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INDÚSTRIA DA CARNE

Peixes sentem dor excruciante ao serem mortos, confirma novo estudo

Nova pesquisa confirma que peixes sentem dor prolongada e intensa durante a matança, levantando questões urgentes sobre o bem-estar animal na indústria de frutos do mar.

17 de junho de 2025
Amy Jones
4 min. de leitura
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Foto: Amy Jones/Moving Animals

É amplamente sabido que outros animais criados e abatidos no atual sistema alimentar podem sentir dor e sofrimento. No entanto, esse reconhecimento raramente é estendido aos peixes ou a outras espécies aquáticas.

Agora, pesquisadores confirmaram que peixes podem sentir dor intensa quando submetidos a um método comum de abate conhecido como “asfixia em ar”, em um estudo que pode levar consumidores a reconsiderar suas escolhas alimentares.

Cientistas do Welfare Footprint Institute descobriram que uma truta arco-íris, em média, sofre de 1,9 a 21,7 minutos de dor moderada a excruciante quando é sufocada no ar sobre o gelo.

A intensidade da dor pode depender de fatores como o peso do peixe e a temperatura da água. Os cientistas constataram que os peixes sofrem cerca de 24 minutos por quilograma. Em alguns casos, os peixes podem experimentar mais de uma hora de dor por quilograma, escreveram os autores do estudo.

Quando os peixes são retirados da água por redes ou anzóis e deixados para morrer ao ar livre, eles passam por um declínio lento e estressante, marcado por ofegos frenéticos à medida que os níveis de oxigênio despencam e o dióxido de carbono se acumula, segundo o estudo.

Os cientistas estimam que os peixes podem permanecer nesse estado de pânico e dor por até 25 minutos antes de perderem a consciência. Os primeiros 10 minutos desse sofrimento podem envolver dores classificadas como incapacitantes, dolorosas ou excruciantes.

Todos os anos, até 2,2 trilhões de peixes selvagens são capturados no mundo, sendo cerca da metade moída para virar ração para outros animais de criação. Além disso, estima-se que 171 bilhões de peixes sejam criados e abatidos em fazendas aquícolas.

Apesar do sofrimento causado, a asfixia em ar continua sendo o método de abate mais comum para peixes. Alguns são mortos por resfriamento em gelo ou em uma mistura de gelo e água, métodos frequentemente vistos como mais “humanos”. Mas, segundo os pesquisadores, essas alternativas podem apenas prolongar o tempo que o peixe leva para perder a consciência, estendendo — e não aliviando — o sofrimento.

Métodos alternativos ao abate por asfixia em ar incluem a exposição a gás carbônico ou o corte das guelras sem atordoamento prévio. Alguns peixes são processados ainda vivos e conscientes.

À luz deste novo estudo, os pesquisadores estão pedindo que a asfixia em ar seja proibida e que métodos de atordoamento sejam implementados em toda a indústria pesqueira.

“A dor e o sofrimento causados pela asfixia em peixes podem ser potencialmente mitigados por métodos de atordoamento que induzem à perda rápida da consciência”, escreveram no estudo. “Para que o atordoamento seja considerado humano e eficaz, o manejo pré-abate deve ser minimizado e o animal deve perder a consciência imediatamente após o atordoamento — estado que deve persistir até a morte.”

No entanto, defensores dos animais argumentam que isso ainda é insuficiente para proteger os peixes da dor e do sofrimento.

“Em 2025, o consenso científico sobre os animais está mudando — e com ele, nossas obrigações morais”, afirmou Elizabeth Novogratz, fundadora e presidente da organização Species Unite. “Este novo estudo se soma ao vasto conjunto de evidências que provam que os peixes podem sentir dor e sofrer — desde apresentar comportamentos de estresse ao se ferirem, detectar estímulos nocivos e exibir respostas neurológicas e fisiológicas compatíveis com dor. Para eliminar de fato o sofrimento dos peixes e evitar o abate de trilhões de seres sencientes, precisamos caminhar rumo a um sistema alimentar baseado em vegetais.”

Pesquisas mostram que muitos animais não humanos possuem não apenas as estruturas neurológicas necessárias para processar a dor, mas também a capacidade de sofrimento emocional, medo e até empatia. Porcos já demonstraram sinais de contágio emocional, respondendo com angústia aos grunhidos de seus companheiros. Galinhas conseguem antecipar a dor e demonstram comportamentos de evitação. Como evidenciado neste estudo, peixes apresentam respostas complexas à dor e comportamentos de aprendizado, enquanto cefalópodes, como os polvos, podem sofrer tanto física quanto psicologicamente.

Mas, apesar das crescentes evidências científicas, a proteção legal e os direitos dos animais continuam limitados. Em muitos países, os peixes de criação são excluídos das normas de abate humanitário — o que é particularmente alarmante diante dos resultados deste estudo. Bilhões de frangos são criados em ambientes horríveis, onde nem os cuidados básicos são garantidos. E inúmeros animais usados em experimentos de laboratório ainda são submetidos a procedimentos dolorosos.

“À medida que a ciência desmonta o mito de que os animais não sofrem, a pergunta já não é mais se eles sentem dor, mas se estamos dispostos a agir com base nesse conhecimento”, disse Novogratz. “Com até 6,5 bilhões de animais sendo mortos para alimentação todos os dias, a resposta, até agora, tem sido um retumbante ‘não’.”

Traduzido de Species Unite.

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