Estudos têm mostrado que apenas uma pequena parte da Terra hoje está completamente “intocada” pelos seres humanos, mas análises recentes apresentaram uma visão alucinante sobre o quão profundo vai o impacto do homo sapiens. Foi descoberto que, por estar causando um aquecimento global que leva a uma dramática perda de gelo nos polos, as atividades humanas estão essencialmente contorcendo a crosta terrestre.
Intenso nos polos
O aquecimento global, que está fortemente ligado com a queima de combustíveis fósseis, está tendo um impacto significativo no planeta. Está, por exemplo, aquecendo e acidificando os oceanos. Isso, por sua vez, está matando os recifes de corais.
Os polos em particular estão aquecendo mais rápido que o resto do mundo, com algumas variações em áreas diferentes da Antártica. Nessas regiões congeladas, o aquecimento está derretendo o gelo em taxas extensas. O ártico, por exemplo, reduziu a sua segunda menor quantidade de gelo em 2020. O ártico é um oceano congelado que descongela até certo ponto todo verão.
Em contraste, a Antártica é um continente coberto de gelo e uma coleção de ilhas, com prateleiras de gelo projetando-se deles. Como a Nasa mostrou, entre 2002 e 2020 a Antártica perdeu cerca de 149 bilhões de toneladas métricas de gelo anualmente, majoritariamente da Antártica oeste (as ilhas).
Impactos generalizados
O derretimento do gelo, que ocorre devido a mais aquecimento na atmosfera e no oceano, impacta o resto do mundo de várias maneiras. Na Antártica, o derretimento do gelo leva a um aumento global do nível do mar. A maioria do gelo que existe está na terra, então quando derrete e vai para o oceano, adiciona volume. O mesmo não vale para o ártico, como um oceano congelado. No entanto, o derretimento da camada de gelo da Groenlândia e das ilhas no ártico também levam ao aumento do nível do mar.
O gelo é também altamente reflexivo, então, quando derrete, mais calor do sol pode penetrar no planeta. Assim como, a perda de gelo essencialmente enfraquece a capacidade da Terra de parar o aquecimento global. Enquanto isso, estudos mostraram que o derretimento de gelo tanto no ártico como na Antártica poderia estar afetando os padrões climáticos em lugares tão distantes como os trópicos.
Urdidura da Terra
Um artigo lançado em setembro também descobriu que o derretimento do gelo está levando a uma contorção da crosta terrestre. Isso porque a Terra está respondendo – fluidamente – a mudança da paisagem. Como um dos autores do artigo, Sophie Coulson, explicou: “ Pense uma tábua de madeira flutuando no topo de uma banheira de água. Quando você empurra a tábua, a água abaixo dela desce. Se você pegá-la, verá a água se movendo verticalmente para preencher aquele espaço”.
No imaginário de Coulson, a banheira de água é a Terra. Então quando o gelo derrete a água distribui, a crosta terrestre reage às mudanças de pressão vindas de cima. Logicamente, seria de se esperar que a crosta terrestre se expandisse para cima, no local onde a pressão de gelo desaparece. Mas o artigo descobriu que “ os movimentos horizontais associados à perda de massa do gelo excedem as taxas verticais em muitas áreas de campo distantes”.
Pesquisadores basearam as descobertas do artigo, publicadas pela Geophysical Research Letters, em dados de satélite de derretimento de gelo de 2003 a 2018 e análises do movimento da crosta terrestre.
Consequências da contorção da crosta
A mudança da crosta pode, por sua vez, afetar o gelo remanescente, de acordo com o artigo. Coulson disse: “Em algumas partes da Antártica, por exemplo, a recuperação da crosta está mudando a inclinação do leito rochoso sob o manto de gelo, e isso pode afetar as dinâmicas do gelo”.
Enquanto isso, IFLSCIENCE relataram que o movimento da crosta também pode ajudar a explicar porque algumas áreas do mundo experimentaram quedas no nível do mar, e não aumentos, nos últimos anos. Isso poderia estar relacionado com a recuperação da crosta em certos lugares, sugeriu.
Coulson também apontou que o movimento cristal pode ter implicações generalizadas para estudar e entender a Terra. Explicou ela: “Entender todos os fatores que causam movimentos da crosta é muito importante para uma ampla gama de problemas das ciências da Terra. Por exemplo, para observar com precisão os movimentos tectônicos e atividades sísmicas, nós devemos ser capazes de separar este movimento gerado pela perda de massa de gelo dos dias modernos”.
Ciência
O estudo ilustra a evolução – e muitas vezes surpreendente – da compreensão que os cientistas têm de como o planeta é impactado pela crise climática.
Outro exemplo recente da mudança de entendimento diz respeito à melange do gelo. É uma mistura de água de oceano congelada, neve e pedaços de iceberg que tipicamente age como uma cola para ligar os maiores segmentos de plataformas de gelo junto, Pesquisadores descobriram que o aquecimento global está levando a deterioração dessa cola. Eles afirmam que tal afinamento da melange é um fator significante para o colapso das plataformas de gelo.
Eric Rignot, co-autor de um artigo sobre a descoberta, alertou: “ com isso em mente, nós precisaremos repensar as nossas estimativas sobre o tempo e a extensão do aumento do nível do mar da perda de gelo polar – i.e., pode ocorrer mais cedo e com um estrondo bem maior do que esperado”.
Nós sabemos o suficiente
Muitos artigos científicos já estão firmes na parede, mas, em termos de como os polos estão se saindo em meio ao aquecimento global.
O gelo ártico multianual, que é mais fino e mais velho, atingiu “ um dos níveis mais baixos no registro da idade do gelo” em 2021, de acordo com a US National Snow and Ice Data Center. Na verdade, as 15 menores quantidades anuais de gelo ártico foram registrados nos últimos 15 anos. O registro do satélite remonta a 43 anos. Perda de gelo no ártico tem sérios impactos na vida selvagem lá também, bem como, rompendo a cadeia alimentar. Enquanto isso, choveu no ponto mais alto do manto da Groenlândia em agosto pela primeira vez na história dos registros.
Em resumo, embora os cientistas, sem dúvidas, façam mais descobertas sobre a reação dos polos com a crise climática, nós já sabemos o suficiente. É claro que a não ser que pisem no freio de mão e tentemos recuar o mais rápido possível do caminho de aquecimento do planeta em que estamos, não há nada além de icebergs (derretido) à frente.