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DESTRUIÇÃO AMBIENTAL

Parque da Água Branca: construção de churrascaria coloca animais em risco na Zona Oeste de São Paulo

Pavões, patos e macacos que encantavam os frequentadores agora vivem aprisionados, sufocados pelo avanço do concreto e do descaso. Onde antes havia vida e harmonia, só restam grades e o cheiro de fumaça.

8 de maio de 2025
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
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Aves que viviam soltas no parque da Água Branca foram aprisionadas sob o pretexto de risco de gripe aviária. Foto: Karime Xavier/Folhapress

Enquanto a churrascaria Fazenda Churrascada avança com obras no Parque da Água Branca, na Zona Oeste de São Paulo, animais silvestres e domésticos pagam o preço da ganância empresarial e da omissão do poder público. Antes um local de convivência pacífica entre humanos e outras espécies, hoje é um retrato do descaso disfarçada de progresso.

O parque, que abrigava pavões, patos e macacos soltos, hoje mantém suas aves enjauladas em viveiros superlotados, sob a desculpa da gripe aviária — ameaça que já passou, mas segue como pretexto para o cárcere permanente. Esses animais, outrora símbolos de liberdade e educação ambiental para crianças, agora são tratados como meros objetos de exposição, privados de seus comportamentos naturais.

“Os animais que viviam soltos, como pavões e patos, todos foram engaiolados em viveiros conjuntos, sem separação de espécie, com desculpa da gripe aviária. A ameaça de gripe aviária passou e a eles continuam enjaulados. Era a principal atração do parque para as crianças. Ou seja, está em curso uma descaracterização cultural da alma do parque que tem afugentado os frequentadores”, afirmou a conselheira Regina Lima, do conselho consultivo do parque, em entrevista ao G1.

O antigo estábulo da Polícia Militar, que abrigava cavalos, foi tomado por britadeiras e churrasqueiras, transformando um espaço que deveria ser de preservação histórica e respeito à vida em um templo de consumo de carne. É irônico: um local que antes era casa de muitos animais agora serve para assar seus semelhantes.

A empresa e a concessionária Reserva Parques insistem na falácia de que se trata de um “evento temporário”, mas as intervenções estruturais — como instalação de churrasqueiras, pisos novos e balcões — revelam a intenção de permanência. Para piorar, nenhum estudo de impacto ambiental foi realizado para avaliar como a fumaça, o barulho e o movimento intenso afetarão os animais do parque, incluindo quatro espécies de macacos e aves sensíveis.

Enquanto isso, a Feira de Orgânicos, que promovia alimentação ética e sustentável, foi despejada para dar lugar a um playground exclusivo para clientes da churrascaria — um ataque simbólico àqueles que defendem uma relação menos violenta com os animais e o meio ambiente por meio da comida.

“A Feira de Orgânicos que existe há décadas foi desalojada sem muitas explicações. A desculpa é que o galpão precisava de reforma. Depois da reforma feita, eles decidiram não voltar os agricultores pra lá e agora cederam para a churrascaria”, observou a conselheira.

A administração privada do parque já demonstrou seu descaso pelo bem-estar coletivo: fechou museus e espaços educativos, mas abriu as portas para eventos caros e restaurantes que servem cadáveres em plena área de proteção. A indiferença em relação aos animais reflete o mesmo desrespeito pelo patrimônio público e pelos frequentadores tradicionais do local.

Os animais, visitantes e a história do Parque da Água Branca estão sendo apagados em nome do dinheiro. E enquanto o poder público se omite, o que resta é o silêncio dos animais, o olhar perdido das crianças que não os veem correr livremente, e o cheiro de carne queimada tomando o lugar do perfume das árvores.

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