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CIÊNCIA

Parentes de primatas sobreviveram a mudança climática há 52 milhões de anos

Por meio de uma análise filogenética, a pesquisadora investigou como os fósseis da Ilha Ellesmere se relacionam com espécies encontradas em latitudes médias da América do Norte

6 de fevereiro de 2023
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Reconstrução artística de Ignacius dawsonae sobrevivendo a seis meses de escuridão de inverno no extinto ecossistema temperado quente da Ilha Ellesmere, no Ártico do Canadá | Foto: Kristen Miller, Biodiversity Institute, University of Kansas

Na Ilha Ellesmere, em Nunavut, no Canadá, em camadas de sedimentos ligados ao início do Eoceno, pesquisadores descobriram duas espécies parentes de quase primatas, chamadas “primatomorfas”, que datam de cerca de 52 milhões de anos. O achado foi publicado nesta quarta-feira (25) na revista PLOS ONE.

Os autores do estudo, da Universidade do Kansas, nos Estados Unidos, identificaram as espécies como as mais antigas a habitar o norte do Círculo Polar Ártico. Naquela época de clima mais quente a região sofria um aquecimento global enquanto os primeiros parentes de primatas teriam se adaptado à vida.

Ambas as espécies estudadas, Ignacius dawsonae e Ignacius mckennai, descendem de um ancestral comum do norte que possuía um espírito “para ir corajosamente onde nenhum primata foi antes”, segundo conta Kristen Miller, principal autora do estudo, em comunicado.

“Nenhum parente primata jamais foi encontrado em latitudes tão extremas”, disse Miller. “Eles são mais comumente encontrados em torno do equador em regiões tropicais.”

Por meio de uma análise filogenética, a pesquisadora investigou como os fósseis da Ilha Ellesmere se relacionam com espécies encontradas em latitudes médias da América do Norte — lugares como Novo México, Colorado, Wyoming e Montana, nos Estados Unidos.

Dentição de Ignacius mckennai da Ilha Ellesmere, em Nunavut, Canadá | Foto: Beard et.al

Já com microtomografia de alta resolução dos dentes fósseis, a cientista notou que as dentições das novas espécies eram super estranhas em comparação com seus parentes mais próximos. “Então, o que tenho feito nos últimos dois anos é tentar entender o que eles estavam comendo e se estavam comendo materiais diferentes dos de latitudes médias”, ela conta.

Miller e seus coautores acreditam que a comida era muito mais difícil de encontrar durante os meses escuros do inverno, quando os parentes primatas do Ártico provavelmente eram forçados a consumir material mais duro, como nozes e sementes, enquanto frutas estavam indisponíveis.

A escuridão durava metade do ano, assim como acontece hoje. A falta de alimentos moles, de acordo com Miller, pode ter levado ambas as espécies a desenvolver dentes e mandíbulas mais robustos em comparação com outros parentes primatas da época.

Dentição de Ignacius dawsonae da Ilha Ellesmere, em Nunavut, Canadá | Foto: Beard et.al

Além disso, as duas espécies são relativamente grandes, uma característica comum em mamíferos do norte. Os parentes de primatas da região eram inclusive maiores do que os seus parentes mais próximos do sul, um grupo apelidado de “plesiadapiformes”.

Mas eles ainda eram muito pequenos, segundo Miller. “Alguns plesiadapiformes das latitudes médias da América do Norte são muito, muito pequenos. Claro, nenhuma dessas espécies está relacionada a esquilos, mas acho que é a criatura mais próxima que nos ajuda a visualizar como eles poderiam ter sido”, compara a pesquisadora, acrescentando que os animais eram arborícolas.

Para a equipe, as adaptações exibidas por ambas as espécies do Ártico durante um período de aquecimento global mostram ainda como alguns animais modernos provavelmente poderiam desenvolver novos traços em resposta à crise climática de hoje.

“Acho que provavelmente o que isso significa é que o alcance dos primatas pode se expandir com a mudança climática ou se mover pelo menos em direção aos polos, em vez do equador”, afirmou Miller. “Se a vida começa a ficar muito quente lá, talvez tenhamos muitos táxons se movendo para o norte e para o sul, em vez da intensa biodiversidade que vemos hoje no equador”.

Fonte: Galileu

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