudar a pesca a tornar-se resistente à mudança climática? Que contradição! Para que as pessoas permaneçam com seu consumo de peixes intocável, a pesca continuará extrativista de forma não sustentável. Cada camarão que parece inocente no quiosque da praia, cada lula, polvo ou siri, também é retirado do mar com a rede que destrói toda e qualquer vida marinha.
A pesca predatória, responsável por 75% dos peixes comercializados, chegou ao ponto de colocar em pré-extinção espécies como atum e linguado. As mudanças climáticas têm feito com que a chuva seja mais ácida e, somada a isso, a pesca é o principal agravante, especialmente a realizada em águas profundas, que chega a destruir corais de centenas de anos. É importante lembrar o estudo realizado pela ONU – FAO em 2007 (Organização das Nações Unidas para a agricultura e alimentação), o qual afirmou que 64% do total de amônia, principal causadora de chuvas ácidas, vêm da pecuária. Soma-se a essa informação o alerta dos cientistas reunidos no Taiti no começo de março, para o XI Congresso de Ciências do Pacífico, sobre o risco de extinção dos recifes de corais. Para que a recuperação das vidas marinhas fosse viável, as águas precisariam estar limpas, o que está cada vez mais distante da realidade.
Se os pescadores aderirem a uma nova forma de pescar, terá que ser tão agressiva quanto a usada hoje, já que a oferta permanecerá a mesma. O ideal não é buscar soluções paliativas para todos os malefícios da pesca e torná-la aparentemente forte, mas aboli-la. Se essa prática é prejudicial ao meio ambiente e agravante às mudanças climáticas, se podemos nos alimentar tranquilamente sem peixes no cardápio, se queremos melhorias efetivas ao meio ambiente, devemos nos posicionar contra a pesca com urgência.