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PECULIARIDADES

Pequenos notáveis: conheça os segredos por trás do metabolismo extremo dos beija-flores

Acrobatas aéreos são capazes de sobreviver com uma dieta quase só de açúcar e entrar em um estado de torpor noturno que os deixa em semi-coma para economizar energia

13 de outubro de 2024
Redação Um Só Planeta
5 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Para os cientistas que os estudam, os beija-flores oferecem muito mais do que o belo espetáculo visual que assistimos quando observamos esse pequeno pássaro em ação. Sua dieta rica em néctar leva a níveis de açúcar no sangue que colocariam uma pessoa em coma. E seu voo rápido às vezes gera forças G altas o suficiente para fazer um piloto de caça desmaiar. Quanto mais os pesquisadores olham, mais surpresas encontram nesses minúsculos corpos, os menores do mundo das aves.

Durante anos, a maioria dos investigadores presumiu que os beija-flores passavam apenas cerca de 30% do dia envolvidos na tarefa que consome muita energia, de voar de flor em flor e beber néctar, enquanto descansavam a maior parte do tempo. Mas quando a ecologista fisiológica Anusha Shankar examinou atentamente estes animais, descobriu que muitas vezes eles trabalham bem mais do que isso.

Tempo de voo

Usando uma combinação de métodos experimentais, ela mediu a taxa metabólica das aves durante diversas atividades e estimou o gasto energético diário total. Adicionando dados publicados anteriormente, Shankar foi capaz de calcular o custo de energia por minuto para pousar, voar e pairar. “Acabamos descobrindo que [o tempo passado voando] é supervariável”, disse Shankar à Smithsonian Magazine.

Durante o início do verão, quando as flores são abundantes, as necessidades diárias de energia são satisfeitas apenas com apenas algumas horas de alimentação, com as aves passando até 70% do dia apenas empoleirando-se.

Mas, quando as flores se tornaram mais escassas, após a chegada das chuvas de verão, os pássaros de um determinado local empoleiravam-se apenas 20% das horas em que estavam acordados e usavam o resto do dia para se alimentar. “São 13 horas por dia! Não tenho como passar 13 horas por dia correndo. Não sei como eles fazem isso”, comentou ela.

Dieta hiper calórica

Para alimentar a sua taxa metabólica altíssima, os beija-flores sugam cerca de 80% do seu peso corporal em néctar todos os dias. Isso é o equivalente a uma pessoa de 70 quilos bebendo quase cem garrafas de refrigerante diariamente. O intestino humano é incapaz de absorver açúcar tão rapidamente, o que é uma das razões pelas quais consumir doce demais perturba o estômago, afirma Ken Welch, fisiologista comparativo da Universidade de Toronto Scarborough.

Os beija-flores, no entanto, possuem intestinos permeáveis. Com isso, na digestão os açúcares podem entrar na corrente sanguínea deles por entre as células intestinais, em vez de apenas através delas. Isso tira o açúcar do intestino rapidamente, antes que possa causar desconforto. Esse transporte rápido, e provavelmente também outras adaptações, permite que os beija-flores atinjam níveis de açúcar no sangue até seis vezes superiores aos observados nas pessoas, quantidade que levaria a sérios problemas de saúde em um ser humano.

Tanto açúcar assim faz com que mais moléculas do tipo se acumulem nas proteínas do nosso corpo, um processo conhecido como glicação que, a longo prazo, causa muitas das complicações do diabetes, como danos nos nervos. Ainda não está claro como os beija-flores evitam os problemas de glicação, disse Welch, mas um estudo já mostrou, por exemplo, que as proteínas das aves contêm menos aminoácidos mais propensos à glicação do que os mamíferos. Essas e outras estratégias, ainda desconhecidas, podem um dia produzir benefícios práticos no controle do diabetes nas pessoas. “Poderia haver uma mina de ouro no genoma do beija-flor”, diz Welch.

Reset noturno

Quando um beija-flor corre o risco de ficar sem energia, ele baixar sua temperatura corporal durante a noite quase até a temperatura do ar circundante – às vezes apenas alguns graus antes do ponto de congelamento. Enquanto está neste torpor, a ave parece quase em coma, incapaz de responder rapidamente aos estímulos e respirando apenas de forma intermitente. A estratégia pode economizar até 95% dos custos metabólicos por hora durante as noites frias, calculou Shankar. Isso pode ser essencial depois de dias em que uma ave comeu menos do que o normal, como depois de uma tempestade. Também ajuda estes pássaros a economizar energia para acumular gordura antes de começar um processo de migração.

Metabolismo versátil

No final do seu jejum noturno, um beija-flor quase esgotou as reservas de açúcar – o que representa um desafio metabólico oposto. “Como ele acorda e voa? Não há nada além de gordura disponível para queimar”, se perguntou Welch.

Os beija-flores evoluíram para serem notavelmente ágeis na mudança entre queimar açúcar e queimar de gordura, descobriu ele. “Isto requer uma enorme mudança nas vias bioquímicas envolvidas”, diz Welch – e acontece em poucos minutos, muito mais rapidamente do que outros organismos conseguem. “Se pudéssemos ter esse tipo de controle sobre o uso de combustível, adoraríamos.”

Fonte: Um Só Planeta

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