Duas organizações sem fins lucrativos, a GRAIN e o Instituto de Política Agrícola e Comercial (IATP), se uniram neste ano para fazer uma pesquisa e estimar as emissões de gases estufa na atmosfera pela pecuária. O que elas descobriram foi que as cinco principais empresas de carnes e laticínios ultrapassaram oficialmente gigantes do petróleo como Exxon, a Shell e a BP nas emissões anuais de gases do efeito estufa. E a maioria dessas empresas subnotifica ou simplesmente não informa suas emissões.
Para chegar a este resultado alarmante, a equipe responsável analisou dados das 35 corporações de carnes e laticínios mais produtivas do mundo e usou a metodologia criada pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Infelizmente, não foi surpreendente, já que a mesma pesquisa feita no ano anterior revelou que a JBS, a Cargill e a Tyson – três principais empresas de carnes – emitiram mais gases de efeito estufa em 2016 do que toda a França, e quase tanto quanto as mesmas empresas, Exxon, Shell e BP.
A fim de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius até 2050, o ideal era que as emissões de gases estufa, em escala global, fosse reduzida em 38 bilhões de toneladas. O problema é que os dados afirmam que se a pecuária continuar a crescer, como prevêem especialistas, a indústria poderá produzir 80% da cota de emissões de gases de efeito estufa permitida em apenas 32 anos.
Estas estatísticas reveladoras mostram o quanto as coisas realmente estão ruins e apontam para a necessidade de uma solução urgente. “Não há outra escolha. A produção de carne e laticínios nos países onde as 35 principais empresas dominam deve ser significativamente reduzida”, alertou o pesquisador do GRAIN, Devlin Kuyek, .
Ao que tudo indica, esperar pela mudança dessas empresas em breve é inútil. De acordo com a pesquisa, apenas seis dos 35 maiores produtores globais de carnes e laticínios definiram metas de redução de emissões envolvendo toda a sua cadeia de suprimentos – que é responsável por cerca de 90% do total das emissões e, portanto, precisa ser incluída para que um progresso real seja atingido.
Infelizmente, a revelação pode até ser alarmante mas não é surpreendente. Todo o setor da pecuária é responsável por mais emissões de gases de efeito estufa do que todo o setor de transporte combinado, e um estudo recente comprovou que cortar os alimentos de origem animal da dieta é a melhor maneira de reduzir nosso impacto ambiental no planeta.
Há muito tempo os ativistas ambientais vêm combatendo a indústria de petróleo e gás. Apesar da luta ser legítima e extremamente necessária, vale a pena pensar que esses esforços também precisam ser direcionados à indústria da carne e laticínios. Por mais que se promova e incentive a energia limpa e solar, por exemplo, comer bacon e cheeseburgers baratos mostra que não estamos fazendo tudo o que podemos para proteger o planeta e combater a poluição.