Dados de satélite detectaram vários picos preocupantes nas atividades de desmatamento no Parque Nacional de Virunga em 2021.
O Parque Nacional de Virunga está situado na porção nordeste da República Democrática do Congo (RDC), logo acima da fronteira com a Uganda.
Virunga é o lar de muitas espécies e subespécies em extinção, incluindo gorilas-das-montanhas (Gorila beringei beringei).
As principais ameaças ao parque incluem a exploração madeireira para a produção de carvão vegetal e o desmatamento de terras para a agricultura, ambas impulsionadas pela pobreza.
As florestas do Parque Nacional de Virunga são algumas das áreas com maior biodiversidade da África e os últimos bastiões de gorilas das montanhas, ocapis, cabras-do-mato de Ruwenzori e muitas outras espécies ameaçadas de extinção.
Guardado por algumas das montanhas mais altas e inacessíveis do continente, e também pelo escrutínio internacional decorrente da designação da área como parque nacional e Patrimônio Mundial da UNESCO, grandes porções de Virunga ficaram a salvo – pelo menos comparativamente – do desmatamento causado nas terras que cercam a reserva na República Democrática do Congo (RDC) e do outro lado da fronteira, na Uganda.
No entanto, esses santuários podem estar em colapso. Dados de satélite da Universidade de Maryland (UMD), nos EUA, mostram que o desmatamento da mata nativa do Parque Nacional de Virunga mais do que triplicou entre 2017 e 2018 e, embora tenha se estabilizado um pouco em 2019 e 2020, dados preliminares do laboratório Global Land Analysis and Discovery (GLAD) da UMD mostram que 2021 pode ser um ano especialmente difícil para as florestas do parque, tendo em vista que o laboratório detectou vários picos “extraordinariamente altos” de atividade de desmatamento até agora este ano.
Dados da UMD mostram que a floresta nativa na parte sul do parque está sofrendo o impacto do desmatamento de 2021, e imagens de satélite revelam clareiras que corroem as áreas preservadas de floresta tropical. De acordo com a Aliança para a Extinção Zero, esta floresta é o lar do rato- desgrenhado-da-montanha (Dasymys montanus) e da rato-musaranho-da-montanha (Myosorex blarina), ambos listados como ameaçados de extinção e encontrados apenas neste pequeno canto do mundo. A principal ameaça à continuação da sua existência é a perda de habitat.
Um dos maiores impulsionadores do desmatamento em Virunga é a exploração madeireira para fabricação de carvão vegetal, que é produzido pela queima de madeira em fornos especializados para remover água e torná-la mais adequada para fogões. O carvão vegetal tem preços altos nos mercados – tão altos que é chamado de “ouro negro” – o que levou à formação de redes de crime organizado que derrubam e transportam árvores para fora do parque. O desmatamento para a agricultura também está crescendo às custas da floresta de Virunga.
A situação chegou ao ápice em abril de 2020, quando 12 guardas florestais e cinco civis foram mortos, marcando o pior caso de violência documentado na história do parque. Então, no início de 2021, mais seis guardas foram emboscados e mortos por um grupo miliciano local.
“O Parque Nacional de Virunga lamenta profundamente a trágica perda de vidas entre seus guardas, que trabalham incansavelmente e com dedicação para proteger tanto o Parque quanto as comunidades vizinhas da tirania dos grupos armados. Seu sacrifício não será esquecido nem será em vão”, disse o parque em um comunicado publicado no Twitter em janeiro.
Onesphore Sematumba, pesquisador do International Crisis Group especializado na área dos Grandes Lagos, disse que o antagonismo entre guardas e milícias locais de certa forma está enraizado em disputas de terras que remontam à criação do Parque Nacional de Virunga em 1925. A pobreza também desempenha um papel fundamental no desespero por terra e combustível aqui e em outros lugares da RDC; com poucas outras opções, as comunidades que cercam Virunga dependem de fogões a carvão, agricultura de subsistência e carnes de caça encontradas nas florestas.
“Você tem a gestão do parque por um lado, e do outro lado você tem a população que vive principalmente da agricultura, e eles precisam ter acesso à terra para sobreviver”, disse Sematumba ao portal Mongabay em janeiro. “E eles acreditam que muitas terras foram designadas para o parque e estão disponíveis para os animais, enquanto eles também precisam de terra.”