A pandemia de coronavírus elevou a preocupação das pessoas em relação à segurança alimentar. Conscientes da relação entre exploração animal e o surgimento de pandemias, como a do coronavírus, chineses desistiram de consumir a carne de cães vendida no “Festival de Carne de Cachorro” de Yulin, cidade chinesa. Com isso, o número de adeptos ao festival caiu, livrando alguns cachorros de um destino cruel.
A China proibiu o comércio e o consumo de animais silvestres e tirou os cachorros da lista de animais considerados como adequados ao consumo. Essa reclassificação da espécie, no entanto, não impede a realização do festival, que mata milhares de cães todos os anos. O coronavírus ter surgido em um mercado que vendia animais vivos e mortos em Wuhan, na China, também são foi suficiente para por fim ao festival. Ativistas, no entanto, esperam que esse seja o último ano em que Yulin sedia tamanho horror.
É equivocada, no entanto, a ideia xenófoba de que chineses são um povo cruel que massacra os cachorros. Isso porque, além da China não fazer nada diferente do que o restante do mundo, alterando apenas as vítimas – no Brasil, por exemplo, animais como bois, porcos e frangos são mortos aos bilhões -, o costume de consumir cães está em queda no país. Há muitos chineses que rejeitam essa prática, outros tantos que são veganos e ativistas. A adoção de cachorros, criados como membros da família, também está em crescimento na China.
Além disso, militantes de outras nacionalidades atuam em prol da defesa animal na China. Um deles é o norte-americano Jeffrey Bari, que fundou um abrigo para cães nas proximidades de Pequim. Atualmente, 200 cães salvos da morte estão protegidos no local.
Para Bari, o festival de Yulin é desumano e bárbaro. Em entrevista à agência de notícias France Presse, ele contou que busca novos lares para os animais.
Além dele, ativistas salvam centenas de cães na China todos os anos. Entrando em matadouros ou interceptando caminhões que transportam esses animais, eles dão uma nova vida a cada um dos cachorros, que seriam mortos após serem pegos nas ruas ou sequestrados de seus tutores.
“Temos uma sensação de prazer quando conseguimos mudar o destino de um cachorro”, disse à agência Miss Ling, voluntária da ONG “No Dog Left Behind”.
Com início no último domingo (21), o festival que dura uma semana é sustentado às custas de muito sofrimento. Cachorros amontoados em gaiolas pequenas, conforme comprovado por fotos feitas pela AFP, são cenas comuns. Após serem mortos, os cães têm seus corpos empilhados em balcões para serem vendidos.
Mas o evento cruel que rendeu fama mundial à cidade rural de Yulin já não faz mais tanto sucesso entre os chineses. Chen, funcionário que está trabalhando no festival, revelou à AFP que a venda de carne de cachorro enfrenta dificuldades no país. “Há cada vez menos clientes”, disse. Segundo ele, a preocupação com a segurança alimentar, por conta da pandemia, tem acelerado a queda no número de chineses interessados no festival.
A má fama do evento é tamanha que até o nome foi mudado, sendo chamado agora de “Festa do solstício de verão”.