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AMOR MATERNO

Galinha tem suas penas congeladas por proteger nove pintinhos do frio de -4,2°C durante a noite no Paraná

As baixas temperaturas provocadas por uma intensa massa de ar polar no Sul do Brasil não afetam apenas os humanos. No campo, animais domésticos também sofrem com o frio rigoroso.

8 de julho de 2025
Redação ANDA
3 min. de leitura
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Foto: Arquivo pessoal

As baixas temperaturas provocadas por uma intensa massa de ar polar no Sul do Brasil não afetam apenas os humanos. No campo, nos quintais e até mesmo dentro de algumas casas, animais domésticos enfrentam o frio rigoroso sem qualquer proteção adequada. Um episódio recente em São Mateus do Sul, no Paraná, expôs de forma comovente essa realidade: uma galinha foi flagrada com as penas congeladas ao proteger seus pintinhos durante uma madrugada gelada.

A galinha vive em uma propriedade rural da agente comunitária de saúde Irene Muchinski Walter. Segundo a tutora, ela permaneceu do lado de fora do galinheiro, mesmo com a temperatura chegando a -4,2°C, para manter nove pintinhos aquecidos debaixo das asas. O frio registrado na cidade, que fica a cerca de 150 quilômetros de Curitiba, foi o segundo mais intenso do Paraná naquela data.

No momento em que Irene e o marido saíam para o trabalho, encontraram a galinha parada no pátio com parte das penas coberta por uma fina camada de gelo. O marido chegou a pensar que ela estivesse congelada, mas logo percebeu que a galinha estava apenas imóvel, tentando aquecer os filhotes. Apesar dos esforços, três dos nove pintinhos não resistiram à onda de frio. Os seis sobreviventes foram levados para o galinheiro e seguem aquecidos junto à mãe.

A imagem viralizou nas redes sociais, mas por trás da comoção existe um problema estrutural e invisibilizado: o abandono dos animais nas políticas públicas de emergência. A galinha, que resistia com o corpo imóvel ao frio cortante, tornou-se símbolo de uma questão maior — a exclusão sistemática dos animais das estratégias de proteção diante de eventos climáticos extremos, que se tornam cada vez mais frequentes com as mudanças climáticas.

“É preciso entender que animais sentem frio, dor, medo. Eles têm direito à vida e ao bem-estar. Não podemos continuar tratando esses seres como invisíveis em contextos de catástrofe ou negligência climática”, afirma a jornalista e defensora dos direitos animais, Silvana Andrade.

Cães e gatos ao relento

Enquanto a galinha se tornou um símbolo da resistência, milhares de cães e gatos perambulam por ruas geladas ou são mantidos em quintais desprotegidos, tremendo de frio. Muitos morrem de hipotermia, principalmente os filhotes e os idosos. Abrigos lotados enfrentam dificuldades para aquecer todos os animais, e as doações de cobertores e ração não dão conta da demanda.

O problema se agrava em regiões periféricas, onde falta acesso a recursos básicos também para os tutores. Muitas famílias vivem em situação de vulnerabilidade e, mesmo com boa vontade, não conseguem oferecer abrigo térmico para os animais sob seus cuidados.

Ausência de políticas públicas

Apesar da gravidade da situação, são raras as cidades brasileiras que incluem os animais em seus planos de contingência para ondas de frio. A falta de estrutura, de vontade política e de visão interseccional sobre a crise climática resultam em mortes silenciosas que não entram nas estatísticas oficiais.

“Assim como protegemos os mais vulneráveis entre os humanos, é urgente que se reconheça o sofrimento e os direitos dos animais. Eles não podem esperar. Precisamos de abrigos emergenciais, campanhas públicas de conscientização, distribuição de mantas e, acima de tudo, de políticas que os incluam como sujeitos de direitos”, enfatiza Silvana.

O frio é mais que temperatura: é um alerta
O episódio da galinha congelada, embora isolado, escancara a dura realidade vivida por milhões de animais no Brasil. Em um mundo cada vez mais impactado pelas mudanças climáticas, a omissão do Estado diante do sofrimento animal deixa de ser apenas uma falha ética: torna-se uma negação do próprio direito à vida.

Que o frio sirva de alerta: é tempo de aquecer não apenas os corpos, mas também nossas políticas e consciências.

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