O Peru pode se tornar o próximo país da América Latina a acabar com os zoológicos públicos. Um projeto de lei apresentado no Congresso propõe o fechamento definitivo desses espaços em até dez anos, marcando uma mudança histórica na forma como o país enxerga os animais selvagens e silvestres.

A proposta, de autoria do congressista Guido Bellido e apoiada por outros seis parlamentares, está em análise na Comissão Agrária do Congresso e propõe uma transição gradual para um novo modelo de proteção ambiental baseado no respeito à vida e à liberdade animal.

Se aprovada, a lei proibirá a construção e o licenciamento de novos zoológicos, sejam públicos ou privados, e determinará que todos os animais atualmente mantidos nesses locais sejam encaminhados a Centros de Resgate de Fauna Silvestre. O objetivo é reabilitá-los e, sempre que possível, devolvê-los à natureza. Quando a reintrodução não for viável, eles seriam transferidos para espaços de proteção adaptados às suas necessidades, como os Santuários.

O texto destaca que os custos dessa transição serão cobertos pelos orçamentos do Ministério do Meio Ambiente e dos governos regionais, sem ônus adicional ao Tesouro Público.

Entre as justificativas, o projeto cita casos graves de negligência e abandono em zoológicos peruanos. Em 2019, o Zoológico Municipal de Huancayo foi multado após o desaparecimento de mais de 80 animais. Outro exemplo é o espaço “La Granja del Tío Telto”, em Cusco, onde foram encontrados capivaras em condições inadequadas e sem autorização para exposição.

A proposta também prevê mudanças na educação, exigindo que o Ministério da Educação inclua temas sobre respeito à fauna silvestre no currículo escolar. A intenção é estimular formas de aprendizado que não envolvam o confinamento de animais, promovendo empatia e consciência sobre a importância da liberdade e do bem-estar.

Inspirado em iniciativas de países como Costa Rica, Chile e Argentina, o projeto peruano segue uma tendência regional que reconhece que os zoológicos não cumprem mais o papel educativo e conservacionista que alegam ter. Segundo o documento, a falta de estrutura, os recursos limitados e o estresse causado pelo cativeiro comprometem a saúde física e emocional dos animais.

Caso seja aprovado, o Peru dará um passo importante para repensar sua relação com os animais silvestres, substituindo o modelo de exibição e confinamento por um paradigma baseado em respeito, cuidado e verdadeira preservação da vida.