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FALTA DE ALIMENTO

Peixe-boi Flor é encontrada morta com plástico no intestino

Ela era monitorada pela ONG Aquasis e estava desaparecida desde 30 de maio

15 de agosto de 2024
Ricardo Melo
3 min. de leitura
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Foto: Aquasis

A peixe-boi (Trichechus manatus) Flor, que havia perdido seu dispositivo de monitoramento, foi encontrada morta em Enxu Queimado (RN) no dia 31 de julho. O paradeiro do animal estava desconhecido desde 30 de maio. De acordo com a ONG Aquasis, o animal encalhou e foram encontrados variados tipos de plástico em seu intestino grosso.

De acordo com a técnica de monitoramento do Programa Mamíferos Marinhos da Aquasis, Camila Carvalho, Flor foi monitorada pela última vez em em Maracajaú, no município de Maxaranguape (RN). Após perder o equipamento ao ficar enroscada em uma rede de tresmalho, foi vista em Piranji do Norte, ao sul. Já encalhada, o animal marinho foi encontrado morto em uma praia.

Camila relatou que o corpo do animal foi transportado para o Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos (CRMM) da Aquasis para a realização de uma necropsia. “O cadáver”, explica a bióloga, “já estava bem decomposto, o que limitou o diagnóstico de outras patologias e o estabelecimento preciso da causa mortis”. Contudo, o estômago de Flor estava vazio e seu intestino grosso continha uma série de materiais plásticos, o que pode ter contribuído para a sua morte. Algumas amostras foram coletadas do peixe-boi e devem servir para estudos futuros. Já seus ossos serão armazenados em coleção uma osteológica para fins de pesquisa.

De estômago vazio e intestino com plástico

Os peixes-bois são animais herbívoros, alimentando-se apenas de plantas. Camila conta que Flor já havia ido para águas profundas em três momentos e lá não há alimento para a espécie. É nas regiões costeiras que esses animais encontram gramas e algas marinhas. O que havia, contudo, no intestino grosso do animal, onde ocorre os processos finais da digestão, eram pedaços de sacola plástica, de tecido, cordas, fios de nylon e fragmentos de esponjas.

“O material plástico e tecidos presentes no intestino causaram uma compactação das fezes e comprometimento do trânsito intestinal, o que pode levar a perda de apetite, cólicas, desidratação e outros problemas”, explicou Camila.

Para os pesquisadores da Aquasis, a morte de Flor envolve um conjunto de fatores. Resgatada ainda filhote, encalhada, na praia das Agulhas, em Fortim (CE), em 2019, a peixe-boi voltou aos mares em abril deste ano. Porém, Camila destaca que um animal recém-solto pode ter dificuldades para encontrar comida. Estima-se que, pelo menos nos últimos 10 dias antes da morte, ela não tenha ingerido nada, pois estava com o estômago e a porção inicial do intestino vazios. O plástico, por sua vez, pode trazer a sensação de saciedade e em casos mais graves pode causar obstrução, mas não explica todo o quadro do animal.

Um mar de plástico

Flor não é a única vítima da presença de plástico nos mares. Uma pesquisa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) e do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá concluiu que havia resíduos sólidos em 44% das áreas utilizadas pelos mamíferos observados.

“A presença de resíduos em áreas usadas pelos animais é sempre muito preocupante porque, dependendo do tipo de resíduo, tamanho e textura, os animais podem ingerir esses materiais, principalmente os plásticos”, aponta o coautor do estudo, João Carlos Gomes Borges.

Em comunicado oficial em seu Instagram, a Aquasis afirma que “esta não é a primeira vez que um peixe-boi-marinho no Ceará é afetado pelo lixo”. Esse padrão pode ser explicado pelo fato de que o plástico pode se aderir às algas que serão ingeridas por esses herbívoros, podendo levá-los a óbito.

Fonte: Fauna News

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