O Brasil abriga uma das maiores biodiversidades de peixes cartilaginosos (como tubarões e arraias), com um total de 168 espécies (151 marinhas). Eles integram o grupo que apresentou as maiores porcentagens de espécies ameaçadas, entre todos os grupos de fauna que o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) avaliou nos últimos três a quatro anos no Brasil.
O trabalho envolveu dezenas de especialistas brasileiros e mostrou que cerca de 40% das 151 espécies brasileiras estão ameaçadas, sendo 18% “criticamente ameaçadas”; 5% “em perigo”; 16%, “vulneráveis”; e 1% já é considerado “regionalmente extinto”.
Do total, explica a gerente de biodiversidade aquática e recursos pesqueiros (GBA) do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Mônica Brick Peres, 34% foram classificados como dados insuficientes. “Podem estar também ameaçadas, mas não temos informações suficientes para dizer em que categoria esses espécies se enquadram”, afirma a especialista, que é doutora em Oceanografia Biológica. No entanto, a pesca ainda é a principal ameaça à existência de 90% desses peixes.
Cerca de 40% das 151 espécies brasileiras estão ameaçadas
As 151 espécies marinhas habitam todos os ambientes e ecossistemas, desde águas bem próximas à costa, até a plataforma e talude – porção dos fundos marinhos com declive muito acentuado, localizada entre a plataforma e a margem continental, ou “sopé continental”.
Baixa fecundidade
“São seres interessantíssimos, pois apresentam estratégia de vida única e estão entre as espécies mais vulneráveis e sensíveis à ação humana nos nossos mares, e a maioria deles tem baixa fecundidade”, ressalta a pesquisadora.
O problema, explica, é que algumas dessas espécies têm apenas um ou dois filhotes a cada três a cinco anos, possuem alta longevidade, podendo viver de 80 a 130 anos, sendo que a maturação sexual ocorre muito tarde. Há espécies que se tornam adultas aos 20, 25 anos de idade. Além disso, a maioria delas forma grandes cardumes ou agregações, em locais e épocas definidas para a ocorrência do parto, ou para cópula, ou mesmo para se alimentar.
Vulnerabilidade à pesca
Em função dos hábitos, essas espécies tornam muito vulneráveis à pesca e, quando ameaçadas de extinção, sua recuperação populacional ocorre muito lentamente, alerta Mônica Peres. Algumas espécies podem levar mais de 300 anos neste processo de recuperação, mesmo que todas as medidas necessárias sejam tomadas a tempo.
Os tubarões têm papel ecológico fundamental na manutenção dos ecossistemas marinhos e são responsáveis pelo equilíbrio populacional da maioria dos peixes. Em muitas regiões do mundo, a diminuição ou desaparecimento dos tubarões fez com que as outras espécies entrassem em colapso. “Por tudo isso, os tubarões precisam ser conservados e protegidos”, insiste Mônica Peres.
Fonte: iBahia