Fernanda* tem fobia de veterinários. A culpa não é exatamente desses profissionais, mas do quanto a tutora de Bob Esponja já gastou com seu shitzu no médico. Em junho de 2019, quando precisou tratar uma erliquiose (doença do carrapato) que quase levou embora o cachorro, gastou mais de R$ 10 mil em uma semana, entre consultas, exames, transfusões, internamentos e medicamentos. “Tive que vender o carro financiado e pedir ajuda a amigos e parentes. Até hoje ainda pago”.
Entre um problema e outro que aparece agora, Bob, de 6 anos, volta e meia retorna ao médico. Cada vez que isso acontece bate o desespero em Fernanda. “Olha, morro de medo que ele fique doente. É uma quantidade absurda de exames que os veterinários pedem. Toda vez não é menos de R$ 2 mil. Eu pago, né? Tem outra opção? Você deixaria o seu filho morrer?”, pergunta a advogada recém-formada.
De fato, quando se trata de veterinário, pagar caro – na maioria das vezes – é a única opção. São muitas as histórias de quem teve que desembolsar bastante dinheiro com tratamentos, caso contrário iria perder o animal. Sem um hospital público para os animais e com os preços praticados pelas clínicas, muitos terminam como o jornalista Rafael Rodrigues, hoje com 33 anos.
Rafael teve que abrir mão dos estudos fora de Salvador para salvar a vida da poodle Funi, em 2006. Estava de malas prontas para fazer o curso de Direito na Universidade Santa Cruz (Uesc), em Ilhéus, quando a cachorrinha foi atropelada e teve várias fraturas. Gasto total em números atualizados: mais de R$ 8 mil. O dinheiro, guardado pela mãe, seria usado para lhe sustentar no início dos estudos, mas foi todo em cirurgias.
Funi viveu e mudou o futuro de Rafael, que acabou estudando Jornalismo em Salvador. “Quando você vê sua cachorra chorando de dor, toda quebrada na sua frente, você não pondera nada, não calcula nada para salvar ela. Vai fazer o que for possível e depois vê como resolve”, conta Rafael, que não tem como saber se foi lesado ou não pela clínica. “Na emergência ninguém faz pesquisa de preço, ninguém faz cotação para saber qual o melhor serviço e onde é mais barato. É desesperador! E, com certeza, muito veterinário se aproveita disso”, acredita.
Será? O que está por trás de valores tão altos para a realidade da maioria absoluta das pessoas que tem em casa um animal como membro da família? Há situações abusivas? Qual o limite entre o interesse comercial e o cuidado com o paciente a todo custo? A questão é complexa e envolve uma série de nuances. Enquanto o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) afirma que esses custos são reflexo principalmente da carga tributária que impede a redução desse tipo de serviço, os relatos dos tutores vão contra clínicas e médicos.
Eles apontam para a ganância dos veterinários, o excesso de pedidos de exames, os internamentos desnecessários e a insistência no uso de medicações mais caras. Mas todas essas acusações contrastam com a abnegação de muitos profissionais da área e as cotas sociais praticadas por uma parte das clínicas, por exemplo. Muitas fazem atendimentos com descontos e até gratuitos em casos específicos.
Sem falar nas justificativas técnicas. Os médicos afirmam que seguem protocolos quando solicitam exames, internações e procedimentos. E também acusam os clientes de muitas vezes serem negligentes e não seguirem tratamentos. O que não se pode negar é que os tutores vivem com medo de levar seus animais ao médico. E isso fica claro em uma pesquisa que faz parte da dissertação de mestrado recém-concluída na Unifacs pelo administrador de empresas Alan Sena, 40 anos.
Em seu trabalho, Alan mostra em um ranking o que os tutores de Salvador mais procuram nas clínicas veterinárias e pet shops. Diferente do que se pode imaginar, em vez de qualidade ou atendimento, antes de tudo eles buscam preço. Alan, que é dono de uma clínica e pet shop, diz que não pode apresentar os números da pesquisa porque sua dissertação ainda não foi publicada. “Mas eu tomei um susto quando vi que as pessoas buscam mais os melhores preços do que a qualidade”.
A maioria dos relatos de tutores é com nomes fictícios porque os tutores dos animais têm receio de algum tipo de retaliação por parte dos profissionais caso precisem deles. Ou simplesmente não querem que o marido descubra que se gastou tanto com o animal, caso de uma das fontes ouvidas. “A verdade é que estamos nas mãos deles (veterinários). Ou você paga caro ou o seu animal morre”, diz Clara*, tutora do gato Luck, que gastou R$ 5 mil da última vez que ele teve problemas renais. “Não coloque meu nome porque meu marido nem pode saber disso”.
