Pouco tempo atrás fiquei sabendo que uma agência de trabalho alemã, a Pinneberg, recomendou o vegetarianismo para quem estivesse desempregado. Além da alimentação sem carnes, a agência sugeriu que essas pessoas diminuíssem o aquecimento em casa, vendessem objetos de decoração e bebessem água da torneira como forma de economizar. Pode parecer estranho, a ponto de virar notícia num jornal, mas essa sugestão de cardápio faz sentido na Europa porque, de fato, a carne é cara por aqui – o que é muito justo, pois esse tipo de alimento abusa dos recursos naturais para ser produzido e ainda polui demais o meio ambiente, como disse o mais recente relatório ambiental da Organização das Nações Unidas (ONU). O tal do preço ambiental.
Ao ler sobre a recomendação alemã, fiquei curiosa em saber se é mais barato ser vegetariana em Milão ou em São Paulo, onde nasci e vivi até o ano passado. Levando em consideração, é claro, uma alimentação vegana balanceada – o que significa incluir certos alimentos no cardápio do dia-a-dia, como castanhas e semente de linhaça, por exemplo, que fornecem nutrientes específicos para o corpo funcionar direito.
Pesquisei e descobri que em Milão os vegetarianos gastam menos.
Na minha lista de 11 itens diferentes, fontes de fibras, vitaminas e vários nutrientes, como proteína, ferro, cálcio e ômega-3, a diferença de preço foi de 28 Reais. Se em Milão eu gasto 33 Euros (uns 96 Reais) pra comprar esses produtos, que duram mais de um mês aqui em casa; em São Paulo essa conta subiria pra 124 Reais. Fiz a pesquisa dos preços brasileiros no dia 24 de setembro de 2013 pelo site Buscapé e desconsiderei as ofertas daqueles mercadinhos que ninguém conhece – fui pelo preço das lojas maiores que tem no país todo, como Pão de Açúcar e Extra. Aqui em Milão, pesquisei nos dois supermercados perto de casa – Carrefour e NaturaSì – mas, provavelmente existem lugares mais baratos. Por falar no Carrefour, lá e em qualquer outra grande rede de supermercado pago 0,15 de Euro (R$ 0,43) por 1 kg de sal refinado fino ou grosso. No Brasil, o sal fino refinado mais barato que encontrei custava R$ 1,30.
Ok, eu sei que São Paulo (junto com o Rio de Janeiro) é a cidade mais cara do Brasil, sei também que 28 Reais não é tanto dinheiro assim e que ninguém vai morrer por causa de R$ 0,90 a mais no preço do sal. Mas essas diferenças só parecem ínfimas porque fiz o câmbio da moeda. Seria interessante não fazer câmbio nenhum, mas sim a conta da quantidade de dinheiro que entra e que sai, porque em teoria a pessoa gasta na moeda em que recebe.
Por exemplo, um italiano ganha “Mil Dinheiros” por mês. Como mora em Milão, com “30 Dinheiros” ele consegue comprar 11 produtos veganos diferentes e com mais “Um Dinheiro” pega ônibus (e metrô também). Então, depois de receber o salário e ir ao supermercado usando um ou dois meios de transporte público, esse cara tem sobrando na carteira “969 Dinheiros”. Já um paulistano que ganha os mesmos “Mil Dinheiros” por mês, precisa gastar “130 Dinheiros” pra conseguir comprar os mesmos produtos que o italiano comprou em Milão e mais “Três Dinheiros” pra pegar só o ônibus. Ou seja, depois de receber o salário e ir ao supermercado de ônibus, esse coitado tem sobrando na carteira “867 Dinheiros”.
Na feira também notei diferença. No mesmo dia 24 de setembro gastei 19,80 Euros (uns 57 Reais) pra comprar frutas, verduras e legumes. Em São Paulo, esses mesmos itens sairiam por uma média de 65 Reais, de acordo com amigos e parentes que consultei. Sei que o preço muda conforme a cidade, a safra, o tipo e a origem do alimento, mas continua valendo o lance da proporção monetária.
Tenho certeza de que com “20 Dinheiros” em São Paulo eu não conseguiria comprar tudo o que comprei na feira de Milão (a lista de compras está lá no fim do texto).
Saúde vale ouro
Dá pra concluir então que no Brasil quem tem uma alimentação pouco variada e rica em carnes costuma gastar menos do que quem se preocupa em colocar à mesa alimentos-chaves para a saúde. Se isso parece um bom negócio pra você, tenho o outro lado da moeda pra te mostrar. Comer muita carne faz mal pra sua saúde e pra uma quantidade enorme de animais que morrem de um jeito horroroso só pra alimentar um bando de gente gulosa. Gente, aliás, que está cada vez mais doente por causa dessa comilança toda – é diabetes tipo 2, hipertensão, problemas renais, colesterol alto, obesidade. Todos esses problemas estão diretamente ligados ao tipo de alimentação.
Tente se lembrar agora se alguma vez você ouviu um médico recomendar bastante churrasco, linguiça e bacon como forma de tratamento pra algum paciente. Aposto que não. Aposto também que você não quer gastar seu suado dinheirinho só em remédios caros e que espera nunca precisar de um hospital no Brasil. Nem com um plano particular caro (muito mais caro do que um quilo de castanhas), o sistema de saúde brasileiro funciona direito. Então, é melhor tentar se prevenir dessas doenças do jeito mais fácil que existe: com uma alimentação mais saudável e equilibrada.
Pra quem se interessou sobre os preços, detalhei os 11 itens veganos que não deixo faltar em casa, os preços de cada um e por que eles fazem bem para a saúde de qualquer pessoa, vegetariana ou não.
