Enquanto a churrascaria Fazenda Churrascada avança com obras irregulares no Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo, animais silvestres e domésticos pagam o preço da ganância empresarial e da omissão do poder público. O parque, antes um refúgio de convivência harmoniosa entre humanos e outras espécies, agora é palco de descaracterização, confinamento e exploração comercial — tudo em nome do lucro.
O parque, que abrigava pavões, patos e macacos soltos, hoje mantém suas aves enjauladas em viveiros superlotados, sob a desculpa esfarrapada da gripe aviária — ameaça que já passou, mas segue como pretexto para o cárcere permanente. Esses animais, outrora símbolos de liberdade e educação ambiental para crianças, agora são tratados como meros objetos de exposição, privados de seus comportamentos naturais.
“Os animais que viviam soltos, como pavões e patos, todos foram engaiolados em viveiros conjuntos, sem separação de espécie, com desculpa da gripe aviária. A ameaça de gripe aviária passou e a eles continuam enjaulados. Era a principal atração do parque para as crianças. Ou seja, está em curso uma descaracterização cultural da alma do parque que tem afugentado os frequentadores”, afirmou a conselheira Regina Lima, do conselho consultivo do parque, em entrevista ao G1.
Além disso, o antigo estábulo da Polícia Militar, que abrigava cavalos, foi tomado por britadeiras e churrasqueiras, transformando um espaço que deveria ser de preservação histórica e respeito à vida em um templo de consumo de carne. A ironia é cruel: um local que antes abrigava animais agora serve para assar seus semelhantes.
A empresa e a concessionária Reserva Parques insistem na falácia de que se trata de um “evento temporário”, mas as intervenções estruturais — como instalação de churrasqueiras, pisos novos e balcões — revelam a intenção de permanência. Pior: nenhum estudo de impacto ambiental foi realizado para avaliar como a fumaça, o barulho e o movimento intenso afetarão os animais do parque, incluindo quatro espécies de macacos e aves sensíveis.
Enquanto isso, a Feira de Orgânicos, que promovia alimentação ética e sustentável, foi despejada para dar lugar a um playground exclusivo para clientes da churrascaria — um ataque simbólico àqueles que defendem uma relação menos violenta com os animais e o meio ambiente por meio da comida.
“A Feira de Orgânicos que existem há décadas foi desalojada sem muitas explicações. A desculpa é que o galpão precisava de reforma. Depois da reforma feita, eles decidiram não voltar os agricultores pra lá e agora cederam para a churrascaria”, observou a conselheira.
A administração privada do parque já demonstrou seu desprezo pelo bem-estar coletivo: fechou museus e espaços educativos, mas abriu as portas para eventos caros e restaurantes que servem cadáveres em plena área de proteção. O descaso com os animais reflete o mesmo desrespeito pelo patrimônio público e pelos frequentadores tradicionais do local.
É inadmissível que, em pleno 2025, ainda se naturalize a transformação de áreas verdes em centros de exploração animal. O Parque da Água Branca deveria ser um espaço de educação ambiental, não de glamourização do consumo de carne. Enquanto os órgãos fingem fiscalizar, os animais sofrem, a história é apagada e o público é excluído.