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SECA

Pantanal não teve cheia em 2024 e pode estar perto de “ponto de não retorno”, alerta estudo

Nível do Rio Paraguai nos cinco primeiros meses deste ano esteve, em média, 68% abaixo do esperado para o período, e tendência é de intensificação da seca até outubro

3 de julho de 2024
Marco Britto
9 min. de leitura
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Foto: CARL DE SOUZA/AFP via Getty Images

Em 2024, o Pantanal não teve período de cheia, fenômeno crucial para o sistema e a sobrevivência de fauna, flora e populações dependentes das águas da região, afirma estudo divulgado nesta quarta-feira (3) pelo WWF-Brasil. A seca é considerada pelo governo federal a pior em 70 anos, e especialistas alertam para a possibilidade de exceder-se um “ponto de não retorno”, o que pode significar um colapso do bioma.

Após um primeiro semestre de recorde de queimadas e emissões de CO2 provenientes dos incêndios florestais, o alerta se volta à sequência do ano, quando a situação normalmente se intensifica na região.

“De forma geral, considera-se que há uma seca quando o nível do Rio Paraguai está abaixo de quatro metros. Em 2024, essa medida não passou de um metro”, afirma Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil. “O que nos preocupa é que de agora em diante o Pantanal tende a secar ainda mais até outubro. Nesse cenário, é preciso reforçar todos os alertas para a necessidade urgente de medidas de prevenção e adaptação à seca e para a possibilidade de grandes incêndios”, declara.

A pesquisa conclui que o nível do Rio Paraguai nos cinco primeiros meses deste ano esteve, em média, 68% abaixo do esperado para o período.

Na Bacia do Alto Rio Paraguai, onde se situa o Pantanal, a estação chuvosa ocorre entre os meses de outubro e abril, e a estação seca, entre maio e setembro. De acordo com o estudo, entre janeiro e abril de 2024, período de cheia, a média da área coberta por água foi de 400 mil hectares, abaixo da média de 440 mil hectares registrada na estação seca de 2023. Ou seja, em vez de aumentar a superfície úmida, o bioma sofreu uma retração.

Soluções propostas para o Pantanal

  • Soluções baseadas na natureza (como restauração florestal, por exemplo)
  • Ações de prevenção e adaptação a eventos extremos, principalmente às secas e ao calor
  • Mapear causadores de impactos aos rios, considerando região de cabeceiras
  • Fortalecer e ampliar políticas públicas para frear o desmatamento.
  • Restaurar áreas de proteção nas cabeceiras, para melhorar a infiltração da água
  • Apoiar boas práticas da comunidade, proprietários e do setor produtivo

Ponto de não retorno

A nota técnica do WWF-Brasil se apoia em estudos sobre a região, e alerta para a possibilidade de que o atual estresse hídrico e as secas seguidas, combinadas aos incêndios florestais e o desmatamento, levem o bioma ao colapso. O ponto de não retorno seria ultrapassado quando a capacidade de regeneração do Pantanal for superada pelas mudanças extremas na região.

“Algumas regiões do Planalto da Bacia do Alto Paraguai já tiveram mais de 60% de conversões de vegetação nativa [mudança de uso, em maior parte para agropecuária], o que pode acarretar perdas abruptas de biodiversidade, o que tem sido evidenciado em estudos envolvendo alguns grupos, tais como insetos aquáticos, mamíferos e anfíbios”, afirma o professor Fabio de Oliveira Roque, da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), autor principal do estudo usado como referência pelo WWF-Brasil.

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