Ainda que sejam o lado passional e que não tenham conhecimento veterinário, alguns tutores trazem situações que chegam a ser esdrúxulas. “Meu cachorro apresentou vômito e diarreia. Fiquei assustada e levei no veterinário. Depois de alguns exames, queriam internar para fazer mais exames. Logo de cara eu pagaria R$ 1,4 mil. Liguei para outro vet e ele mandou levar o cachorro pra casa, dar água de coco e observar. Fiz isso e deu certo. Ele deve ter comido alguma besteira na rua”, acredita Sara*, tutora de Nina.
Exames
O excesso de exames requisitados em consultas talvez seja a principal reclamação de tutores como algo praticado em muitas clínicas. Depois de um passeio, a cadela de João Pedro* apareceu mancando da pata esquerda. Ao chegar no veterinário, além da consulta, ele pagaria por um raio-x. Na hora de desembolsar, a clínica cobrou por quatro chapas de raio-x.
“Ainda por cima eles não me informaram, não perguntaram se eu poderia pagar pelos quatro raio-x. Eu fui questionar: ‘quatro raio-x para uma pata?’ Olha, eu quero o melhor para a minha cachorra, mas sei que quatro raio-x para uma pata mancando é demais. Então eu disse que não pagaria porque não fui consultado”.
Esses excessos ficam ainda mais evidentes quando o tutor é médico de humanos e tem conhecimento sobre exames e procedimentos. Desde que a cadela Bela apresentou cegueira, o médico clínico André* já gastou em torno de R$ 7 mil, entre exames, consultas com oftalmologista, hematologista, clínico e transfusão de sangue. Mas ele precisou intervir em muitos momentos para não pagar ainda mais.
Isso porque, após exames de sangue, Bela foi diagnosticada com doença do carrapato e, mesmo assim, os veterinários insistiam em pedir exames de leishmaniose, que custava em torno de R$ 350. “Acontece que ela já ia fazer também um mielograma, exame da medula no qual é possível ver na lâmina se existe infecção por leishmania”, explica André. O exame foi então suspenso. “Isso porque eu sou médico. Se fosse um leigo pagaria mais R$ 350”.
André também questiona a cobrança de internamentos para o caso de transfusões de sangue, prática de muitas clínicas. Ele pagou R$ 650 por uma bolsa de sangue e ainda teve que desembolsar uma taxa como se o animal ficasse internado na clínica – o procedimento levou 6 horas. Total: R$ 1,3 mil. “Sem falar que esse sangue é fruto de doação. Eles argumentam que fazem muitos exames no cachorro doador, mas acho abusivo”.
Protocolo à risca
Muitos veterinários, obviamente, não concordam com algumas práticas de colegas e clínicas. Um deles, bastante experiente, aceitou falar sem ter o nome divulgado. Ele diz que os protocolos técnicos, claro, devem ser o grande farol dos médicos. Mas não podem e nem devem ser o único. No afã de seguir à risca o que está escrito nos livros, explica, alguns profissionais não ponderam aspectos importantes e optam por internar ou propor exames e procedimentos de forma apressada.
“É complicado comentar em cima de casos que não conheço, mas claro que é preciso ponderar tudo em um atendimento, inclusive a capacidade que o tutor tem de pagar pelo serviço. Sempre procuro trabalhar dentro do protocolo, mas não vou internar um animal só porque está no livro. Como ele está clinicamente? Ele pode ser observado pelo tutor em casa? Podemos tentar com medicação antes de fazer um procedimento invasivo? Por isso a experiência e a honestidade contam tanto na veterinária”.
Uma outra veterinária, porém, tem uma visão diferente e diz não se furtar em pedir exames complementares, por exemplo. “Às vezes, é pecando pelo excesso que se descobre algo maior. Já desaconselhei uma tartarectomia (retirada de tártaro) porque o exame cardíaco indicou uma doença no coração. É um procedimento simples que pode causar grande estrago se você não fizer um exame complementar. O veterinário precisa se proteger porque ele pode ser acusado de negligência”, pondera.
