O biólogo responsável pela recuperação da palanca negra gigante alertou neste domingo (04) em Lisboa (Portugal) que a espécie só estará salva quando o número de animais sobreviventes triplicar e que, mesmo assim, a palanca nunca deixará de estar em risco de extinção.
“A palanca não está salva, longe disso”, alertou, em entrevista à Lusa, Pedro Vaz Pinto, o investigador angolano que no início do mês recebeu em Portugal o Prêmio Internacional Terras Sem Sombra pelo seu trabalho pela recuperação e conservação da espécie.
O cientista, que em 2003 lançou o Projeto de Conservação da Palanca Negra Gigante, afirmou que a situação da espécie, endêmica de Angola – só existe na província de Malange – e que até 2005 se temia estar extinta, é hoje mais estável, mas ainda é crítica.
Atualmente, Vaz Pinto estima que exista um total de entre 80 e 100 animais nas duas zonas onde há manadas, o Parque Nacional da Cangandala e a reserva natural do Loando. “É a nossa estimativa de palancas sobreviventes, o que é muito pouco”, afirmou.
A principal ameaça à palanca negra gigante é a caça, que, apesar de não visar diretamente a espécie, acaba por fazer dela um dano colateral, já que as armadilhas não fazem distinção entre os animais. Além disso, numa população tão reduzida como a da palanca negra gigante, qualquer perda é suficiente para atrasar a recuperação, alertou.
Questionado sobre se há falta de investimento do Governo no combate à caça, Vaz Pinto admitiu que sim, mas sublinhou que falta sobretudo organização. A grande prioridade na conservação da palanca, defendeu o investigador, é dotar as duas zonas onde existem populações da espécie de estruturas de administração fortes, com competências claras e que assegurem a gestão daquelas áreas.
Em termos formais, a Cangandala e o Loando são um parque nacional e uma reserva natural integral, “mas, infelizmente, ainda não dispõem de estruturas de gestão apropriadas”, lamentou. “É uma falha grave e um fator limitante para o futuro”, disse Vaz Pinto, para quem a palanca negra “nunca vai deixar de estar em risco de extinção”.
Recordando que no auge da população de palancas, nos anos 1970, os animais seriam 1.500 a 2.000, e que atualmente o habitat é muito mais reduzido, Vaz Pinto admitiu que se possa aspirar a ter mil espécimes. “Mil é sempre um valor baixo. É sempre um animal ameaçado. Essa ameaça nunca desaparecerá por completo”, reiterou.
Neste momento, recordou, o risco é crítico. “Penso que se conseguirmos pelo menos triplicar o contingente atual e quando estiverem instaladas estruturas de gestão nas duas áreas e a caça furtiva estiver sob controle, direi que deixa de estar em risco crítico e passa a estar em risco moderado”.
“Quando chegarmos aí, eu poderei dizer que ela está salva, pelo menos a prazo”, afirmou o biólogo, que não poupa nas palavras quando se refere ao animal que se tem dedicado a proteger e que é considerado o símbolo de Angola. Para Vaz Pinto, “poucos países do mundo – ou se calhar nenhum – têm um símbolo que conjugue de forma tão especial (…) o seu caráter, a sua imponência, a raridade, a exclusividade de ser único desse local”.
Comparando a palanca em Angola com o panda na China ou o canguru na Austrália, o investigador disse que os dois últimos têm caráter e são únicos, “mas não têm a mesma imponência de uma palanca”.
“Angola está afortunada por ter a palanca como símbolo. Agora resta a segunda parte do trabalho, que é protegê-la e assegurar que as próximas gerações também vão tê-la”.
Fonte: PT