Um parecer técnico solicitado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) confirmou que o Zoológico Municipal de Piracicaba segue em condições inadequadas para a vida animal, mesmo após quatro anos de um acordo que deveria garantir melhorias estruturais e de manejo.
Emitido pelo Centro de Apoio à Execução (CAEx), o parecer comparou vistorias feitas em 2020 e 2025 e concluiu que a administração municipal não cumpriu integralmente o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o MP-SP em 2021. À época, o município havia prometido regularizar o zoológico e aprimorar seu manejo, compromisso prorrogado devido ao atraso nas execuções.
Segundo o relatório, embora ações pontuais tenham sido realizadas, como a compra de equipamentos obrigatórios, a atualização do registro do plantel e o controle de entrada e saída de animais, falhas essenciais persistem. A modernização dos recintos, a eliminação de problemas estruturais e a implementação de protocolos sanitários continuam pendentes, itens considerados básicos para qualquer espaço que mantém animais privados de liberdade.
O documento ainda registra que, mesmo com a contratação de uma bióloga e avanços no enriquecimento ambiental, vários animais seguem apresentando comportamentos estereotipados, sinais claros de estresse crônico associados ao confinamento. Reformas em recintos foram feitas de forma pontual, insuficientes para atender às necessidades das espécies. Áreas como a quarentena e espaços extra, essenciais para a manutenção mínima de bem-estar, não receberam as intervenções previstas.
A promotora Alexandra Facciolli, do Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema), afirmou que o relatório permitirá calcular multas diárias pelo descumprimento do TAC. O MP não informou quando a cobrança será aplicada.
Além das irregularidades, o próprio município reconhece o abandono do espaço. Ao defender o projeto de lei que autorizou a privatização do zoológico e do Parque das Crianças, aprovado pela Câmara no fim de novembro, a prefeitura admitiu que o local “há décadas não recebe investimentos” e encontra-se em situação “deplorável”, apesar do alto custo de manutenção.
O parecer técnico criticou também o edital de concessão, que, segundo o MP, prioriza uma lógica financeira acima de funções que deveriam nortear qualquer instituição que alega atuar pelos animais, como proteção, pesquisa e educação ambiental. Especialistas em direitos animais apontam que a busca por rentabilidade tende a agravar a exploração, intensificando a lógica de exibição e comercialização de animais usada para atrair público.