Um dos responsáveis por ajudar a encontrar quatro crianças que sobreviveram a um acidente aéreo na selva colombiana, o cão Wilson — que desapareceu na floresta após o término das operações de resgate e segue com paradeiro desconhecido — foi homenageado durante o tradicional desfile local do Festival Folclórico Colombiano. Uma espécie de carro alegórico reproduzindo o animal, com 4,5 metros, feito por artistas locais, cruzou avenidas da cidade de Ibagué, sendo aplaudido pelo público.
“Wilson é um herói, Wilson vai voltar, ainda está vivo em nossos corações”, disse um grupo de jovens que acompanhava o cortejo.
Os soldados que procuravam há semanas pelo cão Wilson esperavam que o pastor belga de 6 anos usasse seu “instinto de caça” para sobreviver até que pudesse ser encontrado. O comandante de operações especiais das Forças Armadas da Colômbia, general Pedro Sánchez Suárez, admitiu que considera “improvável” a localização de Wilson. As buscas foram suspensas.
Wilson é um “descendente direto do lobo” e recebeu treinamento especializado para missões humanitárias de resgate. Mas, durante as buscas pelas crianças, Wilson quebrou a coleira que o prendia a seu guia e mergulhou na selva. Os pequenos apareceram; Wilson, não. Ou, quando apareceu, mostrou-se arredio e fugiu novamente das equipes.
Setenta oficiais uniformizados e apoiados por duas cadelas no cio se engajaram nas buscas pelo animal na área do departamento de Caquetá. “Jamais se abandona um companheiro”, afirmavam as Forças Militares da Colômbia.
Elas ficaram 40 dias perdidas
Quando nasceu, Wilson era o mais forte da “Ninhada W” – assim chamada porque todos os filhotes foram batizados com nomes que começam com essa letra. Ele treinou por 14 meses na na Escola de Engenheiros Militares, localizada na zona sudeste da capital colombiana. Na época, o pastor belga Malinois macho já era “forte, sem medo, muito curioso”, como relatou Edgar Fontecha, instrutor canino da escola militar.
Wilson foi treinado nesse centro militar para realizar atividades como detectar explosivos e drogas, fazer resgates sob os escombros de edifícios colapsados e rastrear pessoas em missões humanitárias — esta última se tornou a sua especialidade.
La carroza en homenaje a Wilson hizo parte del Desfile Nacional del Folclor en Ibagué, tras la insistencia de cientos de ibaguereños que pidieron su ingreso al evento💚.
Los amigos no se abandonan✊✊🐾 pic.twitter.com/8oTSk4VteI— Plataforma ALTO (@PlataformaALTO) July 3, 2023
A raça do animal, que historicamente foi treinada para conduzir rebanhos, passou a ser adestrada para fins militares diante de suas habilidades extraordinárias. Mas Wilson desenvolveu um talento raro, pelo seu temperamento. Segundo o “Cambio Colombia”, de uma ninhada de oito a dez animais, provavelmente apenas um vai se tornar “espetacular”, como ele é, para buscas e missões humanitárias; com sorte, às vezes dois.
Entre as habilidades marcantes da raça estão o olfato muito apurado — o que os favorece no rastreamento de pessoas e drogas, por exemplo — e uma condição física robusta, quase incansável. Em cerca de 14 meses de treinamento, os cães como Wilson se tornam capazes de descer com o condutor de helicóptero, corda e rapel e aprendem a superar obstáculos no campo e na cidade.
“Eles são a coisa mais próxima de um cachorro Rambo”, resume o site local “Cambio Colombia”, em referência ao protagonista interpretado nas telas por Sylvester Stallone.
Como pastor belga Malinois, raça nativa da cidade belga de Mechelen, Wilson é muito leal. Um único tutor militar acompanha o animal ao longo de toda a sua vida e nas diferentes operações de que participa. Cristian David Lara, responsável por Wilson, permanece na floresta para tentar encontrar pistas de seu paradeiro.
“É um cachorro muito forte, muito bem treinado”, disse à AFP o soldado Elvis Porras, instrutor canino da Escola de Engenheiros Militares, onde Wilson treinou.
Durante as missões, os cães não seguem junto aos soldados nas buscas. Eles recebem um objeto com o cheiro da pessoa perdida e se lançam pela região para tentar encontrá-la. Outro cão, de nome Ulises, foi liberado da operação depois de ser encontrado desidratado e com náuseas. Wilson já havia se perdido outras vezes, mas voltava ao comando após alguns dias, também desidratado, e logo retomava os trabalhos.
Os soldados torciam para que, assim como as crianças, Wilson conseguisse evitar cobras, onças, onças e outros predadores que rondam a selva.
Fonte: O Globo