CRMV
O Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-BA) afirma que, dentro do próprio protocolo e do Código de Ética do Médico Veterinário, há formas diferentes de se fazer um atendimento. “Isso vai depender da forma de trabalho do profissional. Você tem aquele que investe mais em um exame físico e clínico mais apurado para tentar minimizar o número de exames solicitados. Mas tem aquele profissional que trabalha dentro do padrão: ‘vamos fazer tudo o que for preciso’. Então é muito difícil você separar isso”, afirma o presidente da Comissão de Saúde Pública do CRMV-BA, José Eduardo Ungar.
“Em uma clínica grande, com muitos atendimentos, é difícil o profissional saber avaliar quem pode pagar e quem não pode pagar pelos serviços. A coisa fica pouco personalizada”, observa. Sobre os custos, José Eduardo destaca a influência direta da carga de impostos nos serviços, que seria o principal aspecto no tripé que determina a formação de preços. Além dos impostos, ele diz que a qualificação da equipe que trabalha na clínica e a estrutura física da unidade são a base dos custos.
“Olha, essa parte de custos é um desafio. Você tem unidades com vários profissionais com especializações. O custo das consultas, dos procedimentos e dos exames tende a elevar. Tem a ver também com a estrutura física. Vamos dizer que você tem um Hospital Aliança e um hospital da periferia. Ambos podem atender bem, dentro da técnica profissional, mas com estruturas bem diferentes em termos de recursos e conforto, além de outros itens”, explica.
Impostos
Mas a questão política, tributária e financeira sobre os produtos destinados ao uso veterinário pesam ainda mais, diz o representante do CRMV. “É uma taxação gigantesca de impostos nesses produtos e nos materiais usados para diagnósticos, como equipamentos para exames. O que uma clínica paga à prefeitura, ao estado, ao CRMV, além do que paga de impostos sobre os empregados, torna os custos muito altos. Se isso tivesse um alívio com certeza ia refletir em uma queda de preços”, acredita.
“É por isso, por exemplo, que um antibiótico para uso animal tem um valor muito superior a um antibiótico humano. É uma taxação absurda de impostos. Às vezes vira piada: se você for comprar um shampoo especial para um cachorro pode pagar R$100. Uma pessoa vai na farmácia e compra um shampoo por R$ 20. Se você for na Argentina ou no Chile essa diferença é muito menor porque a taxação é diferente. Aqui é taxado como produto luxo. Parece que o animal não é da família”.
Categoria
Uma médica veterinária que não quis se identificar saiu em defesa da categoria. Ela diz que a realidade é bem diferente do que parece. Criticando os tutores e a política tributária sobre o mercado pet, a veterinária afirma que o tempo e investimento, inclusive financeiro, que o profissional dedica à sua formação é enorme. “A pressão que deveria existir em cima do governo recai sobre o veterinário. É o veterinário que tem que atender por amor. É o veterinário que tem que cobrar mais barato”.
Ela enumera uma série de gastos que os veterinários costumam ter com formações e equipamentos. “São seis anos que você não faz mais nada da vida a não ser estudar e gastar. Um livro de veterinária é cerca de R$ 800. As nossas especializações são caríssimas. Os bons congressos são quase R$ 1 mil. Só em um estetoscópio para auscultar o animal paga-se R$ 800 na hora que você entra na faculdade”.
Além da formação, diz a veterinária, os gastos das clínicas com equipamentos seriam altíssimo. “Se eu quiser um aparelho de raio-x na minha clínica eu pago R$ 160 mil. Se eu quiser um aparelho de ultrassom eu tenho que gastar R$ 40 mil. Pagamos muito imposto e o governo não oferece nada. Os medicamentos têm 60% de impostos”.
A veterinária também critica a postura de alguns tutores. “O que a gente vê no dia a dia são animais que, na maioria dos casos, são negligenciados e maltratados pelos seus tutores e que chegam pra gente quando já estão em uma situação muito delicada. A maioria das doenças que a gente atende se previne com vacina ou um antiparasitário”.
Muitos tutores, acredita, reclamam mesmo tendo dinheiro para pagar. “Na maioria das vezes são tutores que postam foto no exterior, que chegam com seus carros nas clínicas e não querem pagar R$ 80 em uma consulta. Aí você tá com um paciente que não sabe falar, não sabe onde dói e não tem a expressão de dor. O que você vai fazer? Proceder com exames. É um desafio muito grande. Na medicina humana ninguém questiona. Porque você tem o plano de saúde e o SUS para arcar”.
