Os cosméticos são tão presentes no dia-a-dia das amigas Juliana Eliezer, de 30 anos, e Luciane Zardo, de 28 anos, quanto as três refeições diárias. Assim como as duas se preocupam com a qualidade da comida, elas passaram a ter um novo hábito ao comprar cosméticos: olhar o rótulo dos xampus e hidratantes para ver se o fabricante testa o seu produto nos animais.
Empresa que não testa, ou seja, que é “cruelty free” (em tradução livre: sem crueldade) ganha pontos com as meninas. “Se eu tenho a opção de um similar que não é testado em animais, fico com ele. A não ser que a diferença de preço seja exorbitante, algo que realmente eu não possa arcar sem prejudicar o meu orçamento”, afirma Juliana.
A amiga Luciane pensa do mesmo jeito. “Dou preferência, pois, se há produtos semelhantes, porque preferir um que é testado?”, diz a jovem. A dupla de São Paulo, que mantém o blog sobre cosméticos “Vende na Farmácia?”, deixa claro que não são tão rigorosas na escolha, apenas que “é só uma pequena atitude” diante das prateleiras.
Tendência
Para Carlos Rosolen, diretor da entidade de proteção Projeto Esperança Animal (PEA), em São Paulo, essa atitude é tendência e vem moldando a forma como as empresas lidam com os testes indispensáveis antes de lançar qualquer produto no mercado. “Os consumidores estão optando por produtos que não são testados em animais. Quem ficar parado neste progresso vai perder mercado”, diz Rosolen.
A empresária do ramo de cosméticos Clélia Angelon também observa uma maior consciência do consumidor brasileiro. “É uma tendência universal. Hoje, as pessoas pensam antes de comprar um produto. Elas estão se questionando se uma embalagem bonita é mais importante que a ética na fabricação dela”, diz ela.
Para a professora Juliana Ferreira, de 30 anos, a busca por cosméticos livres de crueldade já dura dois anos. Vegetariana há 11 anos, ela só se preocupou com os testes quando começou a comprar e a usar mais cosméticos no dia-a-dia.
A professora conta que o hábito começou depois que ela morou um tempo nos Estados Unidos. “Lá tem muito mais opções que aqui”, lamenta Juliana, que criou recentemente o blog “Cruelty free make up” para trocar ideia e informações sobre produtos “livres de crueldade”.
Vídeos na internet
Foi após ver vídeos com testes em animais na internet que a estudante Juliana Settimi, de 23 anos, decidiu mudar os hábitos. “Eu não podia ser uma vegetariana incompleta”, dispara a jovem.
Hoje, a estudante tenta convencer as amigas a consumirem produtos “cruelty free”. “Tem gente que nem sabe que os produtos são testados em animais, quanto mais que eles podem não ser testados”, afirma a jovem.
Mas tanto a Juliana professora quanto a Juliana estudante lamentam a dificuldade que é encontrar absorvente e creme dental “livres de crueldade”. “Aí, não tem jeito mesmo, falta opção”, diz a estudante Juliana.
Testes
A polêmica dos testes em animais, no entanto, está longe de acabar. “O teste feito em animal dá parâmetro de quantidade da substância necessária em um cosmético. O teste vai apontar se deve ser usado mais ou menos dessa substância, por exemplo”, esclarece o biólogo Octavio Presgrave, coordenador do grupo técnico de cosméticos do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS).
Para cosméticos, diz Presgrave, os principais animais utilizados são os roedores, como o coelho. “O animal é a última fase de teste antes dos humanos”, diz o biólogo.
Segundo ele, testar em animais, ao contrário do que se pensa, pode sair mais caro que usar métodos alternativos. “Também existe pressão para se deixar de usar animais”, acrescenta.
A evolução nos teste, diz Presgrave, se dá ao menos na quantidade de animais usados. “Se antes eram entre 30 e 40 animais para testes de alergia, por exemplo, hoje em dia, são dez”.
Como saber
A indicação de que um cosmético é “cruelty free” costuma vir indicada na embalagem, mas nem todas as empresas optam por deixar esta informação à mostra. O empresário Flávio Pioker, também do ramo de cosméticos, diz que as vendedoras da sua loja são treinadas para descrever a filosofia “verde” da empresa. “A gente tenta informar o cliente, conversar, para ele entender a diferença”, afirma o empresário.
Mas em tempos de internet, não é necessário muito esforço para descobrir as empresas que testam ou não. No site do PEA, por exemplo, há uma lista com 103 empresas “cruelty free”. Segundo o diretor Carlos Rosolen, cerca de cinco fabricantes entram na lista todos os anos.
Fonte: G1
Nota da Redação*: Desde o dia 11 de março passado, uma lei proíbe a produção e venda de produtos cosméticos testados em animais em qualquer um dos países da União Europeia. É ilegal também comercializar produtos que contenham ingredientes testados em animais.