Chuvas rareando, rios assoreados e barrados para geração de energia não deixaram o Pantanal encher nos últimos anos como historicamente acontecia. Ao mesmo tempo, o calorão e a seca marcam com fogo o bioma e os dois estados brasileiros que abrigam a maioria da planície alagável sul-americana.
O índice de chuvas nos últimos 6 meses está bem abaixo da média de períodos anteriores. O clima em certas zonas do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul permanece de moderadamente a extremamente seco.
Medições do nível médio do Rio Paraguai no município de Ladário (MS) chegaram este ano a valores menores que os registrados em 1964, quando a régua chegou ao recorde de menos 61 cm. O sistema acompanha o sobe e desce daquelas águas desde 1900.
Esses ingredientes somados espalham chamas pela região e alavancam as chances de novos e potentes incêndios descontrolados, destaca uma nota técnica do Instituto SOS Pantanal. Incêndios bíblicos em 2020 consumiram cerca de 4 milhões de ha, ou 26% do bioma no Brasil. A área torrada foi similar a do estado do Rio de Janeiro.
No primeiro trimestre deste ano, as áreas queimadas no Pantanal ultrapassaram as médias para o mesmo período entre 2012 e 2022. Algo ainda mais grave porque a fase mais aguda da seca anual ainda não chegou, está prevista para julho e agosto.
Outro alarme do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) é o de que as queimadas de janeiro a maio deste ano já são 39% maiores que as do mesmo prazo de 2020, que tinha sido, nesse quesito, um dos piores anos da história conhecida do bioma.
Mas os efeitos colaterais da crise climática pantaneira são ainda maiores. “A seca prolongada impacta significativamente setores cruciais como abastecimento humano, navegação, geração hidrelétrica e atividades econômicas locais”, analisa a SOS Pantanal.
O cenário ameaçador exige medidas preventivas e de combate às chamas urgentes e, igualmente, ações concretas que preparem o Pantanal e suas populações a uma nova “realidade climática”, inegavelmente construída pelo desmatamento, poluição e outras ações humanas.
Para enfrentar o desafio, a nota da SOS Pantanal prega uma articulação entre governos federal, estaduais e municipais para mais fiscalizar e melhorar o uso da água, instalar uma “Sala de Crise” com instituições públicas e civis para acompanhar o drama do bioma, execução rígida de políticas estaduais para ampliar o manejo e a prevenção do fogo, arregimentar e capacitar brigadistas para reforçar o trabalho de bombeiros.
Se forem mesmo executadas, ações como as listadas pela entidade civil podem amenizar os estragos no presente e futuro pantaneiros. Isso é fundamental, pois as previsões científicas apontam para ainda maiores chances de menos chuvas, mais estiagens e termômetros em alta para o bioma.
O Pantanal abriga por volta de 1,1 milhão de pessoas no Brasil, 16.800 na Bolívia e 8.400 no Paraguai, mas também é um dos celeiros mundiais de biodiversidade. Até agora, nele foram listadas mais de 2 mil espécies vegetais, 582 espécies de aves, 132 de mamíferos, 113 de répteis e 41 de anfíbios.
Fonte: ((o))eco