Luiz Augusto Pinheiro de Souza, o pecuarista responsável pelas búfalas de Brotas, deu novas alegações, contrariando os fatos e as evidências trazidas pelas entidades envolvidas nos resgates e pela polícia.
Com muita frieza, o proprietário da Fazenda Água Sumida falou pela primeira vez com a imprensa sobre a situação degradante em que foram encontrados mais de mil animais de grande porte, que viviam dentro das suas terras.
Tentando esconder o rosto da câmera, Luiz Augusto falou com uma equipe do Fantástico, reiteirando que as causas das mortes e da desnutrição das búfalas são fenômenos naturais. “A fazenda existe há anos, nunca faltou água nem comida nessa fazenda gigante. Morrem porque é gado velho. É gado que às vezes já tá com algum probleminha, um detalhe ou outro. Eu não deixo morrer. Morre naturalmente em uma época do ano. Quando morrer, morreu”, disse.
Quando questionado sobre o escore corporal dos animais, Luiz Augusto tentou justificar, novamente, que eram causas naturais provocadas pela seca que aflige o estado paulista. “Faz oito meses que não chove, nenhum gado do estado de São Paulo, está com o escore corporal normal.”
O sistema escore de condição corporal (EEC) é usado para avaliar as reservas de energia corporal em animais de fazenda, com base em uma análise visual. O EEC se apresenta como um índice que varia de 1 a 5, sendo que 1 é para animais desnutridos, e 5 para animais obesos.
Um laudo realizado pelos veterinários envolvidos nos resgates apontou que todas as búfalas da propriedade estavam subnutridas e, portanto, classificadas nas escalas de 1 a 2.
André Mendes Jorge, professor de Medicina Veterinária da UNESP Botucatu, esclareceu a medida em entrevista para o Fantástico. “Através da avaliação do escore de condição corporal, a gente consegue saber se o animal está numa péssima, numa boa ou numa excelente condição corporal. Faltou capim, você tem que suplementar com algum outro tipo de alimento”, orienta o professor de veterinária.
A fome dos animais era tamanha que as búfalas tentaram comer as cascas das árvores. Elas tentavam mastigar alguma coisa que tivesse nutriente, mas os troncos estavam muito secos e se esfarelavam.
Na última contagem, 1.056 búfalas e bezerros e mais 72 cavalos e éguas estavam vivos e a contagem dos animais mortos ainda não foi concluída. As búfalas eram criadas para abastecer a indústria do leite, 90% delas estão grávidas. Daqui a quatro meses se estima que existirão até dois mil animais, com o nascimento dos bezerros.
Infelizmente, esse caso não é isolado. Apesar da magnitude que ele vem tomando, fatos semelhantes acontecem o tempo todo, todo dia. São bilhões de animais objetificados e usados para abastecer indústrias cruéis de leite e carne, que não veem vidas, mas sim cifrões. O único caminho para o verdadeiro fim dessa devastação é fazer uma escolha mais consciente na hora de comprar alimentos ou serviços e excluir os que se baseiam na exploração de animais.