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TRANQUILIDADE

Pandemia dá a tartarugas-marinhas ameaçadas espaço para respirar

Um novo estudo sugere que tartarugas-comuns ameaçadas de extinção recuperaram costas vazias para reproduzir durante o lockdown, mas conservacionistas temem o retorno do turismo em massa

8 de agosto de 2021
Giovanna Reis | Redação ANDA
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Pixabay

Nikoletta Sidiropoulou e os colegas dela na Sociedade de Proteção de Tartarugas-Marinhas da Grécia (Archelon) estão reunidos na praia Marathonisi, cuidadosamente cavando a areia. Eventualmente eles acham o que eles estão procurando: um ninho de tartaruga contendo mais de 100 ovos. “ É muito emocionante”, diz Sidiropoulou.

Tartarugas-comuns marinhas ameaçadas de extinção, ou Caretta caretta, fazem as suas principais nidificações na ilha do Mediterrâneo de Zakynthos – uma das ilhas mais visitadas na Grécia, com aproximadamente 1 milhão de visitantes por ano, incluindo muitos turistas britânicos. O turismo em massa tem há muito tempo ameaçado as tartarugas-comuns: turistas frequentemente quebram as regras designadas para mantê-los longe dos ninhos. Mas uma nova pesquisa sugere que a pandemia da Covid-19 permitiu essas tartarugas subirem para respirar.

Os pesquisadores descobriram que as tartarugas-comuns mudaram o seu comportamento depois da drástica redução no número de visitantes e barcos em 2020. Nos anos pré-pandemia, tartarugas na baía Laganas normalmente se movem de águas mais quentes a 100 metros da costa para águas mais profundas e frias a 400 metros das praias, durante a época de reprodução (maio a junho). Mas em 2020, as tartarugas permaneceram nas águas quentes “ mesmo quando a temperatura do mar atingiu temperaturas ideais em outros lugares”.

O estudo, financiada pela universidade Rainha Maria de Londres e a universidade Deakin, Austrália, sugere que o “aumento da pressão do turismo, não da temperatura” estava provavelmente levando as tartarugas para o mar, “ potencialmente à custa das [tartarugas] perdendo o acesso para condições termais ideais que aceleram a maturação dos ovos e diminuindo intervalos de aninhamento.”

Na verdade, 2020 foi um ano recorde para o número de ninhos encontrados em Zakynthos. Archelon registrou 1.800 ninhos, o terceiro maior da organização em 38 anos na ilha.

Provar um link entre o comportamento das tartarugas e a queda no turismo durante Covid não é fácil. “ É muito difícil enxergar qual o impacto exato [do turismo] nas tartarugas. Elas são forçadas a irem a águas mais fundas, e isso significa que elas podem colocar menos ninhos teoricamente, mas é muito difícil provar isso”, diz Gail Schofield, uma pesquisadora ecológica de vida selvagem e uma das autoras do relatório.

Mas, Sidiripoulou adiciona: “Definitivamente era mais fácil para elas saírem e se aninharem porque não haviam obstáculos para elas na praia durante a noite, como espreguiçadeiras, guarda-sóis ou qualquer coisa que pode estar lá durante a alta temporada de turismo”.

A trégua pode ser breve. O turismo está de volta em Zakynthos, particularmente depois que o governo do Reino Unido aliviou as restrições da quarentena em 19 julho, e a ilha está novamente cheia com foliões e dezenas de barcos a motor na baía Laganas .

As áreas de reprodução das tartarugas são teoricamente protegidas, como parte do parque marinho nacional de Zakynthos, mas as violações das regras são constantes. De acordo com Sidiropoulou, barcos deixam ilegalmente dúzias de turistas na praia, onde eles são separados dos ninhos de tartaruga apenas por uma corda, e lanchas podem muitas vezes serem encontradas seguindo de perto uma tartaruga nadando na baía.

“Zakynthos tem muitos turistas jovens- a maioria deles nem sabem que tartarugas estão fazendo os seus ninhos na praia, então eles também não estão familiarizados com as regulações”, diz Sidiropoulou.

Laurent Sourbes, coordenador do parque marinho nacional de Zakynthos, diz que a única solução é multar os quebradores de regras, porém mais recursos são necessários.

“ Nós não somos capazes de fazermos por nós mesmos, nós precisamos da guarda costeira”, ele diz. Mas, com apenas um único barco e milhares de turistas e barcos para monitorar, a capacidade da guarda costeira de Zakynthos é limitada.

Essa semana, o WWF encontrou uma tartaruga morta flutuando perto do porto principal da ilha, aparentemente atingida pela hélice de um barco, enquanto mais cedo nesse verão duas tartarugas também foram mortas por uma pancada de barco.

“ Agora, o [governo] está trazendo mais dois barcos para a guarda costeira, mas é uma pena que você tenha que esperar que tartarugas sejam mortas”, diz Sourbes.

O cabeça da WWF da Grécia, Demetres Karavellas, diz que os problemas em Zakynthos refletem um “desafio mais amplo” a respeito de vigilância efetiva de áreas marinhas protegidas no país.

“ É um grande desafio, especialmente para um país [que está] também lidando com turismo. Não é, obviamente, a sua principal prioridade”, Karavellas diz.

Outra praia em Zakynthos oferece um modelo de como proceder: a praia Sekania tem maior densidade de tartarugas-comuns no Mediterrâneo, e está completamente protegida, com acesso proibido para todos os visitantes.

Sidiropoulou acredita que turismo e ecossistemas saudáveis podem coexistir, e tem discutido com autoridades locais que um bom primeiro passo seria produzir um estudo sobre o número de barcos que a baía Laganas pode aguentar, apesar de ela não esperar que o pedido seja concedido.

“ Normalmente nós não somos respondidos de volta, para te falar a verdade”, ela diz. “ Zakynthos é uma ilha linda, mas nós queremos que os turistas respeitem a natureza e protejam as espécies que vieram aqui para colocar os seus ovos por milhões de anos”, ela diz.

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