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Pensar o planeta. Pensar a educação

23 de maio de 2016
4 min. de leitura
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Quantos anos você terá em 2050? Basta acrescentar 34 anos a sua idade. Aproveite e faça as contas da idade do seu filho ou neto. Bem-vindos ao futuro! Vocês não estão em uma ficção científica. Muito provavelmente, se tudo correr bem até lá, seremos um dos 9,6 bilhões de habitantes, segundo previsão da ONU. A pergunta posta é como será alimentar, fornecer água, disponibilizar energia e meios de transporte para tanta gente? Este cenário não é visto com entusiasmo, ao contrário, tem preocupado bastante quem tem juízo.
O documento intitulado Acordo de Paris, ratificado pelas 195 partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e pela União Europeia, durante a 21ª Conferência das Partes (COP21), tiveram como meta manter o aquecimento global “muito abaixo de 2°C”. De fato, o limite ideal seria 1,5°, patamar menos ameaçador contra os impactos negativos das mudanças climáticas. Esta Convenção, que é universal, reconhece que as mudanças climáticas têm causas antropogênicas, ou seja, de origem humana.
Além da ONU, a academia está se mexendo. Destaco duas relevantes e recentes pesquisas. A primeira, com o título “Análise e avaliação dos cobenefícios para a saúde e mudanças climáticas por uma mudança na dieta”, saiu em março 2016, na Revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Os pesquisadores da Universidade de Oxford (Inglaterra) analisaram quatro cenários projetando 2050. Segundo o Dr. Marco Springmann, que coordenou o estudo, “o sistema de alimentação é responsável por mais de ¼ de todas as emissões de gases de efeito estufa e, portanto, um dos principais motores da mudança climática”. Em um dos cenários, os pesquisadores respondem: o que aconteceria se o mundo inteiro consumisse apenas alimentos de origem vegetal? As emissões de gases do efeito estufa cairiam 70%; 8,1 milhões de pessoas deixariam de morrer por doenças relacionadas à alimentação todos os anos; e a economia com dias perdidos no trabalho e de saúde pública giraria em torno de US$1,4 trilhão por ano. Segundo este estudo, esta é de longe a melhor opção para o meio ambiente, para a saúde e também para a economia global.
A outra pesquisa saiu no dia 19 de abril de 2016, na Nature Communications, um dos mais respeitados periódicos de Ciências Naturais. O estudo aborda várias possibilidades de medidas a serem tomadas no cenário hipotético de um mundo sem desflorestamento para produção de alimento. Utilizam como base a população esperada para 2050. As medidas analisadas foram a otimização da produção agrícola, da pecuária, a mudança na demanda da dieta, e uma combinação entre cada cenário. Cada uma das opções é possível dependendo das outras condições que estão sendo cruzadas. Por exemplo, uma dieta “onívora” típica do ocidente, rica em proteína animal, é possível em 15% dos cenários, ou seja, apenas se outras condições restritivas também são aplicadas (e.g. expansão do desflorestamento, otimização da produção etc.). A dieta vegetariana é possível em 94% dos cenários e a vegana, em 100% dos casos.
Chamo atenção para o fato de estas pesquisas não serem destaque em nenhum grande veículo de comunicação. Tímidas matérias, encontradas apenas para aqueles que se interessam pelo assunto. Contudo, este é o horizonte e nós ainda não nos demos conta da empreitada que temos pela frente. Partindo para um otimismo prático, considero a educação como parte da solução do problema e precisa urgentemente, dentro do seu escopo, colocar-se ao lado daqueles que estão pensando e propondo mudanças. Podemos favorecer a criação de condições mentais e culturais para que elas aconteçam. Talvez fazer algumas perguntas iniciais, tais como, quais as implicações deste novo cenário nos cursos de formação de professores, nas aulas de ecologia, de biologia, filosofia e, principalmente, da ética necessária a este novo momento? Por que se falar de ética?
Nenhuma das duas pesquisas tiveram como objetivo mensurar as implicações de uma mudança na dieta para a vida dos animais criados para abate. Entretanto, esta é a razão primeira daqueles que fizeram da dieta “um modo de viver” (segundo definição grega “Díaita”). Nós não apenas comemos. Os modos de produção e a manipulação e intervenção no corpo do animal e a sua vida importam sim e não mais temos o direito de considerar o ato de comer como algo à parte da moralidade humana. O animal não humano é sujeito de uma vida, portanto, com direito à vida, à integridade física e à liberdade. Garantir esses direitos não significa generosidade ou favor de nossa parte, mas é questão de justiça, conforme nos alerta Tom Regan, em seu livro Jaulas Vazias.
Mesmo que a indústria, apoiada na tecnociência, consiga mitigar e resolver todos os problemas ambientais ou de saúde provenientes de uma dieta pautada em cima de produtos de origem animal, o problema ético em relação àquilo que imputamos aos corpos dos animais ainda irá permanecer. Não tenho dúvida de que rever este estado de coisas é a mudança mais rápida, eficaz, justa e ética em relação às pessoas, ao planeta e aos animais.
FONTES:
PNAS. Analysis and valuation of the health and climate change cobenefits of dietary change: Disponível em: http://www.pnas.org/content/113/15/4146.full
Nature Communications. Exploring the biophysical option space for feeding the world without deforestation: Disponível em:
http://www.nature.com/ncomms/2016/160419/ncomms11382/full/ncomms11382.html
https://nacoesunidas.org/populacao-mundial-deve-atingir-96-bilhoes-em-2050-diz-novo-relatorio-da-onu/
http://www.ox.ac.uk/news/2016-03-22-veggie-based-diets-could-save-8-million-lives-2050-and-cut-global-warming

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