Preços no Brasil
Pesquisa feita no dia 24/09/13 pelo site Buscapé
Mix de quinoa em grãos Vitalin Orgânica 400 g: R$ 22
A quinoa tem mais proteína do que o ovo, com a vantagem de ser rica em fibras e ter zero colesterol. A proteína faz a manutenção dos músculos.
Leite de soja orgânico Native (com cálcio) 1 litro: R$ 12
Alternativa para o leite de vaca, os leites de soja quase sempre vêm enriquecidos com cálcio, que cuida dos ossos e de outras coisinhas. De soja, arroz, aveia ou castanha, o leite vegetal é ótimo pra intolerantes à lactose, grupo de pessoas que está crescendo no mundo todo. Para fazer receitas salgadas, como purê de batata, procure as versões naturais, sem adoçantes ou essência de baunilha.
Pasta de gergelim (tahine) Zeeny 250 g: R$23
Outra opção de alimento vegetal muito rico em cálcio. Você pode misturá-lo com melado e passar no pão para comer no café-da-manhã. Eu uso puro mesmo, no pão. Mas ele também faz parte da minha receita de húmus (grão-de-bico cozido, azeite, sal, limão, tahine e um pouco de água – tudo isso batido no liquidificador).
Grão-de-bico seco Yoki 500 g: R$ 7
Outra fonte vegetal de proteína, ele é tão versátil que deveria entrar no lugar da soja como base da culinária vegetariana. Você pode refogá-lo com outros vegetais (eu faço com cenoura, tomate sem casca e curry), adicioná-lo a saladas, fazer hambúrgueres, húmus ou comer junto com arroz para garantir todos os aminoácidos essenciais – os tijolinhos que constroem a proteína. A dupla “cereal + leguminosa”, como arroz com feijão ou arroz com grão-de-bico, tem todos esses aminoácidos necessários para os músculos.
Pão integral 7 Grãos Nutrella 400 g: R$ 6,50
Os cereais integrais são boas fontes de fibras, que ajudam o intestino a eliminar os excessos de porcarias, e de carboidratos que irão se transformar em glicose – o único alimento das células, principalmente as do cérebro. Coloquei a marca Nutrella porque era dessa que comia quando morava em São Paulo.
Tofu firme orgânico Ecobrás 250 g: R$ 13
Muita gente fala dos benefícios da soja, de como ela protege a saúde da mulher por ter isoflavonas. Mas raramente como, porque já percebi que ela prende meu intestino. De todas as suas versões, o tofu é o mais versátil na cozinha: dá pra fazer patê temperado com azeitona e ervas, mousse de chocolate, recheio de torta salgada ou mesmo frito no azeite com gengibre, shoyo (molho de soja), brócolis e vagem – adoro essa receita.
Melado de cana Superbom 330 ml: R$ 9,50
Vegano não usa mel, que pode ser substituído pelo melado. Aliás, do ponto de vista nutricional o melado tem menos calorias, mais cálcio e mais ferro do que o mel. Gosto de misturar o melado com mostarda em grãos e azeite pra temperar saladas bem coloridas, com várias folhas verdes, tomate, cenoura, rabanete, pepino, abobrinha crua ralada.
Arroz integral tipo 1 Tio João 500 g: R$ 5,50
Fonte de fibras e de carboidrato, o arroz integral é um daqueles alimentos que deveria ser consumido sempre por ser uma boa fonte de energia. Acho que todo mundo tem uma receita com arroz.
Açúcar mascavo Mãe Terra 1 kg: R$ 8,60
Em relação ao açúcar branco, o mascavo tem menos calorias, mais cálcio, potássio, magnésio e fósforo. Por isso é só ele que uso quando preciso adoçar alguma coisa – minha única xícara de café do dia, por exemplo, que tomo de manhã.
Nozes sem casca 100 g: R$12
Qualquer castanha é fonte de gordura do bem, proteínas e zinco. As nozes têm ainda substâncias que protegem o sistema nervoso. Dá pra colocá-la na salada, fazer leite ou acrescentá-la em sobremesas com frutas, como pera e maçã.
Semente de linhaça Mãe Terra 200 g: R$ 4,50
Essa história de que os peixes são saudáveis porque têm ômega-3 é uma grande balela. Eles podem até ter esse tipo de gordura boa, mas a linhaça e a chia também têm e ainda são ricas em fibras. Eu uso a linhaça triturada na vitamina de banana com canela e leite vegetal. Ela também substitui o ovo em algumas receitas, como nesse meu hambúrguer de lentilha.
Total no Brasil: R$ 124
Preços em Milão
Pesquisa feita em setembro de 2013, considerando o câmbio do Euro (€) a R$ 2,90
Mix de quinoa orgânica Ecor 500g: €5,63
Leite de soja orgânico (com cálcio) 1 litro Provamel: € 2,80
Tahine Rapunzel 250 g: € 3,80
Grão-de-bico seco Carrefour 600 g: € 2
Pão integral Mulino Bianco 400g: € 1,15
Tofu firme orgânico Integralimentari 250 g: €2,37
Melado de cana orgânico Panela 500 g: €4,41
Arroz integral orgânico Ecor 500 g: €1,94
Açúcar mascavo orgânico peruano 1 kg: € 4,80
Nozes sem casca Carrefour 100 g: € 2,55
Semente de linhaça orgânica Ecor 250 g: €1,50
Total: € 33 (R$ 96)
Feira em Milão no dia 24/09/13 para duas pessoas
1 kg de uva verde
1 pedaço médio de abóbora
2 melões
3 pimentões amarelos
2 ervas-doces
4 abobrinhas
1 couve-flor pequena
300 g de vagem
2 kg de pêssego
1 kg de tomate
1 pé de escarola
1 berinjela grande
1 pé de alface
Total: € 19,80 (R$ 57,42)