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IMPORTANTE TRABALHO

Periquita cara-suja: como ONG do Ceará ajuda a salvar esta ave rara da extinção

18 de março de 2023
Vivian Guilhem | Redação ANDA
3 min. de leitura
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Filhote de periquito cara-suja Imagem: Aquasis/Bruno Lindsey

Um projeto de conservação ambiental no estado do Ceará está ajudando a recuperar a população do periquito cara-suja (Pyrrhura griseipectus), uma espécie em sério risco de extinção. O Projeto Cara Suja, mantido pela ONG cearense Aquasis, com recursos internacionais da Loro Parque Fundación, da Espanha, e da alemã ZGAP, está localizado na Serra do Baturité, cerca de uma hora de Fortaleza, e já levou a um crescimento de 1.000% na população da ave nos últimos 10 anos.

Em 2010, apenas 100 representantes da espécie foram encontrados na região. Hoje, estima-se que haja pelo menos 1.000 indivíduos na natureza. O trabalho, realizado no bioma Mata Atlântica, conta com apoio da população local e com uma forte campanha de conscientização.

O principal desafio encontrado pelos pesquisadores foi encontrar locais para que as aves pudessem botar ovos. Isso porque o periquito cara-suja usa espaços ocos nas árvores para fazer seus ninhos, lugares cada vez mais raros devido ao desmatamento das matas do Nordeste. A solução criada pela equipe do projeto foi desenvolver a chamada caixa-ninho, que imita as cavidades naturais dos troncos vegetais.

A reprodução do cara-suja ocorre apenas uma vez por ano, entre fevereiro e junho, e a fêmea coloca em média seis ovos. O apoio da comunidade local foi fundamental para o sucesso do projeto. “As caixas-ninhos ficam em locais privados, e temos um processo de parceria com moradores locais. Pedimos autorização para a instalação e assim criamos um pacto com eles, inclusive de não capturar o cara-suja”, conta o biólogo Fábio Nunes, coordenador técnico do projeto Cara Suja.

“Conscientizar as populações locais contra a captura e o tráfico de animais é um passo importante para atuar contra essas atividades. Assim como entender quais os motivos pelos quais as pessoas se envolvem nisso”, analisa Helga Corrêa, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

Hoje, existem 180 caixas-ninhos espalhadas em sítios e em áreas da mata onde os periquitos são mais disseminados. Os próprios donos dos sítios e chácaras ajudam no monitoramento, verificando se há ovos e reportando à equipe. Eles também observam se outras espécies estão utilizando essas caixas, como corujas, por exemplo.

“Se outros animais usam esse artifício é porque essas cavidades estão escassas na natureza, e isso preocupa. Esperamos que a Serra chegue a um ponto natural em que essas caixas não sejam mais necessárias, pois usamos esse recurso em uma situação emergencial”, pontua Nunes.

Entre 2010 e 2022, aproximadamente 2,4 mil filhotes do periquito cara-suja voaram graças ao projeto.

O projeto Cara Suja, desenvolvido pela ONG cearense Aquasis, enfrentou grandes desafios desde o seu início. No começo, o desmatamento das matas, a caça e o tráfico de aves foram os principais problemas enfrentados pelos pesquisadores. Entretanto, com o passar do tempo, a especulação imobiliária se tornou o maior desafio.

Baturité, onde se desenvolve o projeto, é uma região muito buscada por conta do clima ameno, mais frio e por estar próximo à capital Fortaleza. A construção de imóveis tem crescido muito na região, o que tem levado à destruição do habitat natural das aves e a uma diminuição em sua população.

Apesar de a Serra de Baturité ser considerada uma Área de Proteção Ambiental desde 1990, a construção de imóveis continua na área. As pessoas desmatam e destroem os lares e ninhos das aves, e mesmo pagando multas, seguem habitando a região. A situação é difícil de combater, pois a ONG compete com empreendimentos milionários.

O projeto da Aquasis é uma das duas únicas iniciativas no Brasil que conseguiram recuperar a população de uma espécie de ave, sendo a outra o projeto da arara-azul de lear, na Bahia. A ONG tem se dedicado a preservar a população de pássaros da região de Baturité, por meio de pesquisas, educação ambiental e ações de conservação.

É importante que a sociedade esteja ciente dos problemas enfrentados pela fauna e flora do país e apoie iniciativas como o projeto Cara Suja, que buscam preservar a biodiversidade brasileira. Ações individuais e coletivas são essenciais para garantir um futuro sustentável para o planeta.

 

Com informações de: Uol

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