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IMPACTO

Partículas libertadas por incêndios florestais podem alterar absorção de carbono pelos oceanos

13 de agosto de 2025
2 min. de leitura
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Foto: Cristian Palmer / Unsplash

As emissões atmosféricas de partículas emitidas pelos incêndios florestais podem duplicar, segundo previsões, até ao final do século, especialmente devido aos efeitos das alterações climáticas.

Os impactos diretos na saúde humana, da segurança alimentar e na biodiversidade são relativamente bem conhecidos, mas os seus efeitos nos oceanos nem tanto.

Uma equipe de investigadores, liderada pelo Centro de Supercomputação de Barcelona (Espanha), salienta, num artigo publicado na revista ‘Nature Climate Change’, que os incêndios libertam partículas e nutrientes (como o ferro) para a atmosfera, que podem ser transportados a longas distâncias pelos ventos e acabar por se depositarem nos oceanos. Aí, influenciarão a atividade do fitoplâncton, pequenos organismos aquáticos e fotossintéticos que absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera.

É a versão marinha de fertilizar solo agrícola em terra para aumentar a sua produtividade. Quanto maior a produtividade oceânica, maior será, em teoria, a capacidade para sequestro de carbono. Essa é uma das razões pelas quais os ecossistemas marinhos são considerados fundamentais para combater as alterações climáticas, por retirarem do ar gases com efeito de estufa, como o CO2.

Para Carlos Pérez García-Pando, um dos principais coautores do estudo, compreender o impacto dos incêndios “na fertilização de regiões oceânicas importantes, como Atlântico Norte, é essencial para prever com maior precisão os níveis futuros de CO2 atmosférico”, afirma em comunicado.

Com base em modelos de previsão climática, os cientistas concluem o aumento das emissões de ferro resultantes de incêndios florestais intensificados pelas alterações climáticas poderá aumentar a produtividade marinha no Atlântico Norte até 40% nos meses de verão até ao final deste século.

Seria de esperar que fossem boas notícias para o combate à crise climática, mas os investigadores acautelam que as alterações climáticas causam também a redução de outros nutrientes essenciais à proliferação do fitoplâncton. Dessa forma, os ganhos provocados pelo aumento de ferro podem ser atenuados pela perda de outros nutrientes, reduzindo a capacidade dos mares e oceanos para absorverem CO2.

“Quantificar esta fonte de nutrientes para o fitoplâncton é importante para termos uma ideia mais precisa de quanto CO2 permanecerá na atmosfera nas décadas vindouras”, diz Elisa Bergas-Massó, primeira autora do artigo.

A investigadora explica que, ao perceber-se como é que os incêndios florestais farão aumentar a quantidade de ferro depositada nos oceanos, “estamos a revelar um ciclo de retroalimentação crucial no sistema terrestre que precisamos de compreender para lidar com as alterações climáticas”.

A equipa está convicta de que uma melhor compreensão de como os fogos afetam os sistemas da Terra passa por uma abordagem multidisciplinar, que conjugue várias área de conhecimento, como a ciência atmosférica e a oceanografia, e por melhorias nos modelos “para melhor quantificar esses efeitos e o seu impactos final na absorção de CO2”.

Fonte: Greensavers

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