O Paínho-de-Monteiro, ave marinha nativa da Graciosa, em Portugal, está entre o “Top10” das espécies portuguesas mais emblemáticas do país. A escolha foi feita através de votação dos portais Naturdata e da Biodiversidade dos Açores. Entre as dez espécies mais votadas, foram eleitos cinco aracnídeos, dois insectos, uma lesma-do-mar, um peixe e uma ave – o Paínho-de-Monteiro.
A votação terminou no final do ano passado e pretendeu apurar as mais emblemáticas espécies de Portugal descritas entre 2000 e 2010.
A iniciativa “Top 10 das Espécies Portuguesas” foi promovida, durante 2010 como forma de assinalar o Ano Internacional da Biodiversidade, pelos Portal Naturdata – biodiversidade online (www.naturdata.com) e pelo Portal da Biodiversidade dos Açores (www.azoresbioportal.angra.uac.pt).
Entre os dez mais votados, está o Paínho-de-Monteiro, uma ave marinha endêmica do ilhéu da Praia, ao largo da Graciosa. As votações foram feitas através da internet e abertas ao público. Ao todo, referem os promotores, foram recolhidos 303 votos.
Segundo o docente da Universidade dos Açores (UA), Paulo Borges, investigador do CITA-A, Centro de Investigação e Tecnologias Agrárias dos Açores e responsável também pelo Portal da Biodiversidade, a escolha do o Paínho-de-Monteiro nesta avaliação nacional “mostra que as pessoas que votaram na internet conhecem essa espécie de ave. Havia mais cerca de cinco a seis espécies açorianas considerada nessa lista, mas só o Paím-de-Monteiro é que acabou por ser votado entre as melhores dez”.
O docente universitário refere tratar-se de um “patrimônio único dos Açores”: “Além do Priôlo, temos também o Paínho-de-Monteiro como as duas aves que são espécies endémicas dos Açores”.
Espécie protegida
Paulo Borges recorda que existe atualmente em curso um projeto para a preservação do habitat do Paínho-de-Monteiro, desenvolvido pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) nos Açores.
Apesar de esclarecer que não se trata de uma espécie em risco de extinção, como o Priôlo, o investigador refere que “é uma ave que tem um efectivo populacional não muito elevado”.
Actualmente o ilhéu da Praia da Graciosa está classificado como Reserva da Biosfera e em curso, recorda Paulo Borges, está um processo de erradicação de roedores para evitar que se destruam os ninhos e os ovos destas aves.
“Pode não ser tão conhecida como o Priôlo”, mas a nível nacional, as pessoas reconheceram esta espécie.”
De Paínho-da-Madeira a Paínho-de-Monteiro
Segundo descreve o biólogo Joël Bried, do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da UA, a espécie “Paínho-de-Monteiro” foi descrita apenas em 2008.
“Antigamente, era conhecido como Paínho-da-Madeira-de-época-quente Oceanodroma castro. Contudo, o investigador Luís Monteiro mostrou durante o seu doutoramento que as duas formas sazonais de Paínho-da-Madeira nos Açores, para além de se reproduzirem em épocas diferentes, tinham uma morfologia e uma dieta diferentes (…) Recentes estudos genéticos mostraram que o Paínho-da-Madeira-de-época-quente dos Açores era geneticamente distinto, não só do Paínho-da-Madeira-de-época-fria dos Açores, mas também de todos os outros Paínhos-da-Madeira do Atlântico norte e do Pacífico. A combinação dessas diferenças (morfológicas, ecológicas, vocais e genéticas) levou a considerar que o Paínho-da-Madeira-de-época-quente dos Açores era mesmo uma espécie distinta”.
A menor ave marinha, de coloração preta, deve ao seu nome em homenagem ao investigador Luís Monteiro, falecido num acidente de avião em 1999.
O Paínho-de-Monteiro mede apenas 18-20 cm e tem peso entre 35 e 60 gramas.
“Segundo Gaspar Frutuoso, os paínhos eram muito abundantes no arquipélago durante o século XVI. No entanto, foram intensamente explorados para alimentação e extracção de óleo nessa altura. Actualmente, a população está muito reduzida, com apenas 250-300 casais reprodutores. As colónias de nidificação desta espécie localizam-se em pequenos ilhéus desabitados, situados ao largo da ilha Graciosa (ilhéus de Baixo e da Praia)”.
O investigador refere suspeitar da nidificação desta ave igualmente no ilhéu da Baleia (Ponta da Barca). “Atualmente, considera-se que este ilhéu alberga a maior colônia de Paínhos-de-Monteiro do mundo, com ligeiramente mais do que 100 pares”.
Com informações de A União