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SUL DE MINAS

Paixão pelos animais faz empresária mineira criar projeto de acolhimento para aves vítimas de tráfico e maus-tratos

Localizado em Congonhal, o Projeto Brisa acolhe e reabilita aves silvestres resgatadas de cativeiros, devolvendo a elas a chance de voar de novo.

3 de agosto de 2025
7 min. de leitura
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Michelle Amaro criou um projeto para acolher e reabilitar aves vítimas do tráfico em Congonhal (MG) — Foto: Redes sociais/Michelle Amaro

No coração de um sítio cercado por mata e silêncio em Congonhal, região Sul de Minas, uma missão de acolhimento e reabilitação de aves vem ganhando espaço e reconhecimento. Ali nasceu o Projeto Brisa, um trabalho voluntário dedicado ao cuidado de maritacas, tucanos e outras aves silvestres ou domésticas, muitas delas vítimas de tráfico, acidentes ou abandono.

A idealizadora é Michelle Amaro, que antes de lidar com asas e penas, já atuava na proteção de cães. Foi em 2020, com o resgate de uma maritaca filhote – que recebeu o nome de Brisa – que ela viu sua vida tomar um novo rumo. “Na época, eu não fazia ideia do que esperar. Dei a ela o nome de Brisa, e assim nasceu o projeto”, contou a empresária.

O cuidado com as aves trouxe descobertas inesperadas. “Elas são extremamente delicadas, mas também incrivelmente resilientes”, relata. Além disso, revela que os vínculos afetivos criados com esses animais são profundos.

“Quando você estabelece uma relação de confiança com uma ave, o vínculo é profundamente lindo”.

Entre os inúmeros resgates, a história da “Sara Tucaninha” ocupa um lugar especial. A ave foi resgatada de um cativeiro ilegal quando era um filhote, com as penas cortadas, suja de óleo e sinais claros de maus-tratos. Hoje ela vive livre, saudável e sempre volta para visitar Michelle. “É uma alegria sem tamanho”, diz emocionada.

Um dos resgates mais emocionantes para Michelle, foi o da Sara Tucaninha — Foto: Redes sociais/Michelle Amaro

Resgate exige rede de apoio e cuidados especializados

Tucanos e maritacas lideram o número de acolhidos. Filhotes, aves mutiladas ou em estado de debilidade demandam atenção especial. Quando necessário, a fundadora busca apoio de veterinários especializados, como a Sâmia Coli Mouallem, de Itajubá (MG).

Sâmia cuida da saúde de animais silvestres há 15 anos e é parceira do Projeto Brisa desde o início, há cerca de cinco anos. “Sempre que tem um caso mais complicado, a Michelle leva à clínica ou a gente se fala pelo telefone. Eu vou procurando ajudar ela, porque a gente mora longe, então é difícil ficar sempre levando. (…)”

“A gente faz os primeiros cuidados, trata esses animais, e quando eles começam a crescer e precisar de soltura, a gente encaminha para a Michelle e ela faz todo esse processo. Coloca nos viveiros, eles aprendem a voar, a comerem sozinhos, até serem soltos na natureza”, detalha a profissional.

Cada ave passa por um processo de recuperação que pode durar semanas ou meses, dependendo das condições físicas e psicológicas em que chegam. Muitas que conseguem se reabilitar e são devolvidas à natureza, voltam para visitar Michelle. “É sempre emocionante! Ver uma ave livre, que retorna por vontade própria, por confiança, é um privilégio imenso!” diz a criadora.

Porém, nem todas podem ser soltas. Nesses casos, aves com traumas irreversíveis ou criadas em cativeiro desde filhotes passam a viver em recintos amplos e seguros, criados especialmente para elas, com bem-estar e dignidade.

Tucanos e maritacas lideram o número de acolhidos pelo Projeto Brisa — Foto: Redes sociais/Michelle Amaro

Tráfico de animais ainda desafia a preservação

Com o tempo, o projeto passou a receber aves encaminhadas por universidades, Polícia Ambiental, Corpo de Bombeiros e até pela população. Com a proporção que o projeto tomou, Michelle Amaro também atua diretamente com casos ligados ao tráfico de animais, um problema que preocupa profundamente a fundadora.

“É devastador ver o que tantos animais passam. Já recebi várias aves apreendidas do tráfico, muitas em condições físicas e emocionais lastimáveis”, conta.

g1 entrou em contato com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para saber quais ações os órgãos responsáveis tem praticado para coibir esse tipo de crime. O instituto explicou que, apesar de não ter feito operações em 2024 e nem até o momento, está se dedicando ao acolhimento dos que chegam através de operações das forças de segurança pública.

Segundo o Ibama, em todo o Brasil, os Centros de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) geridos pelo instituto receberam 27.796 animais em 2025, sendo as aves a grande maioria, seguidas pelos répteis e mamíferos.

Cetas já receberam mais de 27,7 mil animais vítimas de tráfico em 2025 — Foto: Inema

Em Minas Gerais, três cidades dispõem de Cetas: Belo Horizonte, Juiz de Fora e Montes Claros, correspondendo a 15% dos animais atendidos no país. Até o momento, 4.085 animais foram recepcionados nos Cetas mineiros.

“Os Cetas atuam de forma articulada e integrada, constituindo um sistema nacional de centros especializados na triagem, reabilitação e destinação de fauna silvestre”, explicou o Ibama.

Ainda de acordo com o instituto, cerca de 60% dos animais recebidos nas unidades são reabilitados e devolvidos à natureza.

Redes sociais: ferramenta de renda e conscientização

As redes sociais têm sido aliadas de Michelle para dar visibilidade ao projeto: cerca de 288 mil seguidores acompanham a rotina de cuidados e histórias das aves que convivem com a criadora. Mas, apesar do apoio e engajamento que ela recebe, o retorno financeiro ainda é baixo para cobrir o orçamento.

Atualmente, o Projeto Brisa abriga 60 aves em diferentes estágios: reabilitação, residência permanente ou soltura branda, quando os animais ainda usam o sítio como ponto de apoio. Os custos mensais ultrapassam os R$ 10 mil, com despesas de alimentação, mão de obra, medicamentos e manutenção dos recintos.

Fonte: g1

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