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ABSORÇÃO

Perda de umidade do ar agrava secas em 40% nos últimos 40 anos

Aquecimento global aumenta demanda atmosférica por umidade e intensifica secas mesmo onde precipitação se mantém estável

8 de junho de 2025
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Pixabay

Pesquisa publicada na revista Nature analisou dados de mais de um século e descobriu que atmosfera aquecida funciona como “esponja gigante” que retira água de cultivos, florestas e rios mais rapidamente que a reposição natural.

Um fenômeno até então pouco compreendido está por trás do agravamento das secas ao redor do mundo: a crescente “sede” da atmosfera por água.

Segundo novo estudo publicado na prestigiosa revista científica Nature, essa demanda crescente por umidade tornou as secas 40% mais severas globalmente nos últimos 40 anos, mesmo em regiões onde a quantidade de chuvas permaneceu inalterada.

A descoberta desafia a visão tradicional de que as secas são causadas principalmente pela falta de precipitação. Os pesquisadores identificaram que o aquecimento do ar está aumentando significativamente a capacidade da atmosfera de extrair umidade do solo, rios e plantas.

A esponja invisível no céu

O conceito-chave por trás dessa descoberta é a demanda evaporativa atmosférica (DEA), que funciona como uma esponja gigante no céu. À medida que o ar se aquece, ele consegue absorver mais vapor d’água, criando uma demanda crescente por umidade que muitas vezes supera a capacidade de reposição natural.

“À medida que a atmosfera aquece, o ar com umidade relativa constante retém mais vapor d’água, então a precipitação pode aumentar. Mas, ao mesmo tempo, espera-se que a demanda por evaporação atmosférica também aumente”, explicam os pesquisadores no estudo.

A questão central que a pesquisa buscou responder era: qual fenômeno está crescendo mais rapidamente – a oferta de água através das chuvas ou a demanda atmosférica por umidade?

Metodologia revela tendência alarmante

Para chegar a essas conclusões, os cientistas utilizaram um conjunto de dados de alta resolução cobrindo mais de um século e aplicaram métodos avançados para rastrear como a DEA evoluiu ao longo do tempo. A equipe comparou o abastecimento de água baseado na precipitação com a demanda evaporativa atmosférica usando diversos bancos de dados científicos de referência.

Os resultados foram claros: a demanda evaporativa atmosférica aumentou mais rapidamente do que as taxas de precipitação, indicando uma tendência preocupante em direção a condições mais secas. Em regiões quentes, o aumento de apenas alguns graus na temperatura pode elevar drasticamente a capacidade da atmosfera de extrair umidade de cultivos, pastagens e florestas.

Impactos além da agricultura

As implicações desta descoberta vão muito além dos efeitos diretos na agricultura. O estudo reforça evidências de que as secas se tornarão mais intensas em um mundo em aquecimento, com consequências graves para a segurança alimentar e hídrica global. Essas mudanças podem, por sua vez, amplificar a instabilidade política e gerar conflitos.

Uma conexão mais imediata pode ser observada na relação entre o aumento da DEA e os incêndios florestais. Uma atmosfera mais “sedenta” resseca a vegetação, contribuindo para incêndios de maior magnitude e intensidade.

Preparando-se para o futuro

Diante desses achados, os pesquisadores enfatizam a importância crítica de sistemas de alerta precoce, gestão eficaz de riscos de seca e ações preventivas. A previsão mais precisa das secas e do aumento da demanda atmosférica pode possibilitar intervenções mais eficazes.

Os agricultores, por exemplo, podem adotar tecnologias como microirrigação ou tratamentos de solo que aumentem a retenção de água para compensar o aumento da DEA. Cidades e ecossistemas também precisarão desenvolver estratégias de adaptação para um mundo onde a atmosfera demanda constantemente mais umidade.

O estudo abre caminho para novas linhas de pesquisa sobre como a evaporação e a demanda atmosférica interagem não apenas com os padrões de precipitação, mas com todo o sistema de abastecimento de água. Compreender essas interações será fundamental para desenvolver estratégias de adaptação eficazes em um clima em transformação.

Fonte: EcoDebate

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