Fiscalização
Segundo o CRMV, existem hoje em Salvador 356 consultórios, 109 clínicas, 12 hospitais e 270 pet shops. O conselho não teria jurisprudência de fiscalizar taxas de exames ou abusos de cobranças. A não ser que chegue ao conselho alguma denúncia. O órgão age sob o código de ética da profissão, que proíbe, por exemplo, o anúncio de pacotes promocionais. Mas atendimentos gratuitos por simples caridade são permitidos.
O código de ética proíbe também a exploração financeira dos clientes. Da mesma forma, não se pode compensar em outro cliente o que descontou de um anterior. “Você pode fazer caridade, atender alguém que chegue em sua porta, mas não pode compensar em outros cobrando de forma abusiva”, explica José Eduardo Ungar.
O CRMV afirma que, segundo manda o código, em caso de risco de morte para o animal, o profissional é obrigado a atender. “Se for uma situação de emergência crítica que envolva risco de morte para o animal, o código de ética obriga você a dar o primeiro atendimento. Se você não fizer isso no limite, se você não estabilizar o animal, pode ser denunciado ao conselho. Isso é lei e obrigação do profissional”.
O representante do conselho afirma que chegam poucos casos de denúncias de abusos de preços ou tutores que se sentiram enganados. “Tem chegado mais casos de profissionais sem qualificação que estão fazendo procedimentos mais baratos. Isso é infração e vai responder”. José Eduardo defende que os gastos com os animais possam ser descontados no Imposto de Renda. Não em relação a serviços de pet shop, mas de saúde.
Para isso, ele recorre ao conceito da chamada saúde única, que trata a saúde humana e animal como uma coisa só, já que os animais podem transmitir zoonoses. O próprio coronavírus é um exemplo. “A saúde do animal reflete diretamente na saúde do ser humano. Fala-se tanto de saúde única, de zoonoses, e cadê a política social voltada para os animais? A única coisa que o governo dá hoje é vacina antirrábica”.
Cotas gratuitas
Há muitos casos de clínicas e veterinários que mantém cotas gratuitas de atendimento. Caso da Pet Central, do administrador Alan Sena. Desde 2015, o programa Adote Seu Amigo é voltado para quem adota animais em situação de rua ou de ONGs. Esses clientes têm 20% de desconto em serviços clínicos, compra de medicamentos, banho e tosa. Os descontos representam 10% do faturamento da clínica.
“Além disso, se a gente entender que o cliente realmente não tem como pagar, tentamos facilitar da melhor forma. Dinheiro é importante, mas é preciso ser ético. Se eu depender de explorar o tutor para ficar rico, prefiro ficar com o mesmo patamar de vida”, diz Alan. Algumas clínicas funcionam como a Pet Central. Mas, há relatos também sobre veterinários que reclamam das cotas sociais.
O dono de uma clínica ouvido pelo CORREIO disse que já discutiu algumas vezes com veterinários que não querem aceitar atender dessa maneira. “Eles acham que o trabalho deles acaba sendo desvalorizado. Eu explico que se trata de um trabalho social que faço questão de fazer, mas muitos não entendem. Sinto que estou fazendo a minha parte, mas isso também é um bom marketing social. A gente ajuda e se ajuda”, afirma.
“Muitos veterinários estão viciados em tirar dinheiro dos clientes sem se questionar se eles podem pagar por aquilo. Lá na minha clínica a ordem é passar o essencial para o tutor. Porque ele paga menos, sai satisfeito e volta. Isso funciona muito comigo. O serviço veterinário já é tão caro e o veterinário ainda vai receitar o que não é essencial?”, indaga. O mesmo empresário também aponta para um excesso de cirurgias realizadas. E não só isso. Ele denuncia ter sido vítima de veterinários cirurgiões que marcaram cirurgias fora de sua clínica para faturar mais.
“Tive médicos que fizeram isso e eu só descobri porque o tutor ia lá na clínica procurá-lo por algum motivo. Minha clínica era a porta de entrada, mas eles pegavam clientes nossos e faziam acertos pessoais. Esse meio cirúrgico é muito complicado. É uma guerra por cirurgia”. O dono da clínica também chama a atenção para o que ele qualifica como “fábrica de castração”. “Muitos veterinários, se pudessem, já castravam o animal na barriga da mãe”.
Medicamentos e diagnósticos
Os tutores reclamam também da insistência de alguns veterinários em receitar medicamentos mais caros, mesmo havendo a opção de um mais barato. Algumas marcas acabam sendo privilegiadas pelos médicos. Isso quando as alternativas não estão em medicamentos humanos. Acontece muito de o médico receitar um remédio veterinário quando há um humano muito mais barato.
