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LEVANTAMENTO

Perda de florestas em 2024 sobe 80% devido a incêndios e bate recorde no mundo; Brasil lidera em danos

Dano recorde às florestas tropicais registrou alta de 3 milhões de hectares de um ano para outro. Condições de seca e calor no ano passado, o mais quente já registrado, impulsionaram fogo, mostra relatório do WRI

21 de maio de 2025
Marco Britto
6 min. de leitura
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Brigadistas combatem fogo no Pantanal na temporada de 2024. Foto: Divulgação/Governo do MS

Os trópicos perderam um recorde de 6,7 milhões de hectares (Mha) de floresta tropical primária em 2024, uma área quase do tamanho do Panamá. Impulsionado em grande parte por incêndios florestais severos, o resultado é o maior já registrado nas últimas duas décadas, aponta levantamento da Universidade de Maryland e do WRI (World Resources Institute) divulgado nesta quarta-feira (21/05).

Entre 2023 e 2024, a supressão da cobertura florestal nos trópicos, região considerada foco do desmatamento no mundo e também a mais importante do ponto de vista de biodiversidade, aumentou de 3,74 Mha para 6,73 Mha, uma alta de 80%. Apenas o fogo causou a metade das perdas do ano passado, afirma o documento, um impacto quase igual a todo o resultado de 2023.

O Brasil teve papel decisivo para este aumento, sendo o país com a maior área perdida de florestas tropicais primárias, que são as matas mais antigas e preservadas, com árvores centenárias. Apenas em 2024, o país teve 2,82 Mha de florestas destruídas.

Os números do levantamento do WRI têm enfoque diferente do mapeamento do desmatamento no Brasil, publicado pela rede MapBiomas no último dia 15. Apesar de o desmate ter caído nos biomas brasileiros no ano passado, no caso do WRI é considerada a perda global de florestas tropicais, um quesito que, mesmo no contexto de diminuição nacional, o Brasil ainda é um líder mundial. Um diferencial do mapeamento global é considerar toda área destruída por incêndios, além de outros vetores de pressão, algo que estudos exclusivos sobre o desmatamento não fazem, pois nem sempre incêndios são considerados desmatamento, a depender da metodologia.

A Bolívia, também afetada pelo fogo da temporada passada na América do Sul, ficou em segundo lugar no ranking mundial com 1,48 Mha de vegetação danificada.

Entre os vetores dessa destruição estão principalmente incêndios, que queimaram cinco vezes mais floresta tropical primária em 2024, a extração de madeira e o desmatamento para expansão agrícola, esta última ainda a principal causa histórica de perda florestal, segundo o WRI.

“Embora as florestas possam se recuperar após incêndios, os efeitos combinados da mudança climática e conversão de florestas para outros usos da terra, como a agricultura, podem dificultar essa recuperação e aumentar o risco de incêndios futuros”, destaca o relatório.

Os incêndios do ano passado foram turbinados por uma combinação de seca extrema, calor e ventos, uma situação gerada pela combinação do fenômeno El Niño e mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, afirmam os pesquisadores.

A combinação de fatores meteorológicos que aumentam a intensidade e a área atingida pelos incêndios florestais em 2024 teve efeito também fora da região tropical do planeta, aponta o levantamento. A perda global total de florestas do planeta aumentou 5% em comparação com 2023, atingindo 30 milhões de hectares. Fora dos trópicos, os incêndios também impulsionaram a maior parte do aumento da perda de cobertura arbórea e foram especialmente danosos no Canadá e na Rússia.

“2024 foi a primeira vez desde o início dos registros [em 2001] que grandes incêndios ocorreram tanto nos trópicos quanto nas florestas boreais, resultando na emissão de 4,1 milhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera, o equivalente a mais de quatro vezes as emissões de viagens aéreas em 2023”, sinalizam especialistas.

No Brasil, além de incêndios, a perda de floresta primária foi causada principalmente pelo desmatamento de florestas para cultivo de soja e a pecuária, aponta o relatório.

“O Brasil tem mais florestas primárias tropicais do que qualquer outro país do mundo e continua sendo o maior contribuinte para a perda florestal, representando 42% de toda a perda de florestas tropicais primárias nos trópicos. As taxas de perda não relacionada a incêndios também aumentaram 13% em 2024 em comparação com 2023.”

A Amazônia teve em 2024 a maior supressão de florestas desde 2016, saltando 110% de 2023 a 2024. No ano passado, 60% dessa perda no bioma foi devido a incêndios, além da expansão agrícola baseada em desmatamento ilegal.

O Pantanal teve o maior percentual de perda de cobertura arbórea entre os biomas, perdendo 1,6% de sua vegetação (mais do que o dobro da taxa de 0,83% para todo o Brasil). Considera-se que 57% desta destruição seja devida a incêndios florestais, todos causados por intervenção humana, segundo o governo federal e especialistas consultados por Um Só Planeta durante a temporada do fogo.

No Cerrado, a perda de vegetação diminuiu 14% entre 2023 e 2024, embora isso esteja dentro das flutuações anuais normais, afirma o levantamento.

Na avaliação do estudo, políticas de conservação são fundamentais, bem como mais investimentos em programas nacionais de prevenção de incêndios, como o Prevfogo, que treina comunidades locais para responder a incêndios e praticar o manejo sustentável de terras sem o uso do fogo.

Fonte: Um só Planeta

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