Em meio ao rigoroso inverno finlandês, mais de 300 voluntários dedicam dias inteiros a construir montes de neve artificiais para proteger a foca-anelada de Saimaa, uma das espécies mais ameaçadas do mundo. A iniciativa ocorre no Lago Saimaa, no sudeste da Finlândia, onde restam apenas 495 indivíduos da espécie.
As focas utilizam cavernas de neve formadas nos montes para dar à luz e proteger seus filhotes de predadores como raposas e das condições climáticas extremas. Contudo, com as mudanças climáticas climáticas e a cobertura de neve, o trabalho dos voluntários tornou-se vital para a sobrevivência da espécie.
Com temperaturas que chegam a -20°C, os voluntários se reúnem ao amanhecer e trabalham até o anoitecer, transportando equipamentos por até 10 quilômetros, a pé ou esquiando. No último inverno, foram construídos 200 montes artificiais, cada um com cerca de sete metros de comprimento e 1,5 metro de altura. Desde o início do projeto, em 2014, mais de 300 filhotes nasceram em montes feitos pelo homem, contribuindo para um crescimento gradual da população da espécie.
Além do impacto das mudanças climáticas, a foca-anelada de Saimaa enfrentou riscos históricos, como a caça e mortes em armadilhas de pesca, que levou sua população a menos de 200 indivíduos na década de 1980. Hoje, embora protegidas por lei, as focas continuam vulneráveis à emergência climática, com invernos mais amenos levando ao colapso de cavernas naturais de gelo.
Como alternativa, cientistas da Universidade da Finlândia Oriental estão desenvolvendo caixas-ninho artificiais, que imitam as cavernas naturais e podem ser usadas mesmo em invernos sem gelo. Até agora, 40 caixas foram instaladas no lago, resultando no nascimento de três filhotes, e há planos de expansão.
Jari Ilmonen, coordenador do programa “Our Saimaa Seal Life”, financiado pela União Europeia, destaca a importância de soluções a longo prazo: “Estamos fazendo o que podemos e precisamos manter pensamentos positivos”. Contudo, ele alerta que serão necessárias muitas caixas-ninho para sustentar uma população estável de 500 focas, com cerca de 100 filhotes nascendo a cada ano.
O Lago Saimaa, que abriga as focas, não é uma região selvagem intocada. A área é utilizada pela indústria florestal e possui diversas casas de veraneio em suas margens, o que aumenta a necessidade de ações coordenadas para proteger os habitats naturais da espécie.
O empreendimento coletivo de voluntários e as inovações tecnológicas é uma forma de garantir a sobrevivência dessa espécie icônica, ameaçada por um clima em transformação e pelas pressões humanas.