A Yorkshire Felícia, de 8 anos, tem problemas de estômago e só toma o omeprazol humano. “Mas os médicos só passam o veterinário, que é muito mais caro. É o mesmo princípio ativo. A mesma coisa o antibiótico cefalexina. Eu compro o humano, mas eles só passam o veterinário”, afirma o tutor André*, que é médico.
Especialistas ouvidos pela reportagem, contudo, ressaltaram a importância de se respeitar o tratamento e usar, na maior parte dos casos, a versão veterinária e não humana. Os animais respondem de forma diferente em relação ao humano.
O uso de medicações humanas, que não foram prescritas e avaliadas diretamente por um médico veterinário, pode trazer resultados inesperados e ruins para os animais, diz a professora de Farmacologia e Terapêutica da Universidade Salvador (Unifacs), Ticianna Conceição de Vasconcelos.
Segundo a veterinária, é importante entender que as medicações aprovadas para uso humano foram produzidas e testadas para esta espécie e levam em consideração fatores como: metabolismo, fisiologia e anatomia.
“Além disso, processos como a farmacodinâmica (ação da droga no corpo) e farmacocinética (ação do corpo na droga) são muito diferentes no organismo animal. Um mesmo princípio ativo (fármaco) pode atuar de forma diferente entre humanos e animais e entre as espécies animais também. Ou seja, mesmo sendo um fármaco veterinário ele pode atuar diferente em cães e gatos, imagine se for um fármaco humano”, explica Ticianna. “Uma pergunta básica deve ser feita ao se prescrever uma medicação humana para um animal: Um paciente humano se sentiria seguro em utilizar uma medicação veterinária?”.
Mas são muitos os relatos de diagnósticos questionáveis e completamente diferentes de um veterinário para outro. Um exame de sangue mostrou que a splitz alemão de Francisco* estava apresentando o número de plaquetas muito baixo. O diagnóstico era de doença do carrapato. Foram receitados medicamentos para o tratamento. No dia seguinte, a cadela amanheceu vomitando e defecando sangue. “Eu dava os remédios. Quanto mais eu dava, mais ela vomitava. Liguei para a médica e ela disse para eu levar porque ia ter que internar. Não fui. Levei em outro médico”.
Na outra veterinária, ela olhou a cor da gengiva e a língua. “Fez o exame só por desencargo e disse: ‘suspenda os remédios por minha conta’”. A cachorra vomitava porque, além de os remédios serem desnecessários, a dose receitada era muito além da indicada para o peso do animal. “A minha conclusão era de que eles estavam adoecendo minha cachorra para internar. Tudo deles é doença do carrapato. É impressionante”.
Ainda há os casos em que os animais voltam das clínicas ou de um simples banho com sérios problemas. Após um banho e tosa, a cadela de Thaís* saiu do pet shop tremendo. “Achei que estava com medo ou algo assim”. Ao chegar em casa, ela não andava mais. “Voltei lá imediatamente e eles negaram de que havia acontecido algo. Me trataram como um cachorro, que deve ser bem tratado. Eu só fazia chorar de desespero”.
Sensibilizada com a situação, a atendente da clínica enviou uma mensagem para o cliente. “Ela escreveu dizendo que tinham derrubado minha cachorra do balcão e que tinha achado injusto negarem isso. Depois de ameaças de processo, a cachorrinha de Robson, hoje com 10 anos, foi tratada na clínica e ficou curada”.
Planos de saúde pet: vale a pena?
Os planos de saúde para animais são vistos por muitos tutores como uma boa alternativa para evitar os gastos excessivos com a saúde dos animais. Cada plano dispõe de variadas faixas de benefícios que podem incluir diferentes quantidades de consultas, exames, procedimentos e cirurgias por ano, além de vacinas.
O Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-BA) alerta que é preciso avaliar com calma cada custo benefício. “É preciso analisar com frieza, ter cuidado para ver exatamente o que cada plano cobre”, afirma o presidente da Comissão de Saúde Pública do CRMV-BA, José Eduardo Ungar. Abaixo estão os contatos de três planos de saúde pet que atuam em Salvador:
Vital Pet – 0800.591.0395 / 71 3671-1567
Plamev – 71 4007-2560 / 71-993516640
Pitty e Bella – 71 3241-4527 / 71 